quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Amor, objeto indireto


O destino me segredou ao pé do ouvido
que não poderei te amar sem me destruir
como não sou dada a ignorar profecias
busco saída para meu amor não ruir


Pedi pra Deus que é Soberano
para chegar bem perto de você
e te amar incondicionalmente.
(enganei o destino com prazer)


Norma de Souza Lopes

sábado, 16 de outubro de 2010

De volta aos anos oitenta


Tenho verdadeiro fascínio por tudo que diz respeito à década de 80. Nasci em 71 e nos anos oitenta vivi boa parte de minha adolescência. Não que minha adolescência tenha sido algo esplêndido, mas as referências dessa década só despertam em minha memória aquilo que me trouxe alegria.

Suspeito que grande parte de minhas memórias não passam de  fantasias acerca do que realmente foi. Talvez nada foi tão maravilhoso e dourado como me lembro. Sei que passei grande parte da minha adolescência sentindo o que ainda sinto hoje - autocomiseração e medo. A diferença eram as possibilidades do vir a ser. Havia em mim uma aura de que eu poderia ser, viver e sentir tudo. Era como se nada pudesse me impedir de existir em plenitude.


Rever músicas, roupas, filmes,  brinquedos, propagandas aberturas de filme e novela me lembram que eu era jovem e bela e com inúmeras possibilidades na vida. Posso afirmar que algumas até se realizaram. 


Era pouco afeita aos serviços domésticos e minha mãe me advertia sobre isso, preocupada com meus futuros matrimônios. Ela duvidava até se eu conseguiria me casar. Naquela época eu afirmava com convicção que no meu futuro eu teria alguém para cuidar de mim e de minha casa. Realmente. Sempre tive alguém mais hábil que eu para cuidar dos afazeres domésticos e as profecias de tia solteirona não se realizaram.

Afirmava que me graduaria e sempre recebia de minha mãe a observação zombeteira - Sonhar não paga. Isso não me limitou e me fez relizar o sonho de graduar e pós-graduar em uma ciência que amo muito- a educação.

Apesar de sempre colher caquinhos da minha mémoria oitentista, foi às vésperas de completar quarenta anos que entendi minha paixão pela década de minha adolescência. Percebi que desejava mais que pedaços, queria juntar todas as referências. Comprei dúzias de Cd's de pop rock nacional e internacional, baixei horas de videos do You Tube com cenas de desenhos animados, aberturas de novelas, aberturas de seriado, interpretações de músicas da época, e anúncios  de todos os produtos inesquecíveis daqueles anos. 

Cada imagem que eu resgatava me trazia uma nova lembrança e uma nova emoção. Posso afirmar com tranquilidade que me emocionei mais agora revendo a propaganda do "meu primeiro sultien" do que me emocionei na época quando o assisti pela primeira vez. Dancei como uma louca assistindo ao DVD de Cindi Lauper na França. Ao som de "Girls Just Wanna Have Fun" chorei percebendo que a garota que queria se divertir havia se transformado em uma matrona de familia, cheia de responsabilidades.

Me encontro com pessoas na rua que me chamam de "menina veneno". Fazem alusão à garota de quinta série que dançava músicas do Richie durante o recreio e que não sabia que dar autógrafos eram armadilhas divertidas dos veteranos da oitava série. A sedução venenosa deu espaço uma mulher adulta e saudosa que acredita que dançar é a expressão da alma.


Nada me impede de dançar incansalvemente o "Karma Cameleon" do Culture Club. Nada me impede de adolescer inteiramente, de mudar de cores e humores como um camaleão sem sofrer em busca de uma identidade única. Não preciso mais ser igual a minha mãe, meu pastor, meu padre, meu professor ou minha amiga descolada. Posso ser eu mesma usando cabelos selvagem, calças bags e cores cítricas. Posso meditar hoje e me adocicar amanhã com as músicas de Beto Barbosa. 


Apesar da mídia está ajudando muito, trazendo de volta os anos oitenta com sua música e sua moda, meus filhos é que tem sido meus melhores companheiros nessa viagem. Me divirto  adolescendo ao lado deles. Quando ouço qualquer música antiga em novelas ou filme atuais sussurro - É da década de oitenta. Mais do que apenas lembrar, posso tranquilizá-los acerca do medo do ridículo tão comum à adolescência. Ridículo é não viver em plenitude. 

Hoje uma espinha não é maior que meu rosto e eu não visto nada que me impeça de respirar. Como um refluxo de águas que voltam preenchendo espaços vazios no leito do rio, posso voltar a tudo que foi maravilhoso nos anos oitenta. E vivo o que não tinha tempo, grana ou liberdade para viver. Com certeza essa experiência é melhor, mais vasta e mais feliz. 


Me alegro ao pensar que ao final terei minhas memórias dos anos oitenta somadas ao que estou vivendo nesses anos dez, mais especificamente o divertido ano de 2010. Me alegro mais ainda ao saber que tenho companheiros de viagem.


Norma de Souza Lopes

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Urbes natural


É no mínimo curiosa as forma que a natureza encontra para se manter nas cidades. Não que ela detenha a força do concreto. Este segue engolindo a tudo e a todos. O concreto das casa e dos edifícios parece avançar até sobre o espírito dos citadinos. No entanto a  natureza não desiste.
Na alma daqueles que deixaram o interior, ela se revela nos fundos das casas, nas minúsculas hortas plantadas em latas de tinta recicladas. O morador  envergonhado por ter deixado a roça plantada dentro de si, planta cebolinhas, coentros e salsinhas e esconde nos fundos da casa.
No muros vemos às vezes samambaias brotando por entre o consistente cimento. As arvores urbanas resistem bravamente, mesmo quando massacradas pela fumaça preta dos veículos.
O mais triste é ver que talvez a última reminiscência da natureza permaneça apenas nos nomes dos bairros. O que foi feito da cachoeirinha, da lagoinha, da lagoa, do beija-flor, das águas claras, da garças, dos coqueiros, do belmonte, do jatobá, dos buritis e de tantas outras paisagens naturais de Belo Horizonte que deram nomes aos bairros? Esses espaços desnaturados deixaram órfãos os amantes da natureza
Creio que nem seus moradores cogitam a existência dessas paisagens.


Norma de Souza Lopes
O que me emociana vira verso.
Norma de Souza Lopes

domingo, 10 de outubro de 2010

Ruminando


Circular por Ribeirão por uma hora sem que se veja uma vaca é impossível. Ao dirigir pelas novíssimas ruas asfaltadas presenciamos as bovinas pastando nas avenidas sanitárias e caminhando pelos jardins ou várzeas municipais. 
As vacas são tão comuns nessa cidade que às vezes miramos as esculturas de concreto às portas dos açougues e quase sempre achamos que se trata de ruminantes vivas.
Penso que essa presença evoca nos moradores as mais diversas reflexões, bem ao gosto do freguês. Há aqueles que ansiosos com o progresso atribuem à presença das vacas nas ruas ao atraso político do distrito. Outros  encaram as mugintes como invasoras do recém-conquistado espaço urbanizado. Os carnívoros visualizam as mimosas salivado e conjecturando o esplêndido churrasco que poderiam experimentar.
A mim as vacas nevenses evocam outros pensamentos. Ao ver o balançar ritmados de suas ancas pelas ruas sou invadida por lembranças bucólicas de minha infância na Paraíba - São José das Piranhas para ser mais específica.
O município que cito possui esse  nome não por que tinha mulheres de vida fácil  (ou difícil, como queira) entre seus moradores, mas por ter possuído no passado vastos açudes de piranhas - o peixe.
Durante minha estadia na terra de José Lins do Rego pude experimentar uma relação muito próxima com esses animais. O espaço da rua de terra era  das  crianças e de toda sorte de animais. Cachorros, galinhas, bodes, vacas e infantes conviviam e brincavam de maneira  pacífica e feliz.
Ainda não  se falava em doenças com o frenesi que discutimos hoje e talvez por isso pudemos chegar tão perto desses animais domesticados.
Atualmente estamos limitando nosso convívio a uma pequena dúzia de pessoas. Nem de longe a relação é mais pacifica.

Norma de Souza Lopes

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Licença poética para perder


No fim do caminho havia uma perda  
Havia uma perda no fim  do caminho  
Havia uma perda  
No fim  do caminho havia uma perda. 




Nunca me esquecerei desse episódio  
Na vida de minha alma tão desesperada.  
Nunca me esquecerei que no fim  do caminho  
Havia  uma perda
Havia  uma perda no fim  do caminho  
No fim  do caminho havia  uma perda.


Norma de Souza Lopes

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Gladiadores


A luta pelo poder
Eis que vejo começar
diante de mim cada lance
desvela jogo peculiar


Me enervam essas lutas
me roubam a poesia
tramas, palavras, conquistas
meu lirismo se esvazia


Esses que dançam a cadencia  
da política e do poder
muito em breve estarão sem brilho
outros soberanos irão ascender 


A César o que é de César
porém, morte aos mecenas
ao poeta o que é do poeta
cantar vidas mais amenas


Norma de Souza Lopes
TPM


A vida não vale a pena
quero em tudo por um fim
o que fazer com essa avalanche
de hormônios que correm em mim

Não tenho nada que valha
nada vejo que apeteça
se não paro e respiro
quase perco a cabeça

Homens, mulheres, crianças
são pra mim um grande fardo
e a palavra mal ouvida
fere o peito como dardo

Só me  resta esperar
que de sangue eu me esvazie
todo o mundo irá brilhar
caso ocorra que eu procrie

Se eu porventura  não procriar
reiniciam meus tormentos
em vinte e alguns dias voltará
e eu serei toda lamentos


Temo muito o climatério
mas anseio sua chegada
creio que fechando esse ciclo
serei mais equilibrada


Norma de Souza Lopes

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Nasce uma heroína

Tenho desejado com toda força de minha alma contar uma bela história. Não uma comum, dessas que vejo todos os dias no cinema, mas uma história única e comovente que possa mover as emoções de quem porventura ler minhas escrituras.
Não irei desperdiçar bites com palavras medíocres. Quisera escrever minha própria história, mas creio que os leitores contemporâneos não são muito afeitos a dramalhões. Quero descrever heroínas que vençam batalhas e vivam vitoriosas trajetórias. Sobre isso vale escrever.
Algo me faz crer que minha heroína já nasceu. Em meu sonhos gerei e dei à luz  uma menininha interessante. As vezes  nutris, às vezes agonizante, a guria de meus sonhos demonstra força, amor e coragem. Durmo sempre esperando que ela volte que me anuncie sua história. Quero fazê-la crescer e viver meus sonhos infantis de liberdade. Quem sabe, como Robinson Crusoé, prover sua existência da criatividade e da natureza, numa ilha deserta ou em uma floresta.
Enquanto ela não cresce sigo poetizando, que é meu jeito simples de responder à violência do mundo.

Norma de Souza Lopes

domingo, 3 de outubro de 2010

Para minha manzinha


Garota de humor fantástico 
e imenso senso de justiça 
bonita no porte e na fala 
mas nem um pouco submissa  


Sua coragem me assombra 
sua alegria me encanta 
Te quero sempre por perto 
sua força me agiganta


Que esse aniversário seja 
a coroa de uma época 
em que os louros de sua luta 
outros sucessos evoca  


Norma de Souza Lopes

sábado, 2 de outubro de 2010

INDELÉVEL

Sussurram, nada valho
nada deixarei de valor.
Sou a ínfima parte 
desse grandioso Universo.

Pensamento avassalador:
então atravessarei a existência
sem deixar marcas?
(não posso com isso)

O que me cura
saber que sou única
e que minha existência
é marca indelével nessa Terra.

Ser sem valor é quem nasceu
pra não fazer história
ou para apagar meus ensaios.

Norma de Souza Lopes