sábado, 31 de dezembro de 2016

Contra a bad que bate, e ela bate por causa do pensamento em bloco, coloco em um ciclo o tempo.
Um ano inteiro que vai começar e terminar.
Meses inteiros que vão começar e terminar.
Dias inteiros que vão começar e terminar.
Minutos, segundos, começar e terminar.
E quando acabar eu não vou estar lá.
Contra a bad que bate, coloco o tempo em ciclo <3 p="">

sábado, 17 de dezembro de 2016

cala a boca já morreu

ainda que este poema não atendesse aos cânones de universalidade da poesia brasileira contemporânea;

ainda  que ele fosse um soneto ruim, rimas pobres ou umas quadrinhas bem chinfrins;

ainda que ele só falasse de mim;

ainda que ele arrastasse  uma prosaica estranha;

ainda que eu o tatuasse suas letras disformes em minhas entranhas;

para desgosto dos poetas classistas ensaistas  puristas;

ele ainda seria um poema.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

gambiarra

ainda está invisível
mas alguém já está inventando
um solução inesperada e caótica
para por fim a esta dose de perplexidade
que eles nos administram todo dia

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

meu desejo

há um ano
e muitos meses
partiu o meu desejo
em sua direção
desde então
observo-o de longe

tanto tempo
e nada de notícias
do meu desejo

ou perdeu-se no caminho
até a sua cama
ou fez de você
sua nação

(inspirado no poema  "Hace dos años" de Maram al-Masri)

sutil

pensar em você
faz soar em mim
uma canção espessa
sons de selva

podia ser música
mas este poema 
é só uma carícia

sábado, 3 de dezembro de 2016

da arte de lamber as feridas


não sou dessas que aproveitam
a queda para voar
demoro a me levantar

invisível à lupa do google
permaneço na sala de espera
não fui asceta o suficiente
para vencer

de tão larga a ferida
que parece um sorriso
dou graças pela língua bífida
poemas e piadas 

tivesse chovido
eu ia pensar
"a tristeza é tão óbvia"

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

uma mulher

como quem se prepara
para um encontro
com o nunca será
uma mulher
(que às vezes sou eu)
escreve

escreve para encobrir
os lamentos da falta inominável
escreve para se reerguer
dos tombos dos degraus da vida

a falta é um cálculo na carótida
e dos tombos só restam
as cicatrizes nos joelhos

dia desses uma mulher
(que às vezes sou eu)
iniciará o caminho avesso
de arrancar as páginas

é tudo uma questão de tempo