O menino começa ranhetando a primeira "conta de vezes", uma centena multiplicando uma milhar. Coisa de doido. Segue contando nos dedos, mordendo a língua, segurando o lápis com força, bufando e tentando adivinhar o resultado.
_ Artur, você não pode esquecer que subiu um número, se você esquecer a conta dá errado.
O menino apaga, reescreve, apaga, reescreve até que a frágil folha do dever não resiste e rasga-se. O pai sugiga o menino.
_ Te falei que era para usar um rascunho!
_ Você não falou não, pai.
_ Falei sim. Olha essa folha, se eu fosse sua professora eu não aceitava uma folha tão amassagada, que droga, esse dever não vai terminar nunca.
O menino pega o rascunho e com custo segue resolvendo as operações. O pai, que antes perguntava cada operação da tabuada para testar os conhecimentos do menino, se desespera e começa a dar as respostas para o filho.
Lá pela metade da atividade a filha de seis anos começa a rodear a mesa curiosa. E o pai no meio do exemplo, no esforço de fazer o filho pensar.
_ Artur, se você tem doze lápis e eu te der mais seis, com quanto você fica meu filho?
_ Vinte.
_ Vou perguntar de novo, você tem doze lápis, olha Artur, desses aqui de colorir, e eu te dou mais seis, com quanto você fica?
_ Ahn! Dezoito.
A pequena pergunta:
_ E eu pai?
_ Sai Luíza, eu estou ajudando seu irmão.
A pequena mareja os olhos e um pequeno beicinho vai crescendo no meio da cara. Ninguém olha até aquilo virar um berreiro.
_ Buá! sninf! chuift! sgrunft! Meu pai vai dar lápis de cor por Artur e não quer me dar.
O pai olha perplexo para a menina, tenta consola-lá, xinga e acaba levantando da mesa.
_ Ô Silvia, vê se você mesma ajuda esse menino que eu não tenho paciência para isso não. Vou ver meu jornal que eu ganho mais.
A mãe, que rolava de rir na cozinha, segue para a copa, tira uma caixa de lápis de cor novinha dos guardados e dá para a pequena. Senta com o filho e conclui pacientemente o dever.
Lá da sala o pai escuta o menino dar respostas certas a todas as perguntas da mãe. Desconfia do menino, mas agradece.
_ Tudo bem! Também, sou eu que pago as contas...
Norma de Souza Lopes
ah... o jeitinho feminino...
ResponderExcluirah.. o cotidiano... Parece até uma página da minha vida, da vida da vizinha, de uma amiga... Adorei!