quinta-feira, 9 de abril de 2015

De mudança mais uma vez. E eu, que reclamava da casa ser meio torta, já vinha me acostumado com suas poucas janelas, suas portas discretas. 

Três anos e eu nunca mudei nenhum móvel de lugar.

Mais uma vez. Mais uma vez. Mais uma vez.

No entanto aqui dentro nada mudou. Conservo minha estrutura bovina, pesada, atada ao chão. Um esforço absurdo para não me mover, desejo inútil de aprisionar o tempo, o espaço. 

Tão diferente das borboletas. Seu trabalho primoroso em constituir asas coloridas, crisálidas, voos tão perfeitos quanto danças. 

E viver apenas um dia!

Borboletas batem asas até em nossas línguas. Escuta esse papilio, belbellita do latim, Babele do ídiche, papallona do catalão, mariposa do castelhano, pinpilinpauxa do basco, papillon do francês, farfalla do italiano, butterfly do inglês, Schmetterling do alemão, Bábotschka do russo, kelebek do turco, parpar do hebraico, petalouda do grego, kipepeo do suaíli, Kaba-kaba do filipino, rama-rama do malay, fluture do romeno, pillangó do húngaro, liblikas do estoniano, panapaná do tupi.
Achava curioso que elas posassem às minha fotografias com tanta naturalidade. Me assustei ao saber que borboletas me procuravam perto do fim, como se quisessem me contar acerca do efêmero. 
Espero que me perdoem, bruxas voadoras. Fui arrancada da pupa antes da hora. Mas não sofram. O amor me salvou. Se vivo pesada é por amor. Tanto que vibro diante de qualquer amor, os meus e os alheios. Estuo numa frequência absurda. 
Pensando nisso não parece tão sério me mudar. O amor não muda. Ele vai ser sempre isso, uma lagarta, que mesmo estando pronta, renunciou às asas. 


NSL

08/04/15



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