quinta-feira, 22 de abril de 2010

Ajuste de contas


Sinto o rastro do gozo em meu corpo
meu sexo exala o ocre cheiro do prazer

Ao seu toque fogo e arrepio sobrepousa minha pele

Permaneço, por todo dia
com o desejo de rigesa entre minha pernas

A dor, essa inimiga feroz
agora é o tempero

Ela é a diferença que me excita
Dor, prazer, dor, prazer, dor, prazer

Uma dança cósmica de sensações
transcende o corpo
faz aura em meu redor

Por que eros?
Faço um ajuste de contas
Meu corpo me paga
Já não apaga
Criança gulosa
como
engulo
todo o prazer

Quando acabar
ficará em mim
o estado
a memória
recurso para meus desertos


Norma de Souza Lopes

Não quero dormir

Não pense que me seguram
sou enguia escorregadia

Sou borboleta
a lagarta jaz
cadáver
aguardando atos fúnebres

Posso dormir mas não quero
Eu quero as cores da alvorada
fazendo milagre em mim

O outro que me quer tola
a esse dou minha paga
deixa que te curo

Me dispo de meus passos
Não me venha com "converta-te"
Sou convertida à vida


E Deus, o Criador,
esse me assoprou
Mordida da Gata

Aos borbotões
ejaculam de mim
raiva, desejo e medo

Posso controlá-los?
ao menos sei
posso sentí-los

E meu filho
que me quer mãe
a tocá-lo
ressente-se
da mordida da gata
que afasta o filhote

Escuta meu filho
quanto plantei
em mim
essa raiva
esse desejo
esse medo
você ainda
não estava na história

Chora não meu filho
a enchente passa
no seu lugar
ficarão águas tranquilas

Norma de Souza Lopes

Moça

Essa moça me olha
de onde vem tanta raiva?

Essa moça não aceita
o timbre da voz dos seus
quer ser sozinha

Vai moça, vai ser você
Posso te seguir a distância?
anônima

Moça, se precisar
estou aqui
pode voltar
que eu não conto

Seu choro
eu vou guardar
para devolver
quando a vergonha dele passar
escolhe ser feliz moça

Do futuro só posso
dizer a verdade
no fim, só ficará a sua escolha

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O ALVO DA ÁGUIA- FLECHA


Sobre a cidade
nós águias
Planavamos alto
vôo insólito
(tu me disses que águias voam sós)
oniricamente mirava-te
águia-flecha
lançada por Deus
Á visão da flecha
meu corpo alvo
sonhou amores
Nos altos lugares da cidade
vi você menino
amável
tocável
em repouso
O Espírito
aquele que sonda meus sonhos
sabendo de mim
erótica
retumbou
Deixa-o
ele é Minha flecha
e seu alvo
a santidade

Cartas do Psicoclaustro

Escrita em Outubro de 2007
Parei hoje para pensar no que daria esse meu intercâmbio com o psicoclaustro e tive idéias ilárias mas ao mesmo tempo preocupantes.
Pensei numa volta triunfante ao Ensino Médio Noturno anunciando assim minha volta:
__ Olha, pessoal, vocês venceram no primeiro round, mas eu não vou compactuar com nada que não queira. Passei pela psiquiatria e não estranhei nada, porque a maioria dos doentes que encontrei lá, já havia conhecidos semelhantes aqui.
__ Quero afirmar que não faço conselho de classe sem representante de turma, não aceito escola sem grêmio, não aceito recuperação sem aulas extras, não aceito subir aula, não aceito vídeo de coisa nenhuma, não aceito registro de reclamação contra professor sem a presença de reclamado e reclamante. E se eu tiver algo mais a não aceitar acrescento depois.
__ Para dizer a verdade não acredito nessa escola, nessas salas com esse número de alunos, não acredito na fragmentação do conteúdo, no programa-de-aula-de-tráz-da-orelha, nesse salário de m..., nesses recursos mixos, nessa embromação legal que vem nos memorando, ofícios, pareceres, relatórios e resoluções. Não acredito em nada disso. Gostaria de usar os últimos e miseráveis centavos de meu salário para pagar uma escavadeira e derrubar todas a escolas.
gostaria de gritar num megafone ou em cadeia nacional que o espaço, o ensino e a proposta para a educação pública é uma droga e que deveríamos destruir todas as escolas e passar a usar a cidade para alfabetizar matematicamente, geograficamente, historicamente e linguisticamente.
Sei que seria calada, pois por muito menos passa-se meses em hospitais psiquiatricos. Por isso não falo, continuo engolindo gravetos. Volto par ao psicoclaustro por lá mesmo quando se é hipócrita, há a relevância do laudo médico.


Pois é

Abril de 2010

Depois disso eu:
tive alta,
voltei para a escola,
exonerei de um cargo,
mas continuo engulindo gravetos
(ocasionalmente eu os vomito)

Crônicas

Em 2007, durante uma internação, escrevi aproximadamente 60 crônicas mas nunca tive coragem de publicá-las. No entanto essas produções ficam como que pulsando na estante e eu percebi que não posso mais guardá-las.
É necessário disser que elas são fruto de um momento de intenso sofrimento mental e por isso trazem em si algo daquela dor.
Estarei postando aqui essas crônicas e agradeço quaisquer comentários que você visitante possa fazer.