quinta-feira, 31 de maio de 2018

afinidade

hei de olhar de joelhos
tocar com a ponta dos dedos
a sombras dessas estrelas mortas
no chão da sala

quarta-feira, 30 de maio de 2018

melt

que importa que sejam falsas
as oito batidas do meu coração
as oito batidas do seu  coração
real são essas canções que escorrem
o que em minhas pernas escorre
quando seu fogo me queima
era para aprender desde cedo
que a palavra junto
tem vinte e cinco significados


terça-feira, 29 de maio de 2018

verde é a cor do meio do arco-íris

leva tempo para perceber
que sombras e silêncio
não são presentes

ok, baby
ainda respiro
isso não quer dizer
que esteja viva

até quando
irei me nutrir do sol
em seus pensamentos?

sexta-feira, 25 de maio de 2018

impermeável

só sabem
me dizer - complexa
gastar o meus dias
sem nenhum contato

desejaria, de outro modo
quem tateasse meus abismos
sem essas alcunhas
de deusa, sexy ou musa

simples seriam
acidentes epidérmicos
gotas escorrendo
pele adentro

domingo, 20 de maio de 2018

em dias mortos também se escreve?

me reconheceram ontem
e eu só pude perguntar
porque quis estar ali?

estava bem não dormir
mas isso de não sonhar
e nem suspeitar, é insólito

disse
- minha casa
e no dia seguinte
solapei
dizer
- sei
ou
- isso é meu
se parece muito com a morte

assassino cactos
choro diante da morte de buquês
e ainda esperam que eu vingue
essa semente
a vida
confiada a mim

sábado, 19 de maio de 2018

Solutio

Ontem sonhei que me esvaia em sangue menstrual e me dei conta que guardo como segredo o fato de que há muito não sangro.
Nos ritos essênios o sangue menstrual era equiparado ao sangue de Cristo.
O sangue representa o poder  primitivo da vida, profundo psíquico para o bem e para o mal.
Mas, que maçada é sangrar inutilmente todo mês, tendo povoado o mundo, criado filhos meus e dos outros.
O que pensa uma menina de treze anos, a espera de sua menarca?
O que sente uma mulher sem filhos diante da marca da menopausa?
Fico me perguntando se, sem útero, desfiz o pacto feminino de ser deusa e bruxa. Se perdi minha alma supostamente imortal.
Prefiro crer que meu sonho aponta para uma grande virada psíquica, violenta como todo derramamento de sangue, intensa, cheia desejo e irreprimível


quarta-feira, 16 de maio de 2018

nem todo poema merece perdão
[norma de souza lopes]

me constrange que eu não possa
levar pão às  bocas famintas
cobrir os pés de meninos descalços
acolher às irmãs que sofrem desamor
combater o racismo de todo dia
contra nossos irmãos
as anciãs negligenciadas
os cães abandonados

me constrange que eu
inábil para a esgrima
esteja aqui a rezar padre-nossos
e a falar da beleza dos arrebóis

sexta-feira, 11 de maio de 2018

As coisa que nuca vou e contar - Defreds in Quase sem querer - Tradução de Norma de Souza Lopes

"Olá, essa carta nunca vai chegar até você.Seguramente nunca a lerás. Também, há coisas que nunca vou te contar. Nunca saberás que minhas canções favoritas são em castelhano , que te comprei rosas vermelhas mas não te entreguei, que morro de vontade de tirar sua roupa e que de repente o inverno aconteça.
E ainda que tu não saibas- como a canção- sempre estou atento ao que escreves. Inclusive te vi apoiada na barra de algum bar. Não digo nada, me viro e me escondo. Que naquele dia que te disse que não tinha planos , te menti. Eu mudei todos. E que quando chove, me recordo de ti. Ponho música e quasse não durmo.
Que também dizes que há coisa que são impossíveis, também o é esquecer-te."
Lá do @Cantaresdeserea

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Não é muito banal -Patricia González Lópes - Tradução de Norma de Souza Lopes

Não me ensinaram a querer-me
me ensinaram o que há de se fazer para ser querida
me ensinaram a ser objeto de prazer ou do contrário ser uma inútil
me ensinaram a ser desejada
a querer ser mercadoria
me ensinaram a mostrar as pernas
sou a que disponho um grito na rua
me ensinaram que a bondade é dizer sim
que dizer não é um jogo de menina
que sou responsável pela vontade do psicopata
eles me ensinaram a levar a culpa pela minha primeira violação,
e que meu trauma é a absolvição da segunda
o assédio não é tanto se a criança está sofrendo
o estuprador é menos estuprador se foi uma criança abusada
que talvez eu goste um pouco de ser manuseada
Se a violação é coletiva, é porque eu quero uma festa
Sou culpada do estado analfabeto
da comédia que é algum oficial virgem que não entende
de esvaziamento corporal
culpada pela solidão estrutural da minha alma
culpada de ter apreendido a submissão como respeito
culpada pela vergonha
de pedir ajuda
talvez eu queira sofrer
talvez eu mereça uma porrada
algo terei feito
Sou a culpada, sou a culpada, sou a culpada
por crer que não vai passar
nunca mais, que vai se desculpar
Sou habitante da falocracia
Me ensinaram a me vender para o maior lance
pelo que pelo menos me pague café
me de um teto, que me convide para o jantar
me foda
me pegue
que queira continuar me pegando
que me queira só para ele
que me celebre, que grite comigo, que me quebre, que me envolva,
que me proíba me sujigue me mate
sempre por paixão.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Poema ruim - Marcela Matta Tadução de Norma de Souza Lopes

Amo, com este amor de mãe pois é o que sou
e te bordo lenços à mão
e te jogo essa manta que te abriga
e ponho este prato de sopa ali sobre sua mesa
e te escrevo um poema.

Amo, com este amor de puta pois é o que sou
e te levo ao inferno da noite
e enfrento a teus medos extremos
e ponho ali sobre tua cama tua maior fantasia
e te escrevo um poema.



Amo, e só posso fazê-lo
com tudo isto que sou
e não podes tomar só uma parte
e minha voz te susurra e te grita,
mais não temas,
é apenas um poema.


daqui ó http://emmagunst.blogspot.com.br/2018/05/marcela-matta-poema-malo.html

domingo, 6 de maio de 2018

balada para viver mais

no espelho
os olhos perguntam
- o que que há garota,
tanto esforço
para morrer assim?

eu sei, se perdeu
mil vezes, nunca teve 16
amava aquele lugar
mas, lembra?
sempre quis estar aqui
é uma catástrofe perceber
que o pior lugar é dentro
o fermento sempre volta
você tão só, nenhum amor
será suficiente

mas ouça, é preciso
ninar passado, essa bomba
em seu colo não precisa explodir
nem tudo é para se lembrar

pescar elogios
não vai adiantar
lugar nenhum
espera, ignora 
o despertencimento
os medos em bloco
assopra a chama
assopra

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Poema de Celina Feuerstein Tradução de Norma de Souza Lopes

Hoje me disseram que despedida é
deixar
de pedir
entendi tua ausência
de outro modo

despedir-se é lançar
como quem atira uma pedra ao ar e
também
converter-se em mineral e roda
desprendido
lançado ao vento
que move
todo o que está quieto

não nos dissemos
adeus
voamos sós
despedidos
como flechas
do centro em linha reta
cada um ao outro lado
do mundo
 
daqui ó http://emmagunst.blogspot.com.br/2018/05/celina-feuerstein-3-poemas-3.html
 

terça-feira, 1 de maio de 2018

tatoo

a vida, nessa marcha
é como um código de barras
que ainda não sei ler
(nem tudo é pra por na boca)
inapta para disfarces
mas tanto medo de sofrer

encontros flamejantes
sem reservas para o futuro
corpos, suas vicissitudes
formas, pelos e cheiros
são tão lindos de se ver

tatuada em minha alma
a voz do desejo diz
sem volta
de olhos cerrados
nessa perfumada
madrugada de pedra
posso todas as formas
de amor