Eu passava a maior parte do tempo esperando que ele me tratasse de maneira especial.Dependente como uma planta que se tenha que regar. E haviam rituais elaborados para conseguir ser tratada assim. Me antecipar, fingir que não esperava, presentear, esquecer datas importantes e esperar, esperar muito. Era algo trabalhoso, cansativo e doentio. Haviam também as procuras por sinais. Geralmente os sinais que eu procuravam estavam ligados a minha necessidade de me sentir especial. No entanto o que eu encontrava era vestígios de outras mulheres. Muitos vestígios. Todo exercício me deixava com a sensação que eu era um ser extraterreno com um dispositivo automático para a espera.Um ciborgue esperador. Ás vezes ele parecia se aproximar. Eu me sentia especial e parecia que ia funcionar. Até ele escolher outra.E desfilar com ela diante de mim. E eu sempre a acha mais nova, mais interessante, e mais bonita que eu. Outro dia assisti por quase duas horas a peça "Esperando Godot" do Samuel Beckett, que todos os meus amigos acham chata e sem sentido. Fiquei pensando em quanto me sinto treinada para esperar pelo nada. "Nada a fazer" é o que diz o personagem. "Nada a fazer" era o que me dizia, involuntariamente, meu antigo amante,
Assim como na peça também essa esperança pueril de ser "especial" embutida no amor romântico não acontece fora de Shakespeare. Não tem trama, não tem clímax, não tem desfecho nem começo, meio e fim. Só espera.
NSL
20/07/14
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