sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Vai ser difícil fazer isso aqui sem contar intimidades de minha família. Minha mãe não liga a mínima mas eu não gosto muito. O lance é que a professora pediu uma redação que relacione família e liberdade (ou independência, sei lá).  Redações assim me fazem pensar que tenho que lidar com lembranças. Sou bom de lembranças, apesar da minha família dizer que sou bom em inventar lembranças. Por exemplo, lembro de uma festa de aniversário com palhaço que a minha mãe diz que nunca existiu. Lembro-me de um passeio de cavalo que todo mundo jura que eu nunca fiz. 
Mas a primeira lembrança confirmada que tenho é uma visita de meu pai à casa de minha avó. Ele chorava muito e minha mãe só acenava com a cabeça. Ela conta que eu não cheguei a passar nem um ano na casa em que eles vivia juntos. Meu primeiro aniversário foi comemorado na casa de minha avó, pouco depois da mudança. Disso eu sei por foto. Havia bolo, guloseimas porém eu não eu pareço estar muito feliz no meio daquele tanto de adultos bêbados. 
Entretanto não me lembro de nada que diminuísse a felicidade na casa da minha avó, a começar por minha mãe, que parecia estar mais feliz. Além disso havia os primos, o quintal, o futebol na rua, o videogame e até as galinhas.
As lembranças que tenho da casa que vivi com minha mãe e meu pai não são muito nítidas. São como uma névoa de medo e mal estar. Trata-se de algo assustador que me repele toda vez que tento me lembrar. Minha mãe diz que me sinto assim por causa das  brigas e da violência que nós sofríamos. Diz que não vale a pena lembrar mesmo. Nesse sentido acho que se eu tivesse que falar sobre liberdade e família e falaria dos anos que morei na casa de minha avó. Foi lá que meu pai deixou de bater em mim e em minha mãe. 

NSL
01/08/14

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