sábado, 16 de outubro de 2010

De volta aos anos oitenta


Tenho verdadeiro fascínio por tudo que diz respeito à década de 80. Nasci em 71 e nos anos oitenta vivi boa parte de minha adolescência. Não que minha adolescência tenha sido algo esplêndido, mas as referências dessa década só despertam em minha memória aquilo que me trouxe alegria.

Suspeito que grande parte de minhas memórias não passam de  fantasias acerca do que realmente foi. Talvez nada foi tão maravilhoso e dourado como me lembro. Sei que passei grande parte da minha adolescência sentindo o que ainda sinto hoje - autocomiseração e medo. A diferença eram as possibilidades do vir a ser. Havia em mim uma aura de que eu poderia ser, viver e sentir tudo. Era como se nada pudesse me impedir de existir em plenitude.


Rever músicas, roupas, filmes,  brinquedos, propagandas aberturas de filme e novela me lembram que eu era jovem e bela e com inúmeras possibilidades na vida. Posso afirmar que algumas até se realizaram. 


Era pouco afeita aos serviços domésticos e minha mãe me advertia sobre isso, preocupada com meus futuros matrimônios. Ela duvidava até se eu conseguiria me casar. Naquela época eu afirmava com convicção que no meu futuro eu teria alguém para cuidar de mim e de minha casa. Realmente. Sempre tive alguém mais hábil que eu para cuidar dos afazeres domésticos e as profecias de tia solteirona não se realizaram.

Afirmava que me graduaria e sempre recebia de minha mãe a observação zombeteira - Sonhar não paga. Isso não me limitou e me fez relizar o sonho de graduar e pós-graduar em uma ciência que amo muito- a educação.

Apesar de sempre colher caquinhos da minha mémoria oitentista, foi às vésperas de completar quarenta anos que entendi minha paixão pela década de minha adolescência. Percebi que desejava mais que pedaços, queria juntar todas as referências. Comprei dúzias de Cd's de pop rock nacional e internacional, baixei horas de videos do You Tube com cenas de desenhos animados, aberturas de novelas, aberturas de seriado, interpretações de músicas da época, e anúncios  de todos os produtos inesquecíveis daqueles anos. 

Cada imagem que eu resgatava me trazia uma nova lembrança e uma nova emoção. Posso afirmar com tranquilidade que me emocionei mais agora revendo a propaganda do "meu primeiro sultien" do que me emocionei na época quando o assisti pela primeira vez. Dancei como uma louca assistindo ao DVD de Cindi Lauper na França. Ao som de "Girls Just Wanna Have Fun" chorei percebendo que a garota que queria se divertir havia se transformado em uma matrona de familia, cheia de responsabilidades.

Me encontro com pessoas na rua que me chamam de "menina veneno". Fazem alusão à garota de quinta série que dançava músicas do Richie durante o recreio e que não sabia que dar autógrafos eram armadilhas divertidas dos veteranos da oitava série. A sedução venenosa deu espaço uma mulher adulta e saudosa que acredita que dançar é a expressão da alma.


Nada me impede de dançar incansalvemente o "Karma Cameleon" do Culture Club. Nada me impede de adolescer inteiramente, de mudar de cores e humores como um camaleão sem sofrer em busca de uma identidade única. Não preciso mais ser igual a minha mãe, meu pastor, meu padre, meu professor ou minha amiga descolada. Posso ser eu mesma usando cabelos selvagem, calças bags e cores cítricas. Posso meditar hoje e me adocicar amanhã com as músicas de Beto Barbosa. 


Apesar da mídia está ajudando muito, trazendo de volta os anos oitenta com sua música e sua moda, meus filhos é que tem sido meus melhores companheiros nessa viagem. Me divirto  adolescendo ao lado deles. Quando ouço qualquer música antiga em novelas ou filme atuais sussurro - É da década de oitenta. Mais do que apenas lembrar, posso tranquilizá-los acerca do medo do ridículo tão comum à adolescência. Ridículo é não viver em plenitude. 

Hoje uma espinha não é maior que meu rosto e eu não visto nada que me impeça de respirar. Como um refluxo de águas que voltam preenchendo espaços vazios no leito do rio, posso voltar a tudo que foi maravilhoso nos anos oitenta. E vivo o que não tinha tempo, grana ou liberdade para viver. Com certeza essa experiência é melhor, mais vasta e mais feliz. 


Me alegro ao pensar que ao final terei minhas memórias dos anos oitenta somadas ao que estou vivendo nesses anos dez, mais especificamente o divertido ano de 2010. Me alegro mais ainda ao saber que tenho companheiros de viagem.


Norma de Souza Lopes

Um comentário:

  1. E tem mesmo, Norma, muitos companheiros. Eu , apesar de um tantinho mais velho, na década de oitenta (talvez a mais significativa de minha vida), foi o período de minha independência total e caminho para uma maturidade em meio aos trancos e barrancos de uma economia cheia de incertezas. Tornei-me pai aos 24 anos, em 86 e vivia entre a alegria da paternidade e a insegurança no emprego. Superei tudo com muita dor (em poucos momentos) e com muita alegria e aprendizados na mior parte dos anos. Muito boas estas suas lembranças. Abraços. Paz e bem.

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