Concluí ontem a leitura de Trabalhos de Amor Perdidos do Jorge Furtado. Mais um da Coleção Devorando Shakespeare.
O livro é surpreendente.
A narrativa flutua na voz de Robin, um bolsista da fundação Roger Dod e na voz de Gavil e Karen, filho e mãe canadenses que trocam e-mails.
O enredo trata da história de jovens de todo o mundo que foram premiados para projetar suas idéias de popularização das obras de Shakespeare.
A história abre espaço até para o 11 de setembro, quando a musa de Robin, uma bolsista da nobreza jordaniana precisa fugir dos EUA devido ao ataque.
A todo momento eu voltava na foto de Jorge furtado no início do livro. O cara escreveu tudo aquilo com quarenta e poucos anos. E viajou no tema.
Aprendi mais sobre Shakespeare nesse livro do que em todos os meus trinta anos de leitura pregressa.
Definitivamente, eu estou muito atrasada!
Oras bolas, mas Furtado fez "Ilha das Flores" com trinta. Era de se esperar.
Apesar da riqueza do tema, saltou aos meus olhos a citação que Furtado faz de Wystan Hugh Auden, um poeta inglês naturalizado nos Estados Unidos.
Assim Auden define Iago, o vilão de Otelo:
"O piadista de mau gosto deprecia suas vítimas, mas ao mesmo tempo as inveja por que os desejos delas, por infantis e equivocados que sejam, são reais para elas, enquanto o piadista carece de desejo que possa considerar próprio. Seu objetivo, transformar a todos em vítimas, torna a sua existência totalmente dependente da existência dos outros; quando está só, é uma nulidade. A descrição de si mesmo que faz Iago, Não sou o que sou, é correta, e é uma negação do Sou o que sou, a afirmação de Deus." (AUDEN in El Mundo de Shakespeare).
Me lembrei já ter falado sobre esse perfil psicológico. Escrevi sobre isso duas vezes. A primeira foi em Desabono, em setembro de 2010:
O que há com essa gente
que só vê pior no outro
que imensa graça nisso?
Somos todos imperfeitos
mas a busca de defeitos
dissimula o remisso.
Pode ser que não aguente
se olhar com transparência
e se esconda no sorriso.
Oculta a exata maldade
destila e desgosta inveja
maledicente e griso
Vive sempre a camuflar
sua tosca existência
em algazarra e banzé.
Porém a felicidade
mora na realidade
de ser sempre o que se é.
A segunda foi em dezembro de 2010 quando esbocei o caráter psicológico de Magnum, um personagem do pequeno conto Rejeição.
Não que eu me compare mas é interessante descobrir que minha poesia coaduna com a do poeta inglês.
Ainda bem que Jorge Furtado me levou a conhecê-lo.
No mais recomendo com louvor a leitura de Trabalhos de Amor Perdidos do Jorge Furtado.
Norma de Souza Lopes
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