terça-feira, 25 de janeiro de 2011

INCONFIDÊNCIA

Eu poderia dá-lhe voz mas escolhi silenciá-la em minha narrativa. Como poderia abrir minhas páginas à ela? Afinal aquilo não era coisa que se faça. Enganar uma amiga, ludibriá-la fingindo motivações benéficas. Ela violou a minha confiança revelando meus segredos apenas para sustentar suas próprias teses. 
Agora vou deixá-la em silêncio, seu nome não irá aparecer aqui. Digo até que vou narrar como se ela não existisse. Quem? Não conheço. Não posso usar meus dedos em nenhuma palavra que se refira a ela. Mesmo esse "ela" não deveria estar aqui.
Você leitor, que arroga para si o poder da onisciência, poderia me acusar de evidenciar apenas meu ponto de vista. Poderia ainda alegar que as coisas não  se deram como eu penso. Mas, contra fato não há argumento. Me responde quem poderia negar que minha confissão inefável foi revelada? 
No futuro um desavisado virá me perguntar porque desenvolvo amizades  tão  superficiais. Sei que essa pergunta irá me envergonhar, mas basta voltar ao passado, que obviamente é o agora que estou vivendo, para me livrar de qualquer embaraço. Saberei porque fiz essa escolha. Amigos íntimos ou confidentes não estão mais em meus planos.

Norma de Souza Lopes


Um comentário:

  1. Oi, Norma! Eu acho que a intimidade desacompanhada do respeito mutuo, em vez de criar laços, rompe possibilidades quaisquer de relações. Meu abraço. Paz e bem.

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