terça-feira, 28 de agosto de 2012


Estou aqui pensando em como os sistemas institucionais do nosso tempo se apropriam do que é revolucionário para mascarar (ou matar)  uma renovação.

Indiscutível o quanto a obra de Guimarães Rosa é revolucionária no que diz respeito a sua proposta para a vida. Mas vejam só: no final da década de noventa (1998 a 2002) a Secretaria do Estado da Educação de Minas Gerais apresentou uma proposta chamada Escola Sagarana, nos moldes dos pensamentos rosiano, ou seja, uma proposta de educação para a vida, que concebe a formação da pessoa em uma outra escola, outro paradigma de homem, de sociedade, de mundo, cujos fundamentos não deveriam ser mais a dominação, a separatividade, a linearidade. 
O que deveria dar base à essa lógica seria a compreensão da sociedade, do mundo como uma grande teia, tecida por todos os viventes, onde cada um, na sua singularidade contribui para essa grande construção, fundamentados no respeito, na cooperação, na liberdade e na solidariedade.

A proposta não mudou nada. As escolas continuam exatamente como sempre foram, um lugar de linearidade, sequencialidade, ordenamento, do mérito, do individualismo e outros conservadorismo. Mas o discurso "sagarana" segue  afinadíssimo. 

Acho que a única coisa boa foi a semente que essa proposta plantou em mim. Sigo de dentro, como a raposa do garoto espartano, comendo as vísceras desse sistema doente. Ao toque de Guimarães.

Com Guimarães Rosa, um retorno precioso ao grego e seu physis kruptesthai philei, Manoel António de Castro resgata o sentido original do ser e o nada. Por mais de três  horas o professor foi desvelando uma a uma as diversas palavras que constituem o ser sendo. Dentre elas as que mais ouvi foram:  entre, sendo, , possibilidade, verter, gestar e mais preciosa para mim: o vazio. Não aquele vazio malévolo que trazia comigo, mas um vazio novo, aquele onde irão morar todas as possibilidades. Aguardo ansiosa pela aula de hoje.

Techos 

Seguindo Leibniz, se nada é sem causa, desde que se conheça a causa, é possível conhecer toda e qualquer coisa. As pesquisas no mundo inteiro são guiadas pelo princípio do fundamento. E é em torno dele que se estruturam todas as Universidades. Daí predominar o educar enquanto instruir,onde se perde a dobra. Para reintroduzi-la é necessário lutar por um educar poético-originário. Segundo o princípio do não-fundamento, há uma outra possibilidade no educar, porque implica um outro saber. Que saber é esse?  Reforçando este saber e nos lançando em suas trilhas, Guimarães Rosa disse no conto “O espelho”: Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo. Se o nada acontece e acontece como milagreele pode fundar, mas jamais ser compreendido ou conceituado/explicado como um fundamento, como uma causa. Os pensadores medievais já diziam: Ex nihilo nihil fit (do nada nada se faz). Mas todo milagre diz da presença de um poder não-causal, não redutível a uma explicação causal. É um poder certamente mais poderoso (se isso fosse possível dizer), porque irredutível ao domínio racional, causal. Aí não há causa, porque é o nada acontecendo. Este é o poder do pensar. É impossível querer reduzir toda a realidade à possibilidade de determiná-la através de um fundamento. Pergunto: Qual é a causa do silencio? Qual o fundamento do não-saber? Podemos lembrar Édipo, a personagem-questão do humano de sempre em sua dobra. Achando que podia saber tudo e determinar o seu destino, descobre no final que, em vez de vencê-lo não o cumprindo, o cumprira. Soube que nada sabia e arranca os olhos, o sinal para o grego do não-saber por não poder ver, de onde provém todo saber. Não podemos confundir ver com olhar. Quantas vezes olhamos e não vemos! O ver que sabe é prévio a todo olhar, assim como o que somos é prévio ao estar sendo. Só por já sermos é que podemos estar sendo. O saber do pensar é o desafio poético de chegar a ser o que já desde sempre nos foi dado para sermos: nosso próprio. Édipo ao arrancar os olhos demonstra que sabe que não sabe por mais que parecesse saber. É o eclodir do saber do pensar. Trata-se de um saber sem fundamento.

Me fez lembrar de uma ocasião em que perguntei para Ricardo Aleixo para que é educar. 
A resposta: 
_ Para nada.

http://travessiapoetica.blogspot.com.br/

domingo, 26 de agosto de 2012

Skateland - Juventude Perdida





Melancólica. Acabei de ver Skateland de John Hughes. A década era a minha e guardada a distancia Brasil/EUA eram minhas as questões postas no filme. Me divertir, continuar a curtir ou crescer , ser "alguém na vida". A tradução ruim "juventude perdida" me pôs a fazer outra reflexão: nós que não nos perdemos também estamos no vermelho. A juventude se foi.
Ao fim do filme perguntei a minha filha de 15 o que ela gostaria de ter feito aos 40.
_ Carreira, casa, filho, marido (com mais glamour, ela sustenta)
Foi exatamente o que fizemos. então porque este gosto amargo na boca?

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Muito boa para hoje essa fala do Professor Antonio Jardim UFRJ


http://www.youtube.com/watch?v=TI1SEnZJ8FA

Problemas da prática docente (modelo conservador)

1º- sequencialidade, sucessividade e  serialidade do entendimento de como o conhecimento se processa
2ª privilegio da excessão a média  o da média a excessão (excessão entendia como individualidade, média é o credencia pra o conhecimento)
3ª privilégio dado a documentação e ao suportes (informação) e não a que este suporta (pensamento cuidado)
4ª privilégio dado ao que nos chega pela percepção visual em relação as demais possibilidades
5ª crença ingênua na separação entre teoria e prática
6ª privilégio dado a linguagem entendia como representação em relação a linguagem entendida como disposição do real (ser) para o ser (real)
7ª preocupação no exercício do controle a diferença da dinâmica


Superado tudo isso o coração pode até não ser um "coração máquina" . Em referencia ao texto de Tsekung (http://catatau.wordpress.com/2009/01/15/o-homem-que-desdenhava-a-maquina/

domingo, 19 de agosto de 2012

Ando experimentando, mais que antes, a alegria de olhar dentro dos olhos da verdade sobre mim. E tenho doído menos.
Um pequeno insigth que reverberou no sonho da semana passada, a busca por outros sentidos. Acredito que a voz seja uma extensão de todos os sentidos, mas em especial o sentido do tato. Depois da oficina de ontem essa ideia ficou se repetindo em mim. Compreendi que a voz me toca e toca o outro na relação. Amplia minha ideia sobre o corpo. A visão, por exemplo, é um sentido de distancia. Vejo de lo
nge e posso sentir isso de longe, mas a voz, assim como a pele são instrumentos de proximidade. Serve para aproximar. Li hoje num estudo de Ricardo Aleixo a palavra "ouver". Ouver também é um sentido suscitado pela voz. Nem sei por que isso me alegra tanto.
Ou talvez eu saiba.
Mesmo que eu envelheça ou perca o vigor e a flexibilidade, ainda terei a minha voz.

domingo, 12 de agosto de 2012

Falta de pai

A falta de meu pai significou de maneira excelente a falta.
Era falta concreta, com nome e tudo.
Mas suportar o vazio da falta depois de sua volta foi duro.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

No sonho eu estava diante dos alunos e pedia para que eles identificassem outros sentidos. Mas não havia texto para significar, eu estava falando de coisas como tato, audição, olfato, paladar, visão.
Um aluno perguntava:
_ sôra, o calor é um sentido?
O sonho terminou antes de eu responder.
Tou aqui com essa pergunta. Não estaria na hora de aprender/ensinar acerca de sentidos  para além dos textos, presentes e vividos no corpo?
Como ser educadora nessa escola esquizofrênica que precisa domesticar o corpo nos espaços para garantir a própria insensibilidade?
Como lidar com esses corpos que pupulam na sala de aula, por não se saber ou não conhecer o próprio sentir.
Meu inconsciente acusa. Nenhuma anestesia será suficiente dessa vez.

Norma de Souza Lopes

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Nunca participei de um concursos literários. Esbarro sempre na cláusula "inéditos" dos tais.
Agora estou guardando poemas. Já tinha vontade de guardar. Só que não resistia às postagens instantâneas.

Sazonal


Não colha verde a poesia
um poema precisa amadurecer
para adoçar
29/10/10

e

Sem fleugma


Eu que ensinei a contar cores no céu
preciso agora de mãos
que me atravessem a rua
pra ver a lua

Pouca paciência para esperar
que floresça uma buganvília
como esperar que amadureça uma poesia?
15/05/12

Apesar da irritação que me dá em estar cedendo a um esquema alheio a minha vontade, confesso que é  outra experiência. Observo e que cada poesia  vem de um jeito. Algumas até doem se eu mexer. Outras a cada vez que abro mudo. Talvez isso seja bom.

Norma de Souza Lopes

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Essa semana me perguntaram se eu poderia colocar uma faixa de vereador, filho de um antigo prefeito, na porta de minha casa.
Pedi um dia para pensar.
O tal prefeito foi alguém que, em seu momento, forneceu algumas respostas decentes para a educação, área de meu interesse. Vai que o filho tenha a mesma veia?
No dia seguinte tomei minha decisão. Não!
Me lembrei de meu papel como educadora comunitária, e o que esse trabalho representa. Politica para mim é aquela que o entregador de verdura faz quando nos pede para distribuir 200 quilos de legumes todo domingo. Ou mesmo aqueles oficineiros que, voluntariamente ensinam futebol, fotografia, dança, artesanato todo fim de semana, sem faltar. É essas são as políticas que minha comunidade precisa, por não ter acesso aos seus direitos supostamente garantidos pela Constituição.
Se esses meus companheiros de luta forem candidatos algum dia, talvez eu pense em vestir sua camisa, ou até mesmo pendurar uma faixa sua em minha casa.
O resto ainda é apenas pano para a fachada.
 
Norma de Souza Lopes

Caem as bandeiras

O que fazer quando as bandeiras tombam diante do poder? Aqueles que reivindicavam para si o papel de esquerda entrarão para a história como direita galopante. Sacrificam crianças em prol da domesticação de corpos e espaços, ou seja, a ordem acima de tudo.
Me cansei de ser o galo de briga, mas me embrulha o estômago o silêncio conivente. Penso no que pode essa palavra lâmina em minhas mãos contra a retaliação silenciosa e cotidiana. Ainda não encontrei resposta.
Há que se pensar formas. Por hora mantenho minha firme convicção de não dialogar com quem quer me dominar. Não me esquecendo que a sedução é a pior forma de dominação.
Que pese sobre nós a "carga" horária. É fácil esquecer que nem sempre a sala de aula é o melhor lugar para o conhecimento.
Norma de Souza Lopes

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Resenha "Um sujeito sem qualidades de Jean-Clade R. Alpen

Ontem a pedida dos alunos do primeiro ciclo foi o livro "Um sujeito sem qualidades" de Jean- Claude R. Alpen. O livro atraiu os pequenos por causa do pêlo (uma espécie de camurça na capa). Quando perguntei sobre a capa sugeria a primeira resposta foi engraçada: " O nome do monstro ' é sujeito' professora?"
Mas a personagem não tem nada de monstro. Trata-se da história da trajetória de Arnaldo, um artista em busca do que realmente quer. Mas contada de maneira que criança entenda.
Arnaldo mora sozinho numa cabana no alto de uma montanha. Ele acredita ter alma de artista, tamanha é a sua sensibilidade. Tudo ia bem e ele vivia feliz apreciando as belezas da natureza ao seu redor. 
Me chamou atenção o fato do livro parece o ócio criativo (descrito por Domenico De Masi).
Um dia, porém, percebeu que faltava algo: alguém para compartilhar sua sensibilidade artística. Decidido a encontrar uma companhia, Arnaldo resolve procurar seus vizinhos, três espécies diferentes de aves: o sanhaço, os corvos e pardais. O que ele acaba encontrando, no entanto, é apenas incompreensão e decepção. Seu vizinho fazem com ele uma espécie de bulling chamando-o de gordo e até d epreguiçoso.
O livro propõe para as crianças, a partir do texto e das ilustrações perfeitas de Jean-Claude, uma reflexão sobre o artista,  a solidão e vida em sociedade.
As crianças gostaram da conclusão. E eu mais ainda.

Norma de Souza Lopes

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Começou ontem no SESC Palladium a Oficina CORPO, SOM, PALAVRA, IMAGEM com Ricardo Aleixo. Estive lá com Carol Souza, sentanda confortávelmente diante de Ricardo Aleixo por três maravilhosas horas, tempo no qual nosso interlocutor discorreu acerca do corpo, de seu papel de midia primária para ser e estar.  Ricardo ainda discorreu acerca de multimidia e intermídia, imagem. imaginário e imaginação, percepção, observação, observado e o ato de observar. tudo isso com uma profundidade surpreendente para ao pouco tempo que tínhamos.
Ricardo ainda apresentou um rico exemplo de poesia e imagem (haicai) .
Os parceiros de oficina também foram muito importantes para o decurso, colocando questões que tornaram a apresentação fluida e inteligente.
Fomos apresentados um um novo instrumento (acredito que se chama "Trovão") e suas múltipas sonoridades.
Estou na espectativa para hoje.


Norma de Souza Lopes

Resenha Chico, o caminhador


Na aula de leitura de hoje a escolha do livro foi feita por mim, tendo em vista uma proposta de ilustração de poesia que executarei na semana que vem.
Escolhi "Chico, o caminhador" de Ana Raquel e Fernado Brant. Ao contrário dos outros que lemos esse ano, o livro em questão começa com as ilustrações e só depois Brant " pôs a letra".
Ana Raquel fotografou comunidades ribeirinha do velho Chico e montou belissimas ilustrações. Com ela seduziu Fernado Brant para cirar o texto. O Resultado foi um misto de imagem poesa/música que toca o coração.

o rio nasce de dentro do chão
a nossa terra é que é sua mãe
a água pouca e  limpa que brotou
com outras águas da serra se juntou
vai seguindo o ribeirão



Os alunos apontaram imagens recorrentes de peixes, bicicletas, botões de âncoras, barcos, rendas fuxicos e peixes que dão o tom do interesse das artista pela cultura do povo que vive e se alimenta do rio São Francisco.
Grata leitura

Norma de souza Lopes



quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Silenciar. Não me indignar a ponto de esvaziar a força da lâmina em minhas mãos sob a garganta daqueles que escolhem deixar criancinhas famintas.
 
Norma de Souza Lopes