quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

DO MEDO DE VENCER


Mais difícil que lidar com as inúmeras derrotas da vida, é perceber que estamos boicotando nosso sucesso. Essa semana acabei esbarrando na clássica reflexão acerca de minhas conquistas de 2010. E eis o que senti. Estou sentindo que boicotei um antigo sonho de fazer mestrado sob o frágil argumento de que agora vou apenas escrever.
Digo que estou sentindo por não posso considerar ainda o pensamento como uma conclusão. Adoto a perspectiva da dúvida para avaliar minhas conclusões por que, como já disse em "Partasana" meus humores solúveis não me deixam ser eu mesma. 
Vejam:

Dona de humores solúveis
quisera um dia ser mais estável
ao sabor dessas vozes externas
enceno  teatro desagradável.


Me acomete esse mal inconstante
não consigo ser sempre eu, a mesma
flutuando entre fartas alegrias
ruminando profundas tristezas.

Então... Vinha tentando há anos passar nas provas do mestrado da UFMG, e apesar de passar todas as etapas, sempre barravam meu projeto. Não era interessante para eles. No ano passado pensei ter o projeto correto, pensei estar pronta para a entrevista. Havia convicção acerca de estar pronta. Mas declinei no último momento sob esse tênue argumento de que a escrita era forma sine qua non  eu faria a produção de mim mesma. 
Mas agora bateu a dúvida. 
Fico lendo o que escrevo e estou certa de que não posso considerar minhas escrituras um degrau de minha carreira. Elas não são populares o suficiente para chegar a best-sellers. E escrita sem venda não gera produto financeiro, um dos meus alvos para a carreira. No mínimo são uma expressão artística que me dão prazer e me trazem paz para continuar trabalhando.
Por isso agora estou sendo esmagada pelo pensamento de ter sido, mais uma vez, vítima do meu clássico medo de vencer.Resta esperar que na semana que vem meus humores me levam para as fartas alegrias. Aquelas que eu sinto quando tenho certeza de ter feito a coisa certa.


Norma de Souza Lopes

Um comentário:

  1. É um dilema que posso chamar para mim de tormento, Norma. A gente quer que a literatura que produz seja reconhecida e valorizada como trabalho e deixar que o prazer transite junto a tudo isso, mas é tanta concessão de gênero, numero e grau que teríamos que fazer que chega a ser desanimador.

    Eu me lembrei de um trecho que li no livro OBSERVADOR NO ESCRITÓRIO, de Drummond, onde ele comenta que foi, junto com o Manuel Bndeira, em 1962, convidado pelo MEC para escrever uma antologia da literatura brasileira com um salário ínfimo, sob a alegação de que se tratava de uma contribuição sócio cultural, levar a literatura à juventude brasileira a baixo preço. A esse sacifício ele refletiu: " podemos exigí-lo de um Manuel Bandeira, que aos 76 anos envelheceu numa pobreza digna, viaja em pé no ônibus, apesar da glória no país, enquanto jovens bem sucedidos circulam em carrões sem nada term feito ainda de importante?" Abraços. Paz e bem.

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