terça-feira, 11 de janeiro de 2011

QUASE À DERIVA





Cada vez que me deparo com biografias de homens e mulheres que puseram duzentos dolares no bolso e partiram para o mundo sinto que a inveja me invade. É o antigo desejo de viajar sem rumo, me aventurar pelo mundo sem grandes compromissos ou tarefas.
Penso que o teria feito não fossem os filhos no meio do percurso. Eles me levaram a fincar raízes, baixar âncora e construir minha história aqui mesmo. 

Que sensação é essa? É raiva pelo não vivido.

Peraí? 

E o que faço com a escolha de permanecer no aqui-agora?

No passado fiz escolhas que me trouxeram aqui. Ter filhos foi uma delas. A mais maravilhosa de todas. Meus filhos iluminam meus dias, me afastam da morte  e me fizeram perseguir sucessos. Sou o que sou por eles.
Essa sensação que domina meu íntimo, esse desejo por por um devir desconhecido nada mais é que o fantasma do irrealizável. Não posso mudar o que fui. E mesmo que pudesse não o faria sem perder o que sou.

A certeza de que o passado e o futuro não existem e de que só há o que tenho agora me acalma. Essa certeza afasta a raiva. Economizo sensações para  construir, no presente, formas variadas de ser feliz. Em quem sabe até mesmo viajar pelo mundo sem grandes compromissos ou tarefas.

Norma de Souza Lopes

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