domingo, 24 de janeiro de 2016

Outono de 71

tudo do que digo é de ouvir falar
e de tanto rumor tomo por verdade
era fim de abril de 71
mamãe, inconsciente, deixou-me
entregue à solidão e ao frio

a despeito da eclâmpsia e do fórceps
tornei me hábil na ciência de respirar
e de manter-me viva
invento alegrias de água

mas desisto silenciosamente
armando um detonador sob as carnes
o lento suicídio a base de álcool
drogas de farmácia e de padaria

não culpem mamãe, são escolhas
mas todo dia, hoje em especial
não queria ser tão só
nem sentir tanto frio

Nenhum comentário:

Postar um comentário