segunda-feira, 27 de maio de 2019

a vida não me deve nada

ser jovem
acordar cedo
no domingo
sem ter dormido
e ainda assim brilhar
emulando o sol

ser jovem
repleta de vida interior
sem a dor
dos silvos das balas
em meus ouvidos
dizendo
" a vida é só isso"


envelheço
como todos
ao meu redor
e só será
o fundo do poço
quando nada disso
importar

sábado, 25 de maio de 2019

casa é onde pouso meu coração

eu
que a todas
aprendi a chamar de casa
eu que tive
e ainda terei moradas
algumas, lares o
outras, habitação
ou mesmo pocilgas
sempre soube gozar
da volta ao lar
do desabar sobre o leito
como uma desforra a
esse mundo caduco

quinta-feira, 23 de maio de 2019

que não vem

que há por aí alguém
que me despiria só de olhar
e me faria  ferversó em tocar
é fato
não compreendo porém
porque se demora tanto
sabe acaso que perde tempo
e desperdiça o amor?

terça-feira, 21 de maio de 2019

pasodoble

Finalmente compreendo que não há coincidência nesse padrão de rejeição que experimento desde a infância. É uma escolha meticulosa pelo que não está pronto para acontecer, como alguém que cutuca uma ferida quase seca para que volte a sangrar. Há um gozo em mergulhar na tristeza, chorar diante do espelho, imaginar o próprio funeral. Como se só fosse possível exercer minha potencia a partir do banzo da autocomiseração. Que ganho haveria com o exercício deliberado da infelicidade? A felicidade já me ensinou alguma coisa? Suspeito que a alegria só me tira coisas, mesmo assim insisto. Não se escapa à tristeza do desamor sem transformar a rejeição em poesia. Transformamos desamor em metáfora como quando olhamos água condensada e vemos beleza no azul do firmamento ou quando miramos nuvens, o arco-íris. Também o fazemos com o grito de fome dos pássaros transformando-o em música. Um desperdício de infelicidade, posso dizer. Diante de mim um menino que aprendeu a amarrar os sapatos sorri, ainda não contaminado pelo medo de fracassar. Deixo a leveza disso fazer escorrer minhas sombras e revelar minhas transparências. Mais um passo nessa dança entre alegria e tristeza. Talvez essas pequenas coisas me devolvam o desejo pelos amores possíveis. Norma de Souza Lopes

quinta-feira, 16 de maio de 2019

sem raiz

Nesses tempos de negação de identidade pessoas como eu acabam ocupando um não-lugar, uma fronteira que os grupos ideológicos proíbem de ultrapassar (seja ele branco ou negro, rico ou pobre, central ou periférico, hétero ou gay, jovem ou velho, intelectual ou doente mental etc.) No começo doía porque eu pensava que não era nada, de lugar nenhum. Mas venho entendendo que quem escolhe isso sou eu. E eu escolho ser tudo. Ocupar todos os lugares com os quais me identifico. Tudo e todos que não sejam desumanizadores. E isso é libertador.

hoje não

acordar nesse mundo sem verdade não há respostas fáceis não entrar em pânico amar, mas não como uma mamífera não ser uma loba antes de cuidar da própria fome ser subversiva e escrever poemas que falem a verdade sem perder a imaginação em tempo de tanta mentira ser a subversão