quinta-feira, 29 de novembro de 2012

(C)atar

debulhar
a imagem
das coisas
tecer
destecer 
o real
e ao final
nem um grão
para contar 
a história

N. S. L

segunda-feira, 26 de novembro de 2012


Eu aqui perseguindo e chegando sempre, sempre, sempre no mesmo lugar.
A realidade é inapreensível  e o sentido que eu dou ao que eu vivo não expressa a realidade. 
Esse sentido é nada mas é tudo que eu tenho. 
Trágico!

N. S. L
26/11/12

domingo, 25 de novembro de 2012

Camilho do meio

Em sala de aula sou um design da educação, projetando o ensinar-aprender. E como todo ser que projeta, sempre paro para me perguntar qual o destino do que estou ajudando a produzir. 
Sei onde estou agora. Não devo continuar vítima de uma estrutura que exige de mim formar alunos adequados ao universo mercadoilógico imposto pelo capitalismo. É imprescindível também achar o caminho do meio entre a hipersensibilidade e a insensibilidade. 
É desse ponto que eu preciso avançar para produzir uma educação mais libertadora.
Ao meu redor tenho visto de tudo: aqueles que aderiram a insensibilidade para sobreviver, aqueles que jogaram a toalha devido a hipersensibilidade, e aqueles que como eu andam aos solavancos tentando o caminho do meio. Há ainda o pior exemplo de todos: aqueles que se diziam libertários e em função disso ascenderam ao poder e lá, na cadeira dos que decidem e planejam, aderiram ao discurso majoritário.
Isso não se dá apenas no micro universo onde circulo. São reações padrão à força dos ideais gerados pela era do consumo. 
Aqueles que não são capazes de ver o fundo vivem às margens fazendo tudo para obter o tal Camaro Amarelo. Nesse "fazer tudo" cabe trabalhar exaustivamente, roubar, contrabandear, trapacear e até matar.
Diante da impossibilidade de encher a boca grande do consumo alguns  se afogam em alopáticos, bebidas ou drogas ou perseguem o ideal  adultescente  de ser jovem para sempre.
Ainda preciso dizer daquelas vozes dissonantes que vem se ajuntado e comendo pelas beiradas o rabo da sereia capitalista. Poetas, artistas, designs, filósofos, antropólogos, sociólogos. Eles, às vezes próximos, às vezes distantes dos marginais que eu citei acima, ao seu modo sussurram a pergunta reveladora: o que realmente é preciso para ser humano? 
Eu sempre soube que onde eu estou hoje, como professora, talvez eu seja a única voz dissonante a qual meus alunos tem acesso. O trabalho solitário me exaure mas alguém precisa fazê-lo. Tenho tentado me ajuntar a outras vozes para diminuir o cansaço. 
Estamos concluindo o ano escolar e sei que em sua maioria, meus alunos irão apresentar progresso esperado pelo sistema. Me encarreguei de revelar a eles os segredos das tais provas externas. Mas gastei mais de um terço desse ano ensinando-os a pensar em coisas como:
-é descabido trabalhar dois meses para pagar um tênis e não comer frutas todos dia;
- o que eu visto não garante que eu tenha valor;
- precisamos de palavras que movam nosso corpo e nossa alma e nem sempre  as canções mais vendidas fazem isso;
- olhar as cores laranja-arroxeadas do céu pode ser melhor que frequentar o point mais badalado - e é gratuito;
- a poesia pode ser instrumento para o amor, para o lamento e até mesmo para a revolução;
- podemos aprender pelo simples prazer, não precisa ter função;
- mesmo que não se queira ser escritor isso não deve acontecer por incompetência;
- a TV dita padrões de beleza mas belo é ser humano;
Tenho ouvido de meus alunos algumas palavras que apontam para o resultado. Essas palavras vem de alunos que me pedem para contar mais histórias, dizer mais poesias. Ouvem em silêncio minhas elucubrações e depois e demonstram ter se apropriado delas.
Encerro com um aviso aos navegantes: estou de pé e meu lugar ainda é a sala de aula. Quando for sair aviso.

sábado, 24 de novembro de 2012

Inventário dos desejos sublimados de uma intelectual metida a besta

- uma mensagem automotiva como presente de aniversário;
- um churrasco para 20 pessoas em volta da piscina de de plástico;
- um curso de 30 horas sobre a coreografia rebolation;
- um telefonema erótico no meio do dia de trabalho;
- ingresso para um show da banda Calypso;
- uma coleção de 10 livros da Barbara Cartland;
- Usar, de dia, um longo com estampa de onça  (talvez naquele aniversário às margens da piscininha).

N. S. L
24/11/12

domingo, 18 de novembro de 2012

flagrante

Concluo meus poemas sempre com as mãos trêmulas e com um "Puta merda com isso é bom!" 
É preciso  dias, às vezes meses, para achar seus defeitos.
E eu sempre os encontro quando lanço sobre minha poesia um olhar flagrante,  fantasiado de olhar do outro. 
Então vem a vergonha. 
Não uma vergonha tímida de criança pequena atrás de perna de mãe. 
Mas uma  vergonha avassaladora de quem saiu de casa exultante com suas vestes novas e foi parada de repente por um adversário a quem se desejaria impressionar.
A vergonha que se sente sempre que o dissimulado arranca um pequeno quadrado ali perto do colarinho, e dispara, com voz em falsete:
_ Você esqueceu-se de arrancar a etiqueta.

N. S. L
18/11/12

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

E se o que nos mantém vivos for o desejo, essa entidade irrealizável?
Deseja matar a alma de um romântico? Esfregue as mãos bem sujas desse olho sobre o real que não funciona, todos os dias, em sua cara. 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012


Sempre me admiro dessas biografias, essas entrevistas em que os poetas afirmam que escreviam desde a infância. Tão precoces...
Será que "o pequeno elefantinho" escrito na quarta-série também conta?

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Sem Nobel

quem sabe amanhã
depois que o metal 
percorrer seu sangue
você possa olhar sem enfastio
para o mundo que te cerca
sacudir a preguiça de viver
e ser simples 
como uma florzinha serralheira

então poderá dizer a verdade 
sobre ter desejado apressar a morte
no entanto
não espere Nobel 
ou aventura no Templo da Perdição
você  deve continuar 
que morrer é para os bons
e apesar do tédio
viver pode ser uma delícia

N. S. L. 
12/11/12


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

carta para ser ignorada

trincar os dentes
só faz doer a mandíbula
a vida
continua correndo
moleque atrás de pipa



nem pornografia
nem poesia
arranca a estaca
instalada no plexo
fode-se e morre-se 
bastante por aqui
o amor dói pra burro


N. S. L. 
12/11/12