terça-feira, 15 de novembro de 2016

Para Carolina Reis


Há vinte cinco anos atrás eu costumava correr com naturalidade para o trabalho e para a escola todos os dias como se essa fosse a única vida possível. Tinha uma cabeleira vermelha e selvagem quase na cintura, arrancava todos os meus pelos de maneira dolorosa e  vestia calças jeans us top com as quais eu mal conseguia respirar e me sentia horrorosa. Cultivava namoros duvidosos, nunca tinha grana para sair, fumava um maço de cigarros por dia e achava que seria doméstica para sempre. Ainda não tinha escrito nem uma poesia, apesar de ter lido muitos livros.
Há cinco anos mantenho minha cabeleira platinada acima dos ombros, deixei de fumar, já publiquei um livro solo, tenho poemas publicados em inúmeras revistas e antologias e estou prestes a lançar outro livro. Não visto mais roupas apertadas, uso maravilhosos vestidos soltos, ensino liberdade, poesia e literatura onde passo, saio muitas vezes por semana e só amo quem é capaz de me amar como sou. Graduei, pós-graduei e apesar da minha tristeza atávica me sinto a mulher mais amada do mundo. E se te conto isso é para mostrar que dentro de uma vida cabe uma imensidão. Mulheres morrem dentro de nós todos os dias, mas as que renascem são infinitamente mais felizes. Cabe uma miríade de vidas dentro de uma mulher. 

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