sábado, 13 de agosto de 2011

RANDÔMICO

Andei sumida Gwenever. Não falava contigo porque estava apaixonada por meu trabalho. Que se respeite essa paixão. Mas me afastar dele me fez perceber o quanto é alienante.Tenho rejeitado o retorno.
Quero mais é ficar por aqui, mergulhada em meu ninho, apenas observando seus passeios randômicos de lagartixa pelas paredes. Desfrutar da solidão em que me recrio a partir de meus pensamentos.
Meus pensamentos são você, Gwenever. Deslizam pela latitude da paredes desse mundo: a ciência, a psicologia, a filosofia e tantos outros exercícios inflexíveis do mundo plano. Mas, como você, eles não perdem a raiz malgaxe. O que talvez explique essa racionalidade reversa, esse casamento mestiço da razão com o primitivo, com a dança e a com a arte.
O que me faz temer o retorno ao trabalho é aquela em quem eu me torno quando tantos outros se imiscuem em mim. Eu, que na liberdade do meu abrigo posso ser ao avesso, transparente, hermética ou irreconhecível, na presença dos outros me vejo obrigada a ser uma só. O coletivo exige coerência. Mas ser uma só me faz sofrer. 
Por isso tenho amado essa solidão em que apenas você me frequenta, Gwenever. Você não é violenta, não parasita minha consciência. Apenas percorre comigo o caminhos ilimitados das posiblidades dos sentidos presentes nas palavras. 
Não quero voltar!
Me ajuda, Gwen?

Norma de Souza Lopes
 

Um comentário:

  1. "O coletivo exige coerência". Norma, com esta frase eu fiquei com um nó aqui na cabeça. rsrs. Vai render assunto em palavra escrita. Muito bom! Abração e ótima semana.

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