quarta-feira, 30 de julho de 2014

Entre os garotos do bairro ele era o mais bonito. Uma beleza lisa, delicada, quase feminina. É certo que era baixinho, mas pareava com a moça, e isso não parecia a incomodar. Era um dos poucos no bairro que já tinha carro,um chevette de 15 anos. Passava muito tempo na oficina do pai dela. Ganhou tanto o gosto do velho que não demorou já estava frequentando a cozinha da casa para o café. E era lá que ele queria chegar. Era lá que ela estava. Daí para o namoro foi um pulo. Um namoro interessante, cheio de saídas a parquinhos, cinema, lanchonetes. As saídas todo fim de semana foi deixado o autocontrole da menina enfraquecido. A lavagem cerebral feita pelos pais na base do "só depois que casar" funcionava mal e porcamente. Pouca coisa sobrara para o depois de casar. Ele no entanto surpreendeu a todos com a ideia de um noivado relâmpago e um casamento seis meses depois. No primeiro ano de casamento a gravidez pareceu a coroação de escolhas felizes. Isso até o oitavo mês. Passada a trigésima segunda semana ela desenvolveu comportamentos estranhos. Passava dias sem comer, quase catatônica. Saia desse torpor e quebrava toda a louça e móveis da casa. Voltava ao torpor e inanição. Saia do torpor e passava a brigar com os vizinhos, lançando pedras sobre seus telhados. Quando o bebê nasceu precisou de cuidados hospitalares, dado sua debilidade.  Ela nunca mais deixou que o marido a tocasse. 
Como alternativa ele retornou a casa da mãe, que o ajudava a cuidar da mulher e do bebê. Alguns medicamentos tornavam as crises menos agressivas. Durante um tempo ele carregou ainda uma ilusão de cura e por isso tentou manter sigilo sobre os casos extraconjugais. Perdida a ilusão abandonou também o sigilo. 
Conheço a história toda, assim com detalhes por ser amiga de duas de suas amantes, cada uma a seu tempo, é preciso dizer. Ele cultiva o hábito de se manter casto a elas, enquanto dura o romance. 

NSL
30/07/14

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