domingo, 7 de julho de 2019

Hoje eu só queria contar pra elas como eu acho tolo tudo isso de que não se pode amar o que é  igual.
Queria  dizer que as acho lindas, minhas meninas, tão únicas assim, unidas nesse devagar que é aprender a amar sem se desrespeitar.
Queria contar que assisti aquela ópera do Léo Delibes, Lakmé, e que durante o dueto das flores eu só conseguia pensar nelas, minha rosa, meu jasmim. Tão únicas e tão lindas...
https://youtu.be/Zm4HWjnwdWk

sábado, 6 de julho de 2019

Estou organizando meus poemas para enviar a uma editora de BH que se abriu para inéditos e venho sentindo uma sensação desconfortável diante do que eu percebi como repetição temática. Por mais que eu tente inovar a nova seleção, assim como nos dois primeiros livros, esse gira sempre em torno da falta de sentido da vida  e a inevitabilidade da morte, da sensação   de isolamento em relação a todo mundo, e da minha incapacidade de escapar ao gozo que mata e realizar meus desejos com  liberdade.
Gosto muito de uma frase da Frida Kahlo que diz:

"Eu pinto autorretratos porque fico sozinha com muita frequência, porque sou a pessoa que conheço melhor"

Uso essa frase para justificar o fato da maior parte da minha poesia ser sobre mim mesma mas confesso que às vezes esse exercício narcisista me incomoda. Gostaria de ser capaz de poetizar acerca do universo que me rodeia. 
No entanto compreendo meu exercício como um esforço de sobrevivência. Não é fácil aceitar que estamos mergulhados no caos do acaso (essa aliteração foi o Samuel Medina que me deu) e que a vida não faz sentido nenhum. Tampouco é tranquilo admitir que, com quase cinquenta anos estou mais próxima do dia que vou morrer. Pode parecer engraçado mas, com exceção dos momentos em que eu estava muito ferrada da cabeça, eu cheguei até aqui fingindo que tinha todo tempo do mundo. 
Quanto ao isolamento, esse é irreparável. Sofro de um desejo continuo de só esperimentar relações de afirmação, amor, colo. Isso no entanto conflita com as minhas contradições, incongruências e vicssitudes. Meus familiares, amigos e colegas de trabalho não são obrigados a ignorar a minha incompetência para o conflito e a adversidade e minha excessiva tolerância as formas de existir. Outro agravante são os centros de poder dos grupos. No geral cada grupo possui seu guru/lider em volta do qual os outros membros orbitam. Não sou boa com isso. Não tenho competência para liderar ou para ocupar esse lugar mas também não tenho disposição para orbitar apenas. Diante disso o isolamento deveria ser uma saída confortável. Mas advinhem, a solidão me adoece. É uma circunstância insolúvel, assim como as outras que já citei, sobre vida e morte.
O terceiro item dessa lista, a tríade gozo/desejo/liberdade vocês já podem imaginar. O gozo existe em minha vida como um sintoma, a compulsividade: comer, beber comprar são válvulas que diminuem a ansiedade que todas as outras coisas me provocam. Separar isso do que é real desejo, vontade de potência, tem me custado a vida toda. Tem bem pouco tempo que eu aprendi a me desvencilhar da culpa para escolher ser livre e realmente atender os meus desejos. E isso ainda é bem incipiente e acontece justamente quanto eu escrevo poesia. É nela que eu peneiro, que eu tiro de dentro, que eu observo. A poesia tem sido para mim um simulacro de companhia, de vida, de sentido e de liberdade. E é a poesia que tem me ajudado a suportar a eminência da morte.
Isso não é um pedido de desculpas. É só um aviso. Continuo a mesma nesse potencial terceiro livro.