quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

É uma droga saber que só me coube uma escolha, eu queria todas. Daqui há uma 20 horas essa febre terá passado. Só os astros mudam de lugar. Eu continuarei dando 25 passos para fora de casa para o trabalho e 25 passos para dentro de casa. Mas eu aceito esses jogos, ninguém poderá me acusar de não saber brincar. 
Voltemos no tempo, antes de eu ser mãe. Voltemos mais, voltemos ao ponto em que eu só pensava em malhação e pegação. Eu ainda sinto falta da dor ardente que é se apaixonar. Mas confesso que era uma droga, nunca foi melhor que hoje. Parecia bom, não fosse os caras que eu mais me amarrava me usando e jogando fora como um traste.  
Nenhuma figura se encaixa. Aqueles caras só existem na minha cabeça. Meu ideal era uma tolice. Os homens que atravessaram meu caminho  queriam sexo e eu queria me sentir segura. Hoje só me servem para escrever poesia. A segurança que tenho ninguém me deu,  eu mesma construí. 
Teve aquele, o primeiro de todos, aquele que me espancou até eu entender que ele não era bom para meu filho. Teve o outro, o sedutor. Não me amava de verdade. Fez sentir-me uma princesa, como fazia e faz a todas as outras. Ainda me faz tremer, mas é um espectro. 
Você pode estar se perguntando: mas é disso que se trata, relações? Digo sim, é disso que se trata. Mesmo em fase terminal, nossas maiores questões são as relações. 
Mas não me engano, isso não é literatura. É uma merda de confissão bêbada. Literatura de verdade é capaz de ficcionalizar-se. Seria literatura se eu concluísse dizendo que sou feliz para sempre com meus filhos criados, meu amante de tempo integral e meu emprego público. Mas isso eu não vou dizer. Não sei jogar tanto assim. 

NSL
31/12/14

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Festejos são a oportunidade de estar só e não dizer uma palavra. Dar lugar a essas tristezas que me trazem as retrospectivas. Justo agora que aprendi a ouvir os pensamento e não temer a viscosidade do que por aí chamam verdade, descubro que não prestei atenção ao caminho. 
Querer tão pouco está me parecendo uma ofensa à vida. Escolhi um homem para me amar, meus filhos cresceram e amam como se fossem os últimos. Aprendi que daqui a cinco anos nada terá importância mas fazia mais sentido quando eu era o centro de tudo
Tenho medo. O que vai ficar quando eu perder a poesia?

NSL
30/12/14

domingo, 21 de dezembro de 2014

dança da chuva

dança da chuva
[norma de souza lopes]

arrancar os dedos lenhosos
de meus pés descalços
fincados sobre o solo
raízes no cotidiano dor

do outro lado  
transmutar-me pedra
mínimo seixo
1, 2, 3, 4, 5
voltar


subir a montanha
do quênia
ou o grand canyon
sutil
quase infantil
sussurrar ao céu
o corte na mão
o custo da alma
esperar não
é qualquer dor
que traz a chuva

NSL
21/12/14

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

toda poesia é feminina

poesia universal 
que não fosse
poesia mulherzinha
não diria  
" viver não é necessário"
por que vida
é fêmea no cio

poesia universal 

que não fosse
poesia mulherzinha
não diria 
"minha terra tem palmeiras"
pois terra é fêmea
e gera a sua maneira

poesia universal 

que não fosse
poesia mulherzinha
não diria 
"ora direis, ouvir estrelas"
que estrelas são fêmeas
e chocas

poesia universal 

que não fosse
poesia mulherzinha
não diria 
"as almas são incomunicáveis"
que alma é anima
figura feminina

poesia universal 
que não fosse
poesia mulherzinha
não diria 
"sou um homem comum "
que comum a todos os homens 
é brotar do ventre que germina
NSL
09/12/14

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

desadornos

há quem me assopre
silenciosamente
e há quem
parecendo contente
com minhas conquistas
me ordene que pinte os cabelos
e as unhas
como a meter-me uma cunha
na alma

o silencio me entende
sou índia
só me pinto pra guerra
e pra dança

entendo o despeito
mas sou madeira de lei
a árvore do Diovani
de poesia
me enfeito

NSL
05/12/14





quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

dos outros 
espero mil sopros
para dispersar a sombra
pousada em meus ombros

pois o olho 
movimento convexo
só pra fora é que olha

fundo poço
adaga no plexo
autocomiseração

e o amor 
é essa carpa prateada
que não para em minhas mãos

NSL
03/12/14

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

tivesse corrido

tivesse corrido 
de mãos dadas contigo
a primeira vez 
que entrei no mar
garanto 
tinha aprendido
a me amar

jurei nunca mais passar 
pela sua rua
mas que droga
é o melhor lugar da cidade
para ver a lua

(vou perder muita poesia
no dia que esse amor cicatrizar)


NSL
02/12/14