Certa vez ouvi contar a história sobre uma criança abandonada, acho que da Françoise Dolto, uma psicanalista de criança, que me impressionou muito.
Trata-se da história de uma crianças foi deixada em um abrigo por sua mãe sem nenhuma explicação ou documento. Ela tinha dois anos mas parecia ter nove meses. Anoréxica, olhos embaçados, tez seca e rachada, sempre urinada, coriza abundante e lágrimas, muitas lágrimas. Ela parecia ser uma criança inacessível. Já levava em si um ar de louca.
Um dia uma das cuidadoras, acho que a própria Dolto, começou a sussurrar coisas no ouvido da criança. Dizia que ela tinha escolhido viver, e que era ela que escolhia, por amor a sua mãe que a havia rejeitado, ser rejeitável por todo mundo para que todo mundo fosse como sua mãe. Sussurrava ainda que sua mãe a havia rejeitado para que pelo menos uma delas tivesse a chance de ser feliz. E essa poderia ser ela.
Esses sussurros pareciam surtir efeito sobre a criança, uma vez que ela começou a olhar, sorrir, comer, ganhar peso, ficar limpa. A criança demonstrou um desenvolvimento memorável nos anos seguintes.
Esta história me faz pensar no valor daqueles sussurros.
Crianças precisam de sussurros que nomeiem um mundo seguro, até que elas mesmas possam emitir os próprios sussurros,circulando por esse mundo inseguro que temos por aí. Ou até que elas possam fazer poesia, simulacros de sussurros que acalmam ou atormentam a alma.
NSL
13/08/14
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