Carol
Neste natal comecei a experimentar as avalanches de ciúmes que envolvem as mães quando os filhos crescem. Também experimentei o constragimento de esquecer de fazer uma homenagem a minha filha mais nova. Uma gafe sem precedentes.
Todas as familias experimentam problemas na hora de escolher onde irão celebrar os festejos. Mas as configurações da separação que acontece nas festas de fim-de-ano entre mim e meus três filhos tem agravantes. Minha irmã costuma me chamar de vadia por que tenho três filhos, cada um de um pai. A observação grosseira é uma piada na família por que na verdade tenho um filho da primeira união que durou poucos anos, tenho uma segunda filha de minha união atual e uma terceira filha que nasceu do meu coração a partir da adoção.
Vinte e dois anos, dezesseis anos e quatorze anos. Essas são as idades de meus filhos. É preciso explicar que a filha de quatorze faz aniversário no dia vinte cinco de dezembro e o que seria uma ceia de véspera de natal, conosco acabou se configurando como uma grande almoço de natal, visitado por todos amigos e parentes, durante todo o dia. E algo parecido com o que relatei na crônica "Domingo na casa da mãe".
Neste ano a casa cheia de gente não escondeu a falta de meu filho de dezesseis. Ele escolheu passar o dia com o pai e com os tios. A filha mais velha foi à noite festejar com a família do namorado. Argumentei comigo que talvez essa também seja sua familia daqui para frente. Ela precisa aprender a conviver com eles. (Mais que droga, porque eles não escolheram vir para cá também?)
Meu filho voltou contando belas histórias do encontro. Lembranças e conversas intimistas. Senti ciúmes até das lágrimas que eles derramaram juntos. Até ano passado consegui mantê-los compulsoriamente comigo nas festividades. Esse ano os namorados, pais e parentes foram mais fortes.
Meu filho voltou contando belas histórias do encontro. Lembranças e conversas intimistas. Senti ciúmes até das lágrimas que eles derramaram juntos. Até ano passado consegui mantê-los compulsoriamente comigo nas festividades. Esse ano os namorados, pais e parentes foram mais fortes.
O pior é que eu, que sou apaixonadas por homenagens, esse ano me esqueci de preparar uma para a filha que ficou. Na clássica hora da oração chamei meu irmão para puxar e ele declinou. Assumi a ministração, fiz uma bela introdução, elogiando a meiguice de minha filha e a representatividade do natal quando a irmã incoveniente gritou:
_ Não acredito que você não fez uma homenagem escrita para a Carol.
Só então me lembrei _ Que furo!_
Eu lá, toda emocionada e ela me olhando com aquela cara de "Eu não acredito mamãe!". Olhei para ela e adivinhei o que estava sentindo. Uma mãe que se diz poetiza, cheia de inspirarão, só servia para as pessoas de fora da família nuclear.
Sei que não há desculpas para isso mas a circunstância me valeu para ver minha a filha maravilhosa como ela é. Em fração de segundos a vida dessa filha que ainda celebra comigo o natal passou diante de mim. Me lembrei que ela passou grande parte de sua infância chorando, magoada com a vida.
Eu quase sempre me desesperava vendo aquela dor arrastar-se durante anos. Pensava que aquela tristeza não iria partir.
A dor da alma surgia às vezes como dor de tudo em sua fala:
_ Eu estou com dor de febre mamãe!
_ Eu estou com dor no pé!
A coisa era tão intensa que os turistas de uma pousada em Guarapari lhe deram o carinhoso apelido de "Ai meu pé", depois de uma semana de chororô.
Por volta dos cinco anos renunciei ao desespero e comecei a pedir, toda vez que ela chorava:
_ Escolhe ser feliz, filha!
Era só ela começar a chorar que eu disparava o convite:
_ Escolhe ser feliz, filha!
O que eu vi naquela hora da homenagem e que felizmente consegui falar foi que, graças a sua grande presença de espírito, ela escolheu ser feliz. Se tornou uma bela moça, meiga e cheia de alegria. É reconhecida pelos amigos e pela familia como uma pessoa doce, amorosa e feliz.
Tê-la sempre ao meu lado, lendo meus escritos, acreditando que serei uma grande escritora, dizendo que irá ficar rica para cuidar de mim é um bálsamo para minha alma.
Escrevo essa crônica um pouco para me redimir de meu esquecimento e para agradecer a presença de minha filha nesse natal.
Eu também acredito em você Carol.
E estou certa de que mesmo não sendo rica sempre cuidarei de você. Mesmo quando você também for curtir seus natais em outras paragens.
Norma de Souza Lopes
Tê-la sempre ao meu lado, lendo meus escritos, acreditando que serei uma grande escritora, dizendo que irá ficar rica para cuidar de mim é um bálsamo para minha alma.
Escrevo essa crônica um pouco para me redimir de meu esquecimento e para agradecer a presença de minha filha nesse natal.
Eu também acredito em você Carol.
E estou certa de que mesmo não sendo rica sempre cuidarei de você. Mesmo quando você também for curtir seus natais em outras paragens.
Norma de Souza Lopes
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