terça-feira, 19 de agosto de 2014

Para chegar a praça Sete, o caminho que eu faço parte da Estação Lagoinha. Caminho até a praça Rio Branco e penso muito.Pensar muito é meu defeito de fábrica.  Me pergunto como é que pode uma pessoa levantar-se um dia e ir embora, deixar emprego família, filhos e finar-se no mundo. Conheço muita gente que fez isso. Dói como queimadura em quem fica.
Tem gente que, apesar da repulsa, fica. Mas faz da vida de todo mundo algo tão infernal que nem valia a pena ter ficado. 
Porém há casos piores. Conheci um cara que não teve coragem de ir mas se enforcou com uma toalha no banheiro. Se é difícil  recuperar-se de um abandono, imagine disso. 
É, escolher entre o eu e o outro é muito difícil.
Sigo pela Afonso Pena. Há muita gente no Centro. E eles se movem alucinadamente.
Não consigo abandonar o desejo de pará-los e perguntar:  
__Correr para quê se o destino é a morte? 
Posso ver em seus rostos, estão todos na superfície, ainda conseguem um pouco de ar. Só eu vivo esse afogamento continuo que nunca me deixa esquecer: vivemos sob o controle de um sistema econômico selvagem, sustentado pela miséria de muitos, pela psicologia do consumo e a obsolescência programada, cujo controle é feito pela mídia, estado e policia e cujo ideário é uma normatividade moralista e burguesa que não dá brecha para minoria. Penso isso o tempo todo. O tempo todo. O tempo todo.
Na praça Sete tem Duelo de MC's. Muita gente. Mas é diferente. No palco uma batalha de palavras me faz arrepiar. O pensamento muda de lugar. Os braços para cima. O Hoo e a rima me faz emergir. Em volta a fumaça rola solta. Mas eu consigo respirar.
E depois que acaba desço a Amazonas até a praça da Estação. Prefiro esse caminho para voltar para casa. 

NSL
19/08/14

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