quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

mulheres querem ser muitas coisas

mulheres querem ser muitas coisa
profissionais
mamães
poetas
putas

algumas, por zelo da educação
ou sob o impacto da força bruta
cultivam este corpo de matrona
para banir o desejo de ser puta

NSL
26/02/14

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

dedos longos das
sombras suaves 
em minha nuca

sentimentos 
assépticos

será o fim
dos tempos 
pálidos?

NSL
25/02/14
abro a pele
sedo o dorso
os músculos
costelas, e vejam
hoje meu peito
ainda inventa 
de latejar

NSL
25/02/14

minimalistas

tristezas são 
como quadros
para a poesia
não tão belos
quanto o amor
romântico
este, uma escultura
para a poesia
a poesia é uma casa
há quem a queira
sem adornos

NSL
25/02/14

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

empatia


gozar do amor 
sem sítio

que escorre adiante
em outros
amantes

NSL
24/02/14
os sedativos para a alma
não me deixam escrever 
nem um verso que preste

felicidade sintética 
ferida fechada
poesia ruim

NSL
24/02/14

domingo, 23 de fevereiro de 2014

fome de amor em fevereiro

despir as fantasias 
da fome de amor
escutá-la atentamente
como uma mãe ao seu bebê
e no calor de fevereiro
sentir frio com ela

nenhuma carícia cala essa fome

NSL
23/02/14

finitude

nos dias de meus epitáfios
quero música ao relento
ver o céu, a lua, as estrelas as cores da abóbada celeste
espero que eu tenha tempo

NSL
23/02/14

espera

enquanto espero por meu amado
sento-me nesta cama e calmamente
ergo o colarinho do penhoar
para conter os arrepios da
nuca aqui onde ele 
delicadamente irá beijar

dobro a espera
e lado a lado pouso
o toque, o beijo
que irei receber quando 
ele finalmente chegar

NSL
23/02/14


sábado, 22 de fevereiro de 2014

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

luta

amar-me foi luta sangrenta 
entre as ou três
que penso ser
lançada para fora 
e para dentro
continuamente
venci a labuta
e amamos-nos 
finalmente

NSL
19/02/14

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A paixão aos 40

não dá pra negar que o ardor apaixonado não me afete
submeter-me aos arroubos da paixão quase me derrete
mas com 40 a vida me diz _ Observe a ilusão!
e já não dá para me atirar com tanta coragem
já não me jogo com tanta coragem

aos 40 o amor é mais que uma tração no peito
aos 40 o amor deixa de ser uma explosão sem jeito
pensando um pouco sobre isso  outro dia 
entendi que no fim trata-se de voltar pra mim
no fim trata-se de voltar pra mim

NSL
18/02/14

o furo do meu coração é a morada do devir

coração vazado
furo do tamanho 
de palma de mão
não cabe ilusão
não cabe paixão

pobre coração
seu destino 
é abrigar fresta
para fazer morada
do que ainda virá

NSL
18/02/14

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

caçada de maracujás doces

um banho no poço e você me chama
"vamos colher maracujá doce?"
sabe-me sem nada sob o vestido
isso ainda te excita
solta o facão no chão
e mija entre as touceiras de bambu
na travessia do córrego você para
e me apoia para que meus pés 
não se finquem na lama
conhece meus limites
corta as ramas de vassoura rente ao chão

trinta anos se passam
sou sua menina em fuga pelo mato
você me suga, e rasga e morde como manga
rasgo folhas entre os dedos 
levanta, me segura pelas mãos
olha longo por traz dos pés de cana
"acho que não é época de maracujá doce"

NSL
17/02/17

domingo, 16 de fevereiro de 2014

disponível

mergulho
no outro
e nem sombra
da imagem
do salão
da minha
imaginação

de volta em mim
zango-me
vacilo romântico

mas, o que temer
afora a morte
estarei sempre aqui
disponível

16/02/14

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

viagem

entre a ida e a vinda
irrompe sempre
um medo de morte
talvez acorde cedo
e possa tocar o orvalho
sobre o pelo das folhas

não acredito na memória
lembro do que não aconteceu
e esqueço a verdade acontecida
não seria isso a morte?

NSL
14/02/14

Três imperdoáveis versos roubados



"que seja sua 
a última boca
que me beije"

amores não vividos
não merecem clemência

NSL
14/02/14

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

corredeiras

lá onde a água murmura
me esperam seixos negros de limo 
bromélias ensombreadas 
mordiscos  de piaba
e o doce travoso
do jamelão

NSL
13/02/14


poema retórico acerca das pedras

pedras habitam meus sonhos
me atiram pedras, me ferem
por acaso, é preciso dizer
pedras onde assento
e posso ver o por do sol

de onde vem essas pedras?
será por ser eu a louca de pedra
ou por estar louca de amor?
amores loucos não tem perdão
amor de louco também não?

NSL
13/02/14

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

irrespirável

o tempo escorre 
pelas paredes 
nenhuma janela 
é suficiente 

serei só eu 
a ver as grades
do cárcere?

NSL
12/02/14

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

cerca viva

com seu braços 
cerca galinheiros
o quintal
a casa
meu corpo
meus filhos

para seus braços 
o mundo todo é território 

NSL
11/02/14

canção para adormecer pássaros

canção para adormecer pássaros 
[norma de souza lopes]

pássaro rejeitado
instala espinho 
entre as asas

intacto 
o sonho

dorme




NSL
11/02/14

Volta pássara de mim, volta. Preciso respirar.

NSL
11/02/14
guardei três palavras por três anos
reservadas para um poema
dizem da diferença entre a força 
e a leveza das mudanças
amadureceram em mim

torno
tornar
ornar

NSL
11/02/14


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

balada do desamor

por tão pouco
voltar ao osso
da dor
querer o que eu não posso
tou fazendo tudo errado
nem me dar colo mais eu sei
eu já fiz esse caminho
já sei que vai dar em nada
no fim sou eu 
desamada outra vez

NSL
10/02/14


no salão iluminado da minha imaginação
toca música pop o tempo inteiro
ira, kid abelha, biquini, titãs, legião
você é o garoto de vinte anos e fez a escolha certa
defeitos, preconceitos nada disso a luz deixa ver
aqui no salão da minha imaginação
nós três fomos obrigados a ser feliz

NSL
10/02/14

alaranjado

pensava ter ganhado o gosto pelo alaranjado nos versos da adélia
"uma ocasião, meu pai pintou a casa toda de alaranjado brilhante"
mas ganhei antes, lavando o uniforme de gari de minha mãe


a vida real é mais poética

NSL
10/02/14

domingo, 9 de fevereiro de 2014

memória carece de sentidos

fotos antigas
juventude
magreza
beleza
semblante de tristeza

tivesse guardado
o vestido vermelho
exorcizava a memória
e toda a vontade dela
magia carece de sentidos
dois aos menos
NSL
09/02/14

emplastros

reconciliar
bater cílio
beijo borboleta

depois da ferida 
costurada
carrego mamãe
no colo
unto de emplasto
seus queimados
de tição

sentada como ela 
no chão
enxaguo as memórias 
na bacia de zinco

lembrar agora
só dálias
e joaninhas

NSL
09/02/14


imorais

as imorais são sempre as mais gostosas
na primeira noite racham conta, a cama
não perguntam se vamos ligar
não anseiam se c
asar
as imorais são sempre as mais gostosas


NSL
09/02/14

senhora soturna

a mim recomendam pessoas que choram
mesmo minha mãe, que anda chorando, recomendam
creio que seja é este meu modo de admirar a tristeza

em tempos de ditadura da felicidade, simulacro
em forma de imagens de filhotes, festas, casais felizes
há muito valor em se conhecer de perto a dor

carrego feliz a alcunha de senhora soturna

NSL
09/02/14

vacilo

vacilo entre 
um amor feinho
e um doidinho

me falta a manha
do amor próprio

NSL
09/02/14

sábado, 8 de fevereiro de 2014

mesmo às margens da morte é preciso brincar

queria era o desejo vigoroso que havia
no último chute na bola que eu dava
mesmo depois que a mãe gritava:
corre norma, a casa foi roubada!

NSL
08/02/14

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

qualquer um que se preze


"qualquer um que se preze"
isso dito pude pressentir
a impossibilidade

"qualquer um"
um qualquer é como um zé ninguém
um desprezível
não alguém que se preze
fosse "um que se preze" aí dava
mas não isso de "qualquer um que se preze"
isso é fala que já nasceu descartável

NSL
07/02/14

descosturada

nunca vi um homem rasgar-se publicamente 
no máximo alguns arroubos exaltados
mas rasgar-se nunca
homens preferem costuras íntimas

não que eu queira ser como os homens
obtusos, tão cheios de poder
mas eu bem queria deixar de ser 
essa nudez rasgada e atávica
para sempre descosturada

NSL
07/02/14

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

miudezas

eu sei colher o ramo da vassoura 
colher o caule com faca amolada
(do contrário ele não quebra)
fazer vassoura 
varrer o terreiro e arejar pro sol

sei fazer poesia 
sobre a beleza do todo dia
e todo dia sei ser medíocre 
e mesquinha, pessoinha feia

pois nenhuma poesia me salva 
da miudeza de ser humana

NSL
06/02/14

ritual

primeiro ele olha curioso e me verifica despida
um meio sorriso lateral indica interesse
sai do quarto para o banho
volta para o quarto após o banho
inicia um ritual lento e gradual no qual uma meia dúzia de cosméticos são utilizados
deita-se ao meu lado
inicia seu ciclo de movimentos de espera e recepção
até que a sua pulsão o obrigue a ocupar a mim, a cama, o quarto e todo o universo. 

NSL
06/02/14

feitiços

vontade louca 
de despir deste dia 
que me roubou o viço

NSL
06/02/14

das coisas e de sua serventia

do furo da falta pende o pêndulo do tempo
de nada vale tentar fazê-lo retornar
a falta é o espaço para o acontecimento

NSL
06/02/14

Invenção

felicidade inventada
entre os carros
um camponês dourado
movido à moedas
uma menina ri
da corrente 
atrás da escada 
rolante

abrir a porta
caso a sombra voltar
mas que esteja avisada
visitas demoradas 
não agradam

N. S. L
06/02/14

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Inteira

fio que segura
poro que libera
nem eira
nem beira
peneira


NSL
04/02/14


quando é preciso deixar de ser mãe do mundo

vício feroz este de
amar todo mundo 
mover-se tanto na direção 
de quem pensamos amar 
a ponto de chegar o tempo em que 
precisamos conversar com cada célula 
cada recôndito da alma para que eles 
deixem de desobedecer:
_ agora não mais vamos amar todo mundo!

amar assim nos deixa  vulneráveis
basta um pequeno movimento do outro
e a alma e corpo são tomados por frêmitos 
e passam a mover-se em sua direção 
e o que não falta são outros mal intencionados 
chega um dia que é preciso deixar de ser mãe do mundo

NSL
04/02/14

sábado, 1 de fevereiro de 2014

sentimentos como fenômenos da natureza

que sentimento pode ser um tsunami?
e um tornado, um furação ou uma tempestade?
e um vendaval de dúvidas sobre a alma cansada?
será a indiferença tão fria como a geada e a neve?
qual o efeito de uma chuva de beijos? e uma inundação?
que sentimentos será a estiagem e a  ressaca maritima?
quanto doí um ciclone, um maremoto,um terremoto ou uma nevasca?
e a paixão, será a paixão semelhante ao incêndio, às lava do vulcão ou às ondas de calor?


NSL
03/02/14

tocaia

saltou um
segredo-lince 
de detrás
da memória

nenhum sorriso
pilula colorida
o silenciou

o risco de 
sua unha
sangra 

o sangue
pinga
até agora

NSL
01/02/14



não confie na memória

segundo ato  
o corte no pé
sangrando
eu correndo da mãe
e gritando 
o algodão queimando
desesperada de pavor

corte a gente queima não, mãe
corte a gente costura

o primeiro ato todos se lembram
mãozinhas em cuia
joaninhas em fuga
na horta

(não confie na memória
observe o prenúncio do terceiro ato
os olhos do vizinho por detrás da cerca)

NSL
01/02/14

Eu  tento parar de desenterrar o passado mas o passado não para de me desenterrar...

tome tento

estar atenta
quando nada houver
a dizer
ali há
o que ouvir

NSL
01/02/14

hoje eu vou me apaixonar por mim

hoje eu vou me apaixonar por mim
por que tou pirigando
voltar ao passado
beijos molhados
sedução sem fim


hoje eu vou me apaixonar por mim
por que tou pirigando
patinar na tristeza
multidão de feridas
solidão sem fim

hoje eu vou me apaixonar por mim
por que tou pirigando
ser preterida
andar esquecida
repetir historia ruim

hoje eu vou me apaixonar por mim
por que tou pirigando
perder o compasso
sambar fora do passo
perder meus borzeguins 

hoje eu vou me apaixonar por mim
por que tou pirigando
meter cunha no tempo
voltar àquele momento
que me trouxe aqui

hoje eu vou me apaixonar por mim
por que tou pirigando
esquecer que minha história
é mais bonita que a do carlos
e que deve continuar assim

NSL
01/02/14