domingo, 27 de julho de 2014

Ele eu conheci na escola primária, quarta-série eu acho. Ficávamos,  eu e as colegas debochando do jeito dele comer, lento e sincopado. De minha parte o deboche já era maneira de gostar. Achei um jeito de andar de bicicleta na rua dele, de conhecer a mãe de estudar em sua casa. Era mais velha que ele uns dois anos e isso dava alguma vantagem. Eu era mais experiente. A mãe no começo era bem cuidadosa. Aquilo de "com meu filhinho querido não " foi prejuízo durante um tempo. 
Ele era um cara bonito, inteligente mas extremamente metódico e inflexível.Me aborrecia e me agradava o mesmo tempo. Era curioso lidar com a ambivalência. Parecia mesmo que aquele era o jeito certo de ver as coisas, mesmo que eu não fosse capaz de ser assim..
Apesar das desconfianças da mãe estudávamos juntos, brincávamos juntos e fizemos juntos nossas primeiras investidas sexuais. Tudo até eu perceber que o universo da mãe e os adultos em volta dela era mais interessante. Eles frequentavam bares de música ao  vivo no fim de semana, com muita bebida e bastante liberdade sexual. Nessa época quase não frequentava mais a minha própria casa, ignorando as maldições de minha mãe. Eu me sentia no direito de fazer isso. Minha casa não era exatamente um lar. Era só um lugar de abuso e abandono do qual eu deveria tomar distância. 
Passei a segui-los como um mascote. A curtir com eles rodas de violão, viagens, clubes bares etc. Com o tempo encontrei uma estratégia para circular entre o namoro e as diversões compartilhadas com os adultos: um recurso chamado término de namoro. Eu terminava, curtia e depois voltava. Funcionou bem durante um tempo. Funcionou até os caras que nos rodeavam começarem a contar o que tínhamos feito juntos. E eram muitas histórias. Ele gostava muito de mim mas era incapaz de lidar com o fato de eu, por exemplo, ter feito sexo com outra pessoa. O problema é que nós não conseguíamos nos separar. Sem separação. Sem perdão. 
Nessa época começaram as brigas. E eu não deveria dizer brigas, gládios descreveria melhor o que vivíamos. Na rua, em casa, na escola a quantidade de violência deixava assustado até o pai dele, um homem chegado à violência. Um professor nos aconselhou a procurar ajuda profissional. Procuramos. Uma excelente terapeuta que, de maneira discreta e profissional, nos aconselhou à separação. Não conseguíamos. 
No primeiro ano de faculdade engravidei. Apesar das brigas contínuas decidimos morar juntos para cuidar do bebê. Parecia que eu iria realizar o sonho do lar, da família feliz. Seis meses depois, voltei para casa de minha mãe. A violência dele contra o bebê fora demais para mim. 

NSL
27/07/14

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