sábado, 4 de junho de 2022

ordinário

não tem mais poesia. nem um verso. queria contar que perdi um amigo com a idade do meu filho. queria contar que a dor é física. queria ter dito eu te amo meu amigo mas isso é só mais uma coisa egoísta de quem fica. não tem poesia. acabou mesmo. queria contar que fui numa orquestra que tocava Rolling Stones e antes da quinta execução eu estava de volta em casa por dificuldade de sentir. parecia que na internet era a mesma coisa. queria contar que ela vinha e não vem mais. não é poético o desespero e a gana de sentir o tato de strudel de sua pele enquanto aliso a tela do celular. queria contar do medo de segurar a mão de quem tá mantendo a cabeça dentro d'água. quantos mergulhos a minha vida ainda poderia tolerar? é isso, nenhuma musa, só esse holocausto tupiniquim que eu finjo não ver para não sucumbir.