domingo, 24 de junho de 2012

Ideinhas de uma tarde de domingo

esquecer tudinho
buscar emoções fresquinhas
depois do coice dado
o ego degenerado
isolada
para errar sozinha
não precisava mesmo de chapéu
aposto no estilo dos cabelos

Norma de Souza Lopes
Cansada de pensamentos encapsulados. Estou desejosa de prosa, pensamento nos quais eu possa tranquilamente me enredar, só descrevendo esses fluxos e refluxos de uma mente atormentada pela excessiva conciência da verdade das coisas. 
O que me vale é essa certeza de que a vida vinga em mim. Até minhas unhas bilham de vida. Meus cabelos, que tantos acusam como matéria morta, também tem vida. Minha pele é um grande orgão desejante, que respira vivacidade.  e embora minha boca esteja preferindo o silêncio, ela também vive. Meus pés, estomago, coração, todos anunciam vida.
Mesmo essa voz que fala dentro de mim na terceira pessoa, consolidando meu ego e orgulho e fazendo com que eu erre em minhas autoavaliações, essa voz enganadora também está tentando promover a vida em mim. Não que eu possa deixar que ela me enrede nos seus enganos, mas posso perdoá-la ao menos. Sei que ela nasceu em mim contra uma força interior que cheirava a morte.
Apesar de, às vezes, ainda perder tempo como lutas sem sentido, neste momento estou atenta ao que é importante. Ontem não pude evitar de brigar com quem tentava me dominar. E olha que já havia decidido não dialogar com dominadores. Hoje voltei a  atenção à vida e por isso posso celebrá-la. Posso também celebrar a extensão dessa vida presente em meus filhos e minha família. 
Entendo que a expressão da vida que mora em mim se dá principalmente no exercicio do bem, na criação literária, na fruição da arte e  da dança e  no riso solto e desamarrado de significantes.
Viva a vida!

sábado, 23 de junho de 2012

Xaxado

Cândido Protinari, Cangaceiro., óleo sobre tela. 


O pé se arrasta
no pó do chão
xá xá
O corpo enxada
sandália no chão
xá xá!

Será que dança
o corpo enxada
ou só trabalha
o pé no chão
xá xá?

E se essa enxada
virar espingarda
xá xá
será que dança
ou perde a cabeça
xá xá ?

Viver sem medo
da iniquidade
xá xá
A mão na luta
o pé não chão
xá xá!


Norma de Souza Lopes

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Moça passeando de bicicleta

Bi
ci
cleta
cicleta
dá li
cença
licença
sai da
frente
da frente

Bi
ci
cletando
cletando
flores
na cesta
na cesta

Bi
ci
clim
ciclim
moça no
celim
celim

Norma de Souza Lopes

Nota de falecimento

à noite
assombra a insonia
e notifica
em breve
todos vão saber
e hão de julgar
está morta a paixão

como corpo
de homem
jaz no quarto 
ao lado
compartimento 
fúnebre
trancado

o cadáver 
sucumbiu 
silencioso
mordido
envenenado
por uma inimiga
invisível, a confiança

NSL
20/06/12

sábado, 9 de junho de 2012

Há horas em que a poesia não me cabe
então sou prosa.

Norma de Souza Lopes

Pequeno teorema acerca da arte

Escultura "Teorema" de Bruno Giorgi


deixe-me explicar
não é para perguntar 
é para fruir
com seu sentidos
traduzir
e que vier
é o que é

Norma de Souza Lopes 
coproducer Lucas Mateus

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Vale a pena ver!

Petit Mort

Escultura Luxure de Manuel Cruz Prada


de que lado da fenda estar
repetir a exaustão
o feminino
furo cavidade
a semi fenda
nos seios
mamilos
pêlos
se tocar
conectada
com tudo
sacana
macia porosa
fogosa
aquela que inventa
e goza
com o falo do outro

Norma de Souza Lopes





Desintoxicando

Virou literatura  
a síndrome de abstinência
o cheiro de Christiane F 

mas sabe-se que o cheiro
que ela exalava não podia,
de maneira alguma, ser poético

A verdadeira vida
quando escrita
não fede como 
a verdadeira vida

Se é que existe  
verdadeira  vida




Norma de Souza Lopes

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Abre os olhos e acorda. Passa as mãos pela cama.
Ainda estou aqui.  
Olha longamente para mim, de um jeito que só estando na cama é possível. Sonda meus olhos.
Ainda há amor dentro deles?
Dá um suspiro. Vacila entre acordar e continuar dormindo. Junta seus pés aos meus.

E eu, que estou a dias sem achar nada que justifique continuar levando essa vidinha medíocre, esse continuo non sense dos atos e das horas, no exato momento que sinto o toque nos pés, me lembro que não precisa sentido. Basta estar viva.
Sinto ali, no meu pé, nas células tocadas do meu pé, a vida trabalhando. A mesma vida que espoca nos meus braços e pernas, dorso e entranhas, coração e cérebro.
E eu havia me esquecido.

Norma de Souza Lopes

terça-feira, 5 de junho de 2012

Diante das obras de Alberto Giacometti

Me faço permeável, me deixo mesmo atravessar por toda arte que me rodeia. E é essa porção de real resignificado que ainda me arranca do nada que paira sobre mim como uma sombra.

Norma de Souza Lopes