quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

De profundis

Porque gosto de falar contigo, Gwinever? Nossa conversa é essa prosa corrida que emerge do recôndito, sem nenhuma porosidade que impeça minha alma assomar. Contigo posso reclamar desses seres de meu mundo que exploram minha vulnerabilidade para gozar o poder de emoldurar em mim suas próprias crenças.
Muito tenho chorado por ver que mais e mais me submeto, Gwenever. O medo de estar errada na vida me faz seguir conselhos com os quais não concordo. Uma lagartixinha tão lhana como tu acaso já sofreu por se achar um ser ímpar,  tentar  impressionar e ver nisso extrema falta de identidade? Aposto que não. Você nasceu lagartixa e segue lagartixando pela vida de maneira singular. Algum réptil menor te obrigaria a ser mais ou menos lagartixa, a obedecer a sua na natureza lagartixal? Balança a cabeça, né. É, eu sei que não.
Ontem me elogiaram camaleoa. Chorei o louvor como censura. Acaso quero ser esse versátil? Quero gritar Gwinever, minha marca nesse mundo. Essa sou eu, não  roubo as cores de ninguém! Mas a verdade e que eu mudo de opinião ou conduta cada vez que essa ou aquela me parece mais coerente. O problema Gwenever,  é que até o caos tem coerência, tudo é coerente a sua maneira. E eu acabo não achando a minha coerência, aquilo que faça sentido, seja real e verdadeiro para mim, mesmo que não o seja para o outro.
Só de falar contigo sobre isso me sinto melhor, Gwenever. É como se, assumindo minha vulnerabilidade,pudesse desejar ser eu mesma um dia, me tornar mais potente. Você me dá isso sua lagartixa lampeira. Se intromete e eu fortaleço.

Norma de Souza de Souza Lopes

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