sábado, 28 de julho de 2018

pavimento

são eles que dizem
a mesma coisa sempre
ou eu que já ouvi demais?

tiveram aquelas pedras
sob as quais é difícil 
caminhar sem cair
isso foi uma coisa nova
ainda bem

segunda-feira, 23 de julho de 2018

lugar nenhum

são tão vulgares os passos das sombras
sobre as paredes no correr do dia
meu olhar aguçado de medo pelas ruas
a solidão desperdiçada por
incompetência em ficar só
as histórias de família, sua mixórdia

podia inventar um lugar plácido
mas os poetas já o desperdiçaram
com sua miríade de poemas
sobre o silêncio

quisera ao menos um dia
estar suspensa sobre
esses ordinários
tempo e espaço

domingo, 15 de julho de 2018

Tião, Sansão, Delírio. A gente só ri e transforma em chavão as falas mais icônicas dos bêbados do bairro. E fica se perguntando como pode uma pessoa se afogar numa poça de lama a centrimetros da porta.
Mas nunca, nunca pergunta qual é a dor que os corta.
Não pense que há uma moral nisso. Não mesmo. É que de repente me ocorreu que  talvez eles quisessem ter sua foto pendurada na parede do funcionário do mês. Talvez. 

Norma de Souza Lopes

quarta-feira, 11 de julho de 2018

dezesseis árvores

estávamos perdidas
nossa fúria sedada
no número 4766
dos basculantes milimétricos
dava para ver dezesseis árvores
a comida sem sal
o abraço morno
das cobertas lavadas
em lavanderia
um livro, uma fruta
um artesanato
executado no t.o.

trazia o melhor
dos dois mundos
a leveza do vínculo
vestida de testosterona
ninguém cuidava
mais que tu

é nem choveu
quando você foi embora
eu ia querer dizer
que o céu chorou
por que você partiu

terça-feira, 10 de julho de 2018

segunda-feira, 9 de julho de 2018

flow

era naufragar
ou boiar sem rumo
num mundo plástico
sem profundidades
onde anjos me mordem de leve

sigo imune
carregada de sombras
mas inerte
tal qual uma peça
de camile claudet