segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

a poesia é um emoji de lágrima

caminho entre as pedras 

e a água, e o lodo

e ouço os gritos

como na piada

do japonês 

vai morrer

vi outro dia 

o joão da mata

e o seu bando

correndo perigo 

na cachoeira

e pareciam tão vivos

sabia que quase

morri um tanto de vezes?

viver é escolher 

o risco 

escolho um 

chamado 

francisco

de cinco anos 

porque ele me abraça

sem máscara

e me ama 

sem culpa 

e se me julga

é por não ter

feito florir o cravo

da última vez

que veio me ver 

pensei: entrei pra história 

que bom que escolhi

ficar viva pra ser

a vovó das plantas

é triste assistir

o desfile diário

mil partidas

minha amiga espírita conta

segredos do além

ela diz: norma

quanto mais medo

e mais apego 

mais triste o degredo

há dias que sou

o pato na copa

da árvore batendo

papo com a morte

francisco pergunta

desde a primeira frase

é agora que

o pato morre?

e por fim

e a tulipa?

ele ainda não sabe

há o risco

e o tributo

e de repente parece

que faz sentido

o eterno retorno

e a holotúria

da szymborska

morrer só um pouco

só um pouco









Um comentário:

  1. Uma vez eu li que a poesia é uma forma de morrer um pouco, um ensaio de morte, pra gente poder se preparar melhor para morrer.
    Por muito tempo, nossa sociedade co seguiu deixar a morte lá fora, nos cemitérios, necrotérios, nos hospitais e asilos.
    De repente, a morte rompe essas barreiras e passa a deitar com a gente, na cama, virada pra nós, com a cabeça apoiada no cotovelo, dizendo: "E aí, como vai?"

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