sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

 Em 2007, por ocasião de uma grave crise mental, eu fantasiava a implosão de todos os prédios escolares. No fundo do meu desespero eu queria começar do zero, fazer outra escola, outra educação.

Estranhamente o Corona vírus parece ter operado essa implosão. O espaço escolar, seu formato, suas tecnologias não atendem mais nem seu objetivo educativo primeiro nem os tangenciais, que é o de ser uns dos únicos  aparelhos que leva uma certa assistência social onde o estado não chega. Ele precisa deixar de ser o que é.

No entanto quase ninguém, a começar pelas agências governamentais, consegue começar do zero. Fazer outra escola. 

A minha fantasia era pensar que derrubando os prédios derrubaríamos seus dispositivos de exclusão. Eles não são de concreto. Eles estão erguidos discursivamente dentro de nós com a dureza do concreto.

É preciso muita força para não enlouquecer de novo. Aqui, imóvel diante da marcha da morte, da epidemia invisível da fome,  incapaz de pensar algo novo, que interrompa o PROJETO hegemônico  de exploração que avança irreprimível sobre o mundo. 

De novo esse medo de ter me enganado em acreditar na força da educação.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

a poesia é um emoji de lágrima

caminho entre as pedras 

e a água, e o lodo

e ouço os gritos

como na piada

do japonês 

vai morrer

vi outro dia 

o joão da mata

e o seu bando

correndo perigo 

na cachoeira

e pareciam tão vivos

sabia que quase

morri um tanto de vezes?

viver é escolher 

o risco 

escolho um 

chamado 

francisco

de cinco anos 

porque ele me abraça

sem máscara

e me ama 

sem culpa 

e se me julga

é por não ter

feito florir o cravo

da última vez

que veio me ver 

pensei: entrei pra história 

que bom que escolhi

ficar viva pra ser

a vovó das plantas

é triste assistir

o desfile diário

mil partidas

minha amiga espírita conta

segredos do além

ela diz: norma

quanto mais medo

e mais apego 

mais triste o degredo

há dias que sou

o pato na copa

da árvore batendo

papo com a morte

francisco pergunta

desde a primeira frase

é agora que

o pato morre?

e por fim

e a tulipa?

ele ainda não sabe

há o risco

e o tributo

e de repente parece

que faz sentido

o eterno retorno

e a holotúria

da szymborska

morrer só um pouco

só um pouco