sexta-feira, 3 de agosto de 2018

esquecer

Há que se esquecer. Esquecer é a saúde da mente. Mas há o que não se esqueçe, o que permanece como uma pequena guerrilha. Assim é para mim a infância que me lembro. Por mais que eu tenha aprendido a odiar a autocomiseração ela está aqui, guardada, indelével na forma de silêncios é a sombras,  iluminadas apenas pelo o resplendor das explosões.
Ás vezes alguma imagem atravessa o meu caminho: uma violência, uma negligência, uma fome. Lembro por exemplo de minha avó, que durante um tempo cuidou de nós para minha mãe trabalhar. Uma voz rascante e ácida  e uma vontade  férrea  de punição. As crianças da vizinhança a chamavam de bruxa. Não me lembro de vê-la sorrir, nem sei se tinha dentes. Imagens como essas me lançam no chão. Não sei onde conseguir raízes para evitar as quedas.

Um comentário:

  1. Esses mergulhos na sua memória trazem tantas memórias de minhas próprias quedas. Lembro-me da minha mãe orando para expulsar dela mesma o espírito de autocomiseração. E eu tentava também expulsá-lo de mim mesmo...

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