domingo, 16 de janeiro de 2011

TÊMPORA



Olívia sonhou que a mãe havia morrido. Chorou muito quando acordou do sonho. Nele a mãe tinha câncer. Depois da quimioterapia os cabelos caiam. Ficava careca. Olívia comprou muitos lenços para a mãe. Floridos, laranja berrante, rosa choque, amarelos. No sonho a mãe chorava de medo.
Olívia raspou a cabeça. Ficou careca como a mãe. Coloriu a cabeça com cores carregadas.  Não adiantou. A mãe morreu.
Quando acordou  sabia que ela estava viva. Chorou por lembrar a finitude da mãe. Para Olívia os cabelos da mãe figuravam sua exuberância e força. Viu a mãe perdendo a vitalidade naquele sonho. Era muita humilhação.
Sofreu muito por não entender a beleza escondida no sonho. Só mais tarde iria compreender.
O corte dos cabelos simbolizava a cesura de seu nascimento psíquico, o rompimento do estado simbiótico da primeira infância. Isso só podia acontecer com a morte da mãe. Deixava de ser criança e passava a construir sua identidade própria. E o fazia em solidariedade à mãe. 
A mãe não percebeu isso de manhã, quando Olívia contou o sonho. Só chorou com ela a própria morte. Talvez apenas intuísse o despertar da filha.

Norma de Souza Lopes

2 comentários:

  1. Um dia eu assisti ao filme Freud Além da Alma e comecei a me interessar por interpretação de sonhos pela psicanáise mas acabei não aprofundando muito, pois minha vida acabou ficando tumultuada demais. Agora acho que dá para estudar mais a respeito. Gosto muito dessas incursões oníricas. Abração, Norma! Paz e bem.

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  2. Oi,

    Estamos aqui para te avisar que deixamos em nosso blog um selo de qualidade de presente pra você! Pega lá...

    Abraços,

    Kleber e Jonathan
    oteatrodavida.blogspot.com

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