sábado, 24 de novembro de 2018
Fatal
Há esses átimos em que eu desligo o sensor e vejo monstros nas paredes mofadas, corações no vapor das vidraças, elefantes em nuvens. E há essa eternidade inventando amor.
segunda-feira, 19 de novembro de 2018
desencanto
eu descasco e corto uma laranja
e o sumo, indiferente aos meus esforços
escorre e por um segundo vislumbro
ali, nas gotas, o amor, a alegria, a paz
que já não existem mais
e assim a vertente
de meus desconsolos
vista de cima, em gotas
sem nenhum glamour
parece absolutamente ridícula
e o sumo, indiferente aos meus esforços
escorre e por um segundo vislumbro
ali, nas gotas, o amor, a alegria, a paz
que já não existem mais
e assim a vertente
de meus desconsolos
vista de cima, em gotas
sem nenhum glamour
parece absolutamente ridícula
domingo, 4 de novembro de 2018
afogada
O pior não é ter que conviver. O que me mata é a lama de ódio que me chega aos joelhos. O ódio do outro que, por empatia, se instala em mim mesma.
Se me gritam, é uma bóia que vem tarde. Às margens do meu corpo apenas o silêncio de uma afogada.
Diante de mim essa procissão de guerreiros lutando por vantagens insignificantes ou pela palavra final.
Onde foram parar as palavras de pele e osso que me despertavam do pesadelo?
Onde foram parar aquelas alegrias que perseveravam apenas por amor a si mesmas?
Estou muito cansada. Exausta.
Se me gritam, é uma bóia que vem tarde. Às margens do meu corpo apenas o silêncio de uma afogada.
Diante de mim essa procissão de guerreiros lutando por vantagens insignificantes ou pela palavra final.
Onde foram parar as palavras de pele e osso que me despertavam do pesadelo?
Onde foram parar aquelas alegrias que perseveravam apenas por amor a si mesmas?
Estou muito cansada. Exausta.
sexta-feira, 21 de setembro de 2018
móbile
eu conheço esses tipos
que chegam e dizem
- suas pernas, olhos, dentes
me fazem feliz -
cuidam de te fazer rir
sentir-se especial
disparam essa corja
de elogios, se espalham
em seu sofá, familiar
sorriem para sua mãe
ah, eu conheço e odeio
seus pêlos a tanto tempo
entupindo o ralo do banheiro
o ruído de metal do
pequeno souvenir
- uma torre eiffel -
pendurada cópia da chave
que você lhe deu
depois de tirar de mim
que chegam e dizem
- suas pernas, olhos, dentes
me fazem feliz -
cuidam de te fazer rir
sentir-se especial
disparam essa corja
de elogios, se espalham
em seu sofá, familiar
sorriem para sua mãe
ah, eu conheço e odeio
seus pêlos a tanto tempo
entupindo o ralo do banheiro
o ruído de metal do
pequeno souvenir
- uma torre eiffel -
pendurada cópia da chave
que você lhe deu
depois de tirar de mim
terça-feira, 18 de setembro de 2018
ilha de edição
ilha de edição
[norma de souza lopes]
se bem me lembro
mamãe não costurava
lavava minuciosa o fogão
sentava à beira da bacia
e atritava entre os dedos
a roupa, mas não costurava
e há aquilo que não me lembro
por terror ou esquecimento
com isso não insisto, invento
domingo, 16 de setembro de 2018
a primeira vítima é o amor
não é de repente
que se acorda
com quase 50 anos
e isso nem seria importante
não existisse você
que se acorda
com quase 50 anos
e isso nem seria importante
não existisse você
quarta-feira, 5 de setembro de 2018
perigosos
perigosos esses poemas
que escritos
costuram fora
a mãe, o pai, os avós
perigosa é essa casa
desarrumada
que escritos
costuram fora
a mãe, o pai, os avós
perigosa é essa casa
desarrumada
terça-feira, 4 de setembro de 2018
se vir as entranhas é que acabou
assim como desfaço
as volutas de meus cabelos
o tempo embaça
minhas crenças
aquela praça
e as cicatrizes
(que não escondo mais)
segunda-feira, 3 de setembro de 2018
quinta-feira, 30 de agosto de 2018
para dizer em voz baixa
eu nem queria
melhorar o mundo
bastava uns poemas
que te incendiassem
e tornassem insuportável
a minha falta
melhorar o mundo
bastava uns poemas
que te incendiassem
e tornassem insuportável
a minha falta
domingo, 26 de agosto de 2018
Consigo eles eram brandos, uma conversa macia, rotineira. Conosco a língua ácida, espessa que afinal nao éramos dignos de palavra. Chegar na enfermaria era como estar-lhes roubando algo: o tempo, a atenção. Por medo de rejeição ou das grosserias a maioria de nós evitava demandar. Poucas enfermeiras nos tratavam como pacientes. Ficava sempre a sensação de ser um esmolem.
O preço, soube depois, seiscentos reais a diária. Preço de hotel de luxo para um hospital medíocre, quartos ordinários e alimentação insossa.
No caderno trazido pelo amigo eu anotava as impressões acerca do lugar e dos pacientes.
Era curioso como as mulheres da ala se relacionavam como se fossem velhas amigas. Como se aquele não fosse um encontro fortuito, como se quase todas não fossem desaparecer umas das outras em semanas.
Era tolice eu pensar que essa era uma característica do hospital. As pessoas vivem desaparecendo da nossa vida. Me lembrei do caso da organização da estante.
Em 2012 conheci um poeta muito bom, comprei seus livros, fui às atividades que ele realizou na cidade, tornei-me amiga etc. Segui o protocolo que estabelecemos com um colega da poesia. Alguns meses depois soube de seus abusos com a esposa e decidi romper contato.
Sei que isso deixa o leitor curioso, é justo. Todo mundo quer conhecer os segredos de alcova dos sujeitos célebres. Mas confesso que não tenho intenção de contar quem é. O que quero demonstrar e a tese de que as pessoas desaparecem e às vezes nem nos damos conta.
Voltando à organização da estante em 2016, por causa de uma mudança de casa, fui reorganizar os livros e me deparei com os livros deste poeta. Fiquei muito surpresa. Eu havia me esquecido completamente dele. Minha memória, por quatro anos, havia deletado, esquecido o homem.
Na ocasião fiquei bem impressionada. Hoje entendo completamente. É como se, por economia de afetos, permanecesse em nós apenas os amigos relevantes.
Talvez por isso nos primeiros dias de internação me mantive tão obtusa. O corpo de enfermagem não merecia consideração, dados os maus tratos. E poucas seriam as colegas de claustro que permaneceriam.
O preço, soube depois, seiscentos reais a diária. Preço de hotel de luxo para um hospital medíocre, quartos ordinários e alimentação insossa.
No caderno trazido pelo amigo eu anotava as impressões acerca do lugar e dos pacientes.
Era curioso como as mulheres da ala se relacionavam como se fossem velhas amigas. Como se aquele não fosse um encontro fortuito, como se quase todas não fossem desaparecer umas das outras em semanas.
Era tolice eu pensar que essa era uma característica do hospital. As pessoas vivem desaparecendo da nossa vida. Me lembrei do caso da organização da estante.
Em 2012 conheci um poeta muito bom, comprei seus livros, fui às atividades que ele realizou na cidade, tornei-me amiga etc. Segui o protocolo que estabelecemos com um colega da poesia. Alguns meses depois soube de seus abusos com a esposa e decidi romper contato.
Sei que isso deixa o leitor curioso, é justo. Todo mundo quer conhecer os segredos de alcova dos sujeitos célebres. Mas confesso que não tenho intenção de contar quem é. O que quero demonstrar e a tese de que as pessoas desaparecem e às vezes nem nos damos conta.
Voltando à organização da estante em 2016, por causa de uma mudança de casa, fui reorganizar os livros e me deparei com os livros deste poeta. Fiquei muito surpresa. Eu havia me esquecido completamente dele. Minha memória, por quatro anos, havia deletado, esquecido o homem.
Na ocasião fiquei bem impressionada. Hoje entendo completamente. É como se, por economia de afetos, permanecesse em nós apenas os amigos relevantes.
Talvez por isso nos primeiros dias de internação me mantive tão obtusa. O corpo de enfermagem não merecia consideração, dados os maus tratos. E poucas seriam as colegas de claustro que permaneceriam.
sábado, 18 de agosto de 2018
Chuva e dez quilômetros de trânsito engarrafado. Não devia mas um carro nessa hora é uma caixa onde enterro meu tempo, enterro inclusive a necessidade de concluir o romance, ou novela, não sei ao certo pois são apenas cem paginas.
Isso por que sempre que escrevo apago um terço. Acho tudo muito ruim. E deve ser mesmo.
Esse ruído arranhado do bloco de notas virtual nem de longe alcança o claque claque claque da máquina de escrever. Taí, posso colocar na conta dessa ausência a falta de escrita em prosa em minha vida.
Há tempos quero deixar de escrever poesia. Mas envelheçer parece vir junto com a propriedade e o desejo de falar sempre menos. Uma voz dentro da cabeça repetindo "não vale a pena dizer". Ou é isso ou são os remédios. Essa é a mesma voz que repete o enfastio diante do mundo e todos os seus assuntos, o enfastio diante de toda possibilidade de criar algo, como se tudo já tivesse sido inventado, como se o mundo fosse apenas uma cápsula reverberando o mesmo, ad infinitum.
Gosto dos sintomas da mania por muitas coisas mas me deixa constrangida a verborragia, aquela explosão que me faz emendar uma frase atrás da outra sem trégua. Daí a sensação de que a poesia e sua concisão ser o lugar de equilíbrio.
Sei que se começasse apenas contando o que deixei para trás, por vontade ou obrigação, daria uma bela história. Mas fatos não são histórias. É preciso saber contar e eu temo estar tão viciada em fracasso, perdas e autocomiseração que se escrevesse sobre isso criaria uma história ordinária.
Posso passar horas assim, dando vazão ao fluxo do pensamento, navegando no nonsense mas tenho no imaginário um leitor modelo que não curte essa fruição, tampouco a descrição excessiva. Meu leitor modelo abandonaria o "Pêndulo de Foucault" na página cento e nove reclamando das poucas narrativas de ação e do excesso de informação.
Eu penso no sucesso e me lembro de duas coisas: passar no vestibular da UFMG e tirar carteira de habilitação. São narrativas de ação que dariam uma história interessante. Mas imediatamente me lembro que ainda não consegui a carteira de habilitação. O mais perto que cheguei disso foram as dez aulas pilotando moto. Isso antes de interromper por conta da internação. E a internação seria outro capítulo. Um longo capítulo contando como os hospitais psiquiátricos se tornam donos de nossas mentes e corpos. De como as frases de delírio de uma mulher em surto se parecem com poesia.
quinta-feira, 16 de agosto de 2018
náusea
enquanto tento em vão
falar sobre a língua estilhaçada
o ouvido estilhaçado
a mão estilhaçada
gatos dormem, indiferentes
à máquina de produção
aos aparelhos de destruição
não há receita certeira
que garanta
quem vive ou que morre
mas, como seguir sem dor
não sendo um gato?
aos aparelhos de destruição
não há receita certeira
que garanta
quem vive ou que morre
mas, como seguir sem dor
não sendo um gato?
sexta-feira, 3 de agosto de 2018
esquecer
Há que se esquecer. Esquecer é a saúde da mente. Mas há o que não se esqueçe, o que permanece como uma pequena guerrilha. Assim é para mim a infância que me lembro. Por mais que eu tenha aprendido a odiar a autocomiseração ela está aqui, guardada, indelével na forma de silêncios é a sombras, iluminadas apenas pelo o resplendor das explosões.
Ás vezes alguma imagem atravessa o meu caminho: uma violência, uma negligência, uma fome. Lembro por exemplo de minha avó, que durante um tempo cuidou de nós para minha mãe trabalhar. Uma voz rascante e ácida e uma vontade férrea de punição. As crianças da vizinhança a chamavam de bruxa. Não me lembro de vê-la sorrir, nem sei se tinha dentes. Imagens como essas me lançam no chão. Não sei onde conseguir raízes para evitar as quedas.
Ás vezes alguma imagem atravessa o meu caminho: uma violência, uma negligência, uma fome. Lembro por exemplo de minha avó, que durante um tempo cuidou de nós para minha mãe trabalhar. Uma voz rascante e ácida e uma vontade férrea de punição. As crianças da vizinhança a chamavam de bruxa. Não me lembro de vê-la sorrir, nem sei se tinha dentes. Imagens como essas me lançam no chão. Não sei onde conseguir raízes para evitar as quedas.
sábado, 28 de julho de 2018
pavimento
são eles que dizem
a mesma coisa sempre
ou eu que já ouvi demais?
tiveram aquelas pedras
sob as quais é difícil
caminhar sem cair
isso foi uma coisa nova
ainda bem
segunda-feira, 23 de julho de 2018
lugar nenhum
são tão vulgares os passos das sombras
sobre as paredes no correr do dia
meu olhar aguçado de medo pelas ruas
a solidão desperdiçada por
incompetência em ficar só
as histórias de família, sua mixórdia
podia inventar um lugar plácido
mas os poetas já o desperdiçaram
com sua miríade de poemas
sobre o silêncio
quisera ao menos um dia
estar suspensa sobre
esses ordinários
tempo e espaço
sobre as paredes no correr do dia
meu olhar aguçado de medo pelas ruas
a solidão desperdiçada por
incompetência em ficar só
as histórias de família, sua mixórdia
podia inventar um lugar plácido
mas os poetas já o desperdiçaram
com sua miríade de poemas
sobre o silêncio
quisera ao menos um dia
estar suspensa sobre
esses ordinários
tempo e espaço
domingo, 15 de julho de 2018
Tião, Sansão, Delírio. A gente só ri e transforma em chavão as falas mais icônicas dos bêbados do bairro. E fica se perguntando como pode uma pessoa se afogar numa poça de lama a centrimetros da porta.
Mas nunca, nunca pergunta qual é a dor que os corta.
Não pense que há uma moral nisso. Não mesmo. É que de repente me ocorreu que talvez eles quisessem ter sua foto pendurada na parede do funcionário do mês. Talvez.
Norma de Souza Lopes
quarta-feira, 11 de julho de 2018
dezesseis árvores
estávamos perdidas
nossa fúria sedada
no número 4766
dos basculantes milimétricos
dava para ver dezesseis árvores
a comida sem sal
o abraço morno
das cobertas lavadas
em lavanderia
um livro, uma fruta
um artesanato
executado no t.o.
trazia o melhor
dos dois mundos
a leveza do vínculo
vestida de testosterona
ninguém cuidava
mais que tu
é nem choveu
quando você foi embora
eu ia querer dizer
que o céu chorou
nossa fúria sedada
no número 4766
dos basculantes milimétricos
dava para ver dezesseis árvores
a comida sem sal
o abraço morno
das cobertas lavadas
em lavanderia
um livro, uma fruta
um artesanato
executado no t.o.
trazia o melhor
dos dois mundos
a leveza do vínculo
vestida de testosterona
ninguém cuidava
mais que tu
é nem choveu
quando você foi embora
eu ia querer dizer
que o céu chorou
por que você partiu
terça-feira, 10 de julho de 2018
Considere com doçura a sua chegada imediata
vê que desfaleço
enquanto não chegas
donzela?
vem que definho por ti
ó primavera
enquanto não chegas
donzela?
vem que definho por ti
ó primavera
segunda-feira, 9 de julho de 2018
flow
era naufragar
ou boiar sem rumo
num mundo plástico
sem profundidades
onde anjos me mordem de leve
sigo imune
carregada de sombras
mas inerte
tal qual uma peça
de camile claudet
ou boiar sem rumo
num mundo plástico
sem profundidades
onde anjos me mordem de leve
sigo imune
carregada de sombras
mas inerte
tal qual uma peça
de camile claudet
sexta-feira, 8 de junho de 2018
daquele amor
há que se falar de todo amor
presente naquela mirada
uma cabeça levemente erguida
entre as coxas
presente naquela mirada
uma cabeça levemente erguida
entre as coxas
quarta-feira, 6 de junho de 2018
CONDIMENTO Verónica Peñaloza Tradução de Norma de Souza Lopes
O corpo
guarda em um frasquinho em algum lado
a felicidade que me deste nos dias passados
para suportar um domingo como este.
Eu o destampo como se fosse um frasco de canela
eu o giro com cuidado
o miro
movo sobre a palma da mão
contemplo por um longo tempo
o fecho com nostalgia
e volto a guardar
pensando que já foi suficiente.
Porém o tempo é injusto.
Não passa meia hora
sem que queira condimentar
qualquer coisa que exista
com os ecos desse amor.
*
(Buenos Aires, Argentina, 1986)
http://emmagunst.blogspot.com/2018/06/veronica-penaloza-4-poemas-4.html
Ilustración de Alia Penner
guarda em um frasquinho em algum lado
a felicidade que me deste nos dias passados
para suportar um domingo como este.
Eu o destampo como se fosse um frasco de canela
eu o giro com cuidado
o miro
movo sobre a palma da mão
contemplo por um longo tempo
o fecho com nostalgia
e volto a guardar
pensando que já foi suficiente.
Porém o tempo é injusto.
Não passa meia hora
sem que queira condimentar
qualquer coisa que exista
com os ecos desse amor.
*
(Buenos Aires, Argentina, 1986)
http://emmagunst.blogspot.com/2018/06/veronica-penaloza-4-poemas-4.html
Ilustración de Alia Penner
segunda-feira, 4 de junho de 2018
não leia as instruções
Por pensar que o peso de meus lábios
não seria pra sempre, desiste
que tenho eu ou tu com a eternidade?
tanto desejo e você, por medo, nada
te desejo um ano inteiro na prisão
das portas giratórias
você e esse coração blindado
quinta-feira, 31 de maio de 2018
afinidade
hei de olhar de joelhos
tocar com a ponta dos dedos
a sombras dessas estrelas mortas
no chão da sala
quarta-feira, 30 de maio de 2018
melt
que importa que sejam falsas
as oito batidas do meu coração
as oito batidas do seu coração
real são essas canções que escorrem
o que em minhas pernas escorre
quando seu fogo me queima
era para aprender desde cedo
que a palavra junto
tem vinte e cinco significados
as oito batidas do meu coração
as oito batidas do seu coração
real são essas canções que escorrem
o que em minhas pernas escorre
quando seu fogo me queima
era para aprender desde cedo
que a palavra junto
tem vinte e cinco significados
terça-feira, 29 de maio de 2018
verde é a cor do meio do arco-íris
leva tempo para perceber
que sombras e silêncio
não são presentes
ok, baby
ainda respiro
isso não quer dizer
que esteja viva
até quando
irei me nutrir do sol
em seus pensamentos?
que sombras e silêncio
não são presentes
ok, baby
ainda respiro
isso não quer dizer
que esteja viva
até quando
irei me nutrir do sol
em seus pensamentos?
sexta-feira, 25 de maio de 2018
impermeável
só sabem
me dizer - complexa
gastar o meus dias
sem nenhum contato
desejaria, de outro modo
quem tateasse meus abismos
sem essas alcunhas
de deusa, sexy ou musa
simples seriam
acidentes epidérmicos
gotas escorrendo
pele adentro
me dizer - complexa
gastar o meus dias
sem nenhum contato
desejaria, de outro modo
quem tateasse meus abismos
sem essas alcunhas
de deusa, sexy ou musa
simples seriam
acidentes epidérmicos
gotas escorrendo
pele adentro
domingo, 20 de maio de 2018
em dias mortos também se escreve?
me reconheceram ontem
e eu só pude perguntar
porque quis estar ali?
estava bem não dormir
mas isso de não sonhar
e nem suspeitar, é insólito
disse
- minha casa
e no dia seguinte
solapei
dizer
- sei
ou
- isso é meu
se parece muito com a morte
assassino cactos
choro diante da morte de buquês
e ainda esperam que eu vingue
essa semente
a vida
confiada a mim
e eu só pude perguntar
porque quis estar ali?
estava bem não dormir
mas isso de não sonhar
e nem suspeitar, é insólito
disse
- minha casa
e no dia seguinte
solapei
dizer
- sei
ou
- isso é meu
se parece muito com a morte
assassino cactos
choro diante da morte de buquês
e ainda esperam que eu vingue
essa semente
a vida
confiada a mim
sábado, 19 de maio de 2018
Solutio
Ontem sonhei que me esvaia em sangue menstrual e me dei conta que guardo como segredo o fato de que há muito não sangro.
Nos ritos essênios o sangue menstrual era equiparado ao sangue de Cristo.
O sangue representa o poder primitivo da vida, profundo psíquico para o bem e para o mal.
Mas, que maçada é sangrar inutilmente todo mês, tendo povoado o mundo, criado filhos meus e dos outros.
O que pensa uma menina de treze anos, a espera de sua menarca?
O que sente uma mulher sem filhos diante da marca da menopausa?
Fico me perguntando se, sem útero, desfiz o pacto feminino de ser deusa e bruxa. Se perdi minha alma supostamente imortal.
Prefiro crer que meu sonho aponta para uma grande virada psíquica, violenta como todo derramamento de sangue, intensa, cheia desejo e irreprimível
Nos ritos essênios o sangue menstrual era equiparado ao sangue de Cristo.
O sangue representa o poder primitivo da vida, profundo psíquico para o bem e para o mal.
Mas, que maçada é sangrar inutilmente todo mês, tendo povoado o mundo, criado filhos meus e dos outros.
O que pensa uma menina de treze anos, a espera de sua menarca?
O que sente uma mulher sem filhos diante da marca da menopausa?
Fico me perguntando se, sem útero, desfiz o pacto feminino de ser deusa e bruxa. Se perdi minha alma supostamente imortal.
Prefiro crer que meu sonho aponta para uma grande virada psíquica, violenta como todo derramamento de sangue, intensa, cheia desejo e irreprimível
quarta-feira, 16 de maio de 2018
nem todo poema merece perdão
[norma de souza lopes]
me constrange que eu não possa
levar pão às bocas famintas
cobrir os pés de meninos descalços
acolher às irmãs que sofrem desamor
combater o racismo de todo dia
contra nossos irmãos
as anciãs negligenciadas
os cães abandonados
me constrange que eu
inábil para a esgrima
esteja aqui a rezar padre-nossos
e a falar da beleza dos arrebóis
[norma de souza lopes]
me constrange que eu não possa
levar pão às bocas famintas
cobrir os pés de meninos descalços
acolher às irmãs que sofrem desamor
combater o racismo de todo dia
contra nossos irmãos
as anciãs negligenciadas
os cães abandonados
me constrange que eu
inábil para a esgrima
esteja aqui a rezar padre-nossos
e a falar da beleza dos arrebóis
sexta-feira, 11 de maio de 2018
As coisa que nuca vou e contar - Defreds in Quase sem querer - Tradução de Norma de Souza Lopes
"Olá, essa carta nunca vai chegar até você.Seguramente nunca a lerás. Também, há coisas que nunca vou te contar. Nunca saberás que minhas canções favoritas são em castelhano , que te comprei rosas vermelhas mas não te entreguei, que morro de vontade de tirar sua roupa e que de repente o inverno aconteça.
E ainda que tu não saibas- como a canção- sempre estou atento ao que escreves. Inclusive te vi apoiada na barra de algum bar. Não digo nada, me viro e me escondo. Que naquele dia que te disse que não tinha planos , te menti. Eu mudei todos. E que quando chove, me recordo de ti. Ponho música e quasse não durmo.
Que também dizes que há coisa que são impossíveis, também o é esquecer-te."
Lá do @Cantaresdeserea
E ainda que tu não saibas- como a canção- sempre estou atento ao que escreves. Inclusive te vi apoiada na barra de algum bar. Não digo nada, me viro e me escondo. Que naquele dia que te disse que não tinha planos , te menti. Eu mudei todos. E que quando chove, me recordo de ti. Ponho música e quasse não durmo.
Que também dizes que há coisa que são impossíveis, também o é esquecer-te."
Lá do @Cantaresdeserea
quinta-feira, 10 de maio de 2018
Não é muito banal -Patricia González Lópes - Tradução de Norma de Souza Lopes
Não me ensinaram a querer-me
me ensinaram o que há de se fazer para ser querida
me ensinaram a ser objeto de prazer ou do contrário ser uma inútil
me ensinaram a ser desejada
a querer ser mercadoria
me ensinaram a mostrar as pernas
sou a que disponho um grito na rua
me ensinaram que a bondade é dizer sim
que dizer não é um jogo de menina
que sou responsável pela vontade do psicopata
eles me ensinaram a levar a culpa pela minha primeira violação,
e que meu trauma é a absolvição da segunda
o assédio não é tanto se a criança está sofrendo
o estuprador é menos estuprador se foi uma criança abusada
que talvez eu goste um pouco de ser manuseada
Se a violação é coletiva, é porque eu quero uma festa
Sou culpada do estado analfabeto
da comédia que é algum oficial virgem que não entende
de esvaziamento corporal
culpada pela solidão estrutural da minha alma
culpada de ter apreendido a submissão como respeito
culpada pela vergonha
de pedir ajuda
talvez eu queira sofrer
talvez eu mereça uma porrada
algo terei feito
Sou a culpada, sou a culpada, sou a culpada
por crer que não vai passar
nunca mais, que vai se desculpar
Sou habitante da falocracia
Me ensinaram a me vender para o maior lance
pelo que pelo menos me pague café
me de um teto, que me convide para o jantar
me foda
me pegue
que queira continuar me pegando
que me queira só para ele
que me celebre, que grite comigo, que me quebre, que me envolva,
que me proíba me sujigue me mate
sempre por paixão.
me ensinaram o que há de se fazer para ser querida
me ensinaram a ser objeto de prazer ou do contrário ser uma inútil
me ensinaram a ser desejada
a querer ser mercadoria
me ensinaram a mostrar as pernas
sou a que disponho um grito na rua
me ensinaram que a bondade é dizer sim
que dizer não é um jogo de menina
que sou responsável pela vontade do psicopata
eles me ensinaram a levar a culpa pela minha primeira violação,
e que meu trauma é a absolvição da segunda
o assédio não é tanto se a criança está sofrendo
o estuprador é menos estuprador se foi uma criança abusada
que talvez eu goste um pouco de ser manuseada
Se a violação é coletiva, é porque eu quero uma festa
Sou culpada do estado analfabeto
da comédia que é algum oficial virgem que não entende
de esvaziamento corporal
culpada pela solidão estrutural da minha alma
culpada de ter apreendido a submissão como respeito
culpada pela vergonha
de pedir ajuda
talvez eu queira sofrer
talvez eu mereça uma porrada
algo terei feito
Sou a culpada, sou a culpada, sou a culpada
por crer que não vai passar
nunca mais, que vai se desculpar
Sou habitante da falocracia
Me ensinaram a me vender para o maior lance
pelo que pelo menos me pague café
me de um teto, que me convide para o jantar
me foda
me pegue
que queira continuar me pegando
que me queira só para ele
que me celebre, que grite comigo, que me quebre, que me envolva,
que me proíba me sujigue me mate
sempre por paixão.
segunda-feira, 7 de maio de 2018
Poema ruim - Marcela Matta Tadução de Norma de Souza Lopes
Amo, com este amor de mãe pois é o que sou
e te bordo lenços à mão
e te jogo essa manta que te abriga
e ponho este prato de sopa ali sobre sua mesa
e te escrevo um poema.
Amo, com este amor de puta pois é o que sou
e te levo ao inferno da noite
e enfrento a teus medos extremos
e ponho ali sobre tua cama tua maior fantasia
e te escrevo um poema.
e te bordo lenços à mão
e te jogo essa manta que te abriga
e ponho este prato de sopa ali sobre sua mesa
e te escrevo um poema.
Amo, com este amor de puta pois é o que sou
e te levo ao inferno da noite
e enfrento a teus medos extremos
e ponho ali sobre tua cama tua maior fantasia
e te escrevo um poema.
Amo, e só posso fazê-lo
com tudo isto que sou
e não podes tomar só uma parte
e minha voz te susurra e te grita,
mais não temas,
é apenas um poema.
daqui ó http://emmagunst.blogspot.com.br/2018/05/marcela-matta-poema-malo.html
com tudo isto que sou
e não podes tomar só uma parte
e minha voz te susurra e te grita,
mais não temas,
é apenas um poema.
daqui ó http://emmagunst.blogspot.com.br/2018/05/marcela-matta-poema-malo.html
domingo, 6 de maio de 2018
balada para viver mais
no espelho
os olhos perguntam
- o que que há garota,
tanto esforço
para morrer assim?
eu sei, se perdeu
mil vezes, nunca teve 16
amava aquele lugar
mas, lembra?
sempre quis estar aqui
é uma catástrofe perceber
que o pior lugar é dentro
o fermento sempre volta
você tão só, nenhum amor
será suficiente
mas ouça, é preciso
ninar passado, essa bomba
em seu colo não precisa explodir
nem tudo é para se lembrar
pescar elogios
não vai adiantar
lugar nenhum
espera, ignora
o despertencimento
os medos em bloco
assopra a chama
assopra
quinta-feira, 3 de maio de 2018
Poema de Celina Feuerstein Tradução de Norma de Souza Lopes
Hoje me disseram que despedida é
deixar
de pedir
entendi tua ausência
de outro modo
despedir-se é lançar
como quem atira uma pedra ao ar e
também
converter-se em mineral e roda
desprendido
lançado ao vento
que move
todo o que está quieto
não nos dissemos
adeus
voamos sós
despedidos
como flechas
do centro em linha reta
cada um ao outro lado
do mundo
daqui ó http://emmagunst.blogspot.com.br/2018/05/celina-feuerstein-3-poemas-3.html
terça-feira, 1 de maio de 2018
tatoo
a vida, nessa marcha
é como um código de barras
que ainda não sei ler
(nem tudo é pra por na boca)
inapta para disfarces
mas tanto medo de sofrer
encontros flamejantes
sem reservas para o futuro
corpos, suas vicissitudes
formas, pelos e cheiros
são tão lindos de se ver
tatuada em minha alma
a voz do desejo diz
sem volta
de olhos cerrados
nessa perfumada
madrugada de pedra
posso todas as formas
de amor
é como um código de barras
que ainda não sei ler
(nem tudo é pra por na boca)
inapta para disfarces
mas tanto medo de sofrer
encontros flamejantes
sem reservas para o futuro
corpos, suas vicissitudes
formas, pelos e cheiros
são tão lindos de se ver
tatuada em minha alma
a voz do desejo diz
sem volta
de olhos cerrados
nessa perfumada
madrugada de pedra
posso todas as formas
de amor
sábado, 28 de abril de 2018
não em abril
eu dizia flâmulas de ouro
e fazia brotar o trigo
por alguns dias
a magia da poesia
tornava possível ser feliz
agora tenho apenas
essa ânsia de afogada
me fazendo buscar palavras
de quando acreditava
na vida simples
e para sempre
tão simples como
o tingir-se de roxo
das amoras, o passar
distraído dos dias
simulacros de alegria
esvaziam-se cômodos
pintam fachadas
as roupas doadas
não contam
daquilo que morre
espero que haja perdão
para aquela que em mim
dissipou as migalhas
deixadas ao longo da estrada
espero, pois há de vir
nessas tardes cinzas de outono
palavras mágicas
que suspendam o peso
de minhas sombras
porque a poesia
a poesia
é a minha extraordinária
história de amor
e fazia brotar o trigo
por alguns dias
a magia da poesia
tornava possível ser feliz
agora tenho apenas
essa ânsia de afogada
me fazendo buscar palavras
de quando acreditava
na vida simples
e para sempre
tão simples como
o tingir-se de roxo
das amoras, o passar
distraído dos dias
simulacros de alegria
esvaziam-se cômodos
pintam fachadas
as roupas doadas
não contam
daquilo que morre
espero que haja perdão
para aquela que em mim
dissipou as migalhas
deixadas ao longo da estrada
espero, pois há de vir
nessas tardes cinzas de outono
palavras mágicas
que suspendam o peso
de minhas sombras
porque a poesia
a poesia
é a minha extraordinária
história de amor
terça-feira, 24 de abril de 2018
quarta-feira, 18 de abril de 2018
HOJE HOJE ESTOU TE ABANDONANDO AMOR Xela Arias - Tradução de Norma de Souza Lopes
Hoje estou te abandonando amor
Estou lá fora nas figueiras carregadas e nas águas das nuvens
mas não fui eu quem escolheu sair
um navio estranho me roubou de sua mão
me absorveu a decisão
Como ramas rio abaixo parte o meu amor
escada de perguntas
como sua boca e a minha boca abrasam
aturdida é esta distancia que que buscamos
ainda não podemos arder
como a frágil lenha dos incêndios
dois cavalos, quatro peixes e um amieiro muito alto
tecendo desenhos movidos pelo vento
essas folhas
o suco dessas veias
esse sangue de animal assassinado!
como partem os pássaros para o além, parte o meu amor
talvez andorinhas nos telhados possuam hoje
a palavra que não digo
mas como eles miravam
os veleiros arrastados fugindo da tempestade
como eles pregaram nossos movimentos
seco, de uma só vez, contra as paredes!
Deserção móvel? meu amor porque te amo
Estou lá fora nas figueiras carregadas e nas águas das nuvens
mas não fui eu quem escolheu sair
um navio estranho me roubou de sua mão
me absorveu a decisão
Como ramas rio abaixo parte o meu amor
escada de perguntas
como sua boca e a minha boca abrasam
aturdida é esta distancia que que buscamos
ainda não podemos arder
como a frágil lenha dos incêndios
dois cavalos, quatro peixes e um amieiro muito alto
tecendo desenhos movidos pelo vento
essas folhas
o suco dessas veias
esse sangue de animal assassinado!
como partem os pássaros para o além, parte o meu amor
talvez andorinhas nos telhados possuam hoje
a palavra que não digo
mas como eles miravam
os veleiros arrastados fugindo da tempestade
como eles pregaram nossos movimentos
seco, de uma só vez, contra as paredes!
Deserção móvel? meu amor porque te amo
terça-feira, 17 de abril de 2018
inside
se deseja ser
uma oferenda para o sol
incendeie-se
e sugue a culpa
lave-se bem
lave o cheiro de cerca
e muro, lave-se
escave um poro
por onde escapar
escave um poro
cavalo azarão
escave de joelhos
nem um passo
para fora
escave um poro
loser, não há escape
sem resposta
sem saída, gauche
escave um poro
uma oferenda para o sol
incendeie-se
e sugue a culpa
lave-se bem
lave o cheiro de cerca
e muro, lave-se
escave um poro
por onde escapar
escave um poro
cavalo azarão
escave de joelhos
nem um passo
para fora
escave um poro
loser, não há escape
sem resposta
sem saída, gauche
escave um poro
domingo, 15 de abril de 2018
amanhã (republicado)
amanhã será segunda-feira
correndo tudo bem
baixo sobre mim a tampa
fazendo as contas
do advento da agricultura até aqui
é impossível impedir
a perversidade dos que tem mais
não sei ao certo
o que tenho eu com o perdedor
correndo tudo bem
baixo sobre mim a tampa
fazendo as contas
do advento da agricultura até aqui
é impossível impedir
a perversidade dos que tem mais
não sei ao certo
o que tenho eu com o perdedor
da vida, trago só o que arranquei à unha
do passado, a fome da infância
e eu, aquele bar 24 horas aberto
onde homens escarravam discretos
e mulheres desfilavam
o cheiro de desodorante avon
pesadelos apagaram sonhos bons
do passado, a fome da infância
e eu, aquele bar 24 horas aberto
onde homens escarravam discretos
e mulheres desfilavam
o cheiro de desodorante avon
pesadelos apagaram sonhos bons
mas estar feliz ou triste é uma balança
amar a praça, a dança, o sol
não tem nada a ver com boa sorte
ganhar ou perder é questão de convicção
para que lado pende o prato
enquanto ouço esse blue
e escrevo esse poema?
amar a praça, a dança, o sol
não tem nada a ver com boa sorte
ganhar ou perder é questão de convicção
para que lado pende o prato
enquanto ouço esse blue
e escrevo esse poema?
e depois de amanhã será terça-feira
quarta-feira, 11 de abril de 2018
sexta-feira, 30 de março de 2018
hava nagila
dar a luz a um avatar
costurar o fio que junta
o tempo em três pedaços
ilusão, verdade e espaço
na ponta da língua
criar um mundo respirável
escrevo esse poema
para capturar a alegria
que, a despeito desses dias
de sombra
apossou-se de mim
costurar o fio que junta
o tempo em três pedaços
ilusão, verdade e espaço
na ponta da língua
criar um mundo respirável
escrevo esse poema
para capturar a alegria
que, a despeito desses dias
de sombra
apossou-se de mim
domingo, 25 de março de 2018
DIVISA- Maria Mercè Marçal tradução de Norma de Souza Lopes
Ao acaso agradeço três dons: nascer mulher,
de classe baixa e de nação oprimida.
E o azul nebuloso de ser três vezes rebelde.
de classe baixa e de nação oprimida.
E o azul nebuloso de ser três vezes rebelde.
segunda-feira, 19 de março de 2018
sopro
quando se diz horas imóveis
é que o traçado dos dedos
parava o tempo
uma expedição
dançávamos
e o demônio de nossas costas
do lado de fora
da porta
inventava palavras
a espera de criar
atmosferas leves, fôlego
à sua ávida falta de ar
quarta-feira, 14 de março de 2018
uma mulher apara as unhas
medo
desejo
algo no modo
apara as unhas
lava os cabelos
não se revele
diz a razão
mas o coração
é uma placa
num bar de streptease
desejo
algo no modo
apara as unhas
lava os cabelos
não se revele
diz a razão
mas o coração
é uma placa
num bar de streptease
terça-feira, 13 de março de 2018
terça-feira, 20 de fevereiro de 2018
Recebi ainda há pouco a mensagem abaixo da Sally Hewett:
"It’s arrived!!! I LOVE it! I don’t understand the words but that means I can see them as something other than words - as a visual rather than an intellectual thing - and just occasionally a word I know appears - like a little gem. Thank you lovely Norma. xxx"
Para quem não conhece Sally é uma artista plástica inglesa que produz esculturas maravilhosas em costura e bordado sobre os corpos e suas o e suas vicissitudes. Adoro seu trabalho porque ela é capaz de retratar com habilidade a beleza dos corpos como eles são, longe das padronizações. Recebi algumas críticas bem duras pela escolha da imagem da capa mas não me arrependo. Sempre fui apaixonada pelas teorias de Melanie Klein e as primeiras relações de nutrição do bebê com o seio. Quando vi a escultura "Possible side effects", ou Possíveis efeitos colaterais" (imagem do post) pensei: "é uma maneira magnifica de representar o que quero dizer" no " De mim ninguém sai com fome" - um seio turgido, com os ductos galactóforos repletos é a ideia de poesia que quero passar.
Em 2017 conheci o trabalho dela no instagran e propuz comprar a imagem. Ela me cedeu sem custo nenhum. Enviei o livro em janeiro e agora, ler de Sally que minha poesia pode ser para ela uma "pequena joia"foi de chorar.
Recomendo que conheçam o trabalho dessa artista. É maravilhoso.
Para quem não conhece Sally é uma artista plástica inglesa que produz esculturas maravilhosas em costura e bordado sobre os corpos e suas o e suas vicissitudes. Adoro seu trabalho porque ela é capaz de retratar com habilidade a beleza dos corpos como eles são, longe das padronizações. Recebi algumas críticas bem duras pela escolha da imagem da capa mas não me arrependo. Sempre fui apaixonada pelas teorias de Melanie Klein e as primeiras relações de nutrição do bebê com o seio. Quando vi a escultura "Possible side effects", ou Possíveis efeitos colaterais" (imagem do post) pensei: "é uma maneira magnifica de representar o que quero dizer" no " De mim ninguém sai com fome" - um seio turgido, com os ductos galactóforos repletos é a ideia de poesia que quero passar.
Em 2017 conheci o trabalho dela no instagran e propuz comprar a imagem. Ela me cedeu sem custo nenhum. Enviei o livro em janeiro e agora, ler de Sally que minha poesia pode ser para ela uma "pequena joia"foi de chorar.
Recomendo que conheçam o trabalho dessa artista. É maravilhoso.
sábado, 10 de fevereiro de 2018
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018
para quando não for mais
o que fazer com a dor?
uns fazem sereias, pães
outros fazem medo
há até quem faça grades
eu teço poemas prosaicos
coloridos e palpáveis
era verão
eu não gostava
nem de verdes nem de marrons
ela, esbelta, gostava
cuidava de criar filhos
e odiar o trabalho
era certo que voltaria
para diamantina
achava belo horizonte
uma cidade de loucos
não me admira que hoje
eu faça esses poemas
magros, tão verdes
e marrons de saudades
(quase posso ver no futuro
uns poemas espessos como cerveja
vermelhos como pimenta)
uns fazem sereias, pães
outros fazem medo
há até quem faça grades
eu teço poemas prosaicos
coloridos e palpáveis
era verão
eu não gostava
nem de verdes nem de marrons
ela, esbelta, gostava
cuidava de criar filhos
e odiar o trabalho
era certo que voltaria
para diamantina
achava belo horizonte
uma cidade de loucos
não me admira que hoje
eu faça esses poemas
magros, tão verdes
e marrons de saudades
(quase posso ver no futuro
uns poemas espessos como cerveja
vermelhos como pimenta)
Éramos
Líamos de tudo
o que tornava nossos assuntos
ardentes e obscuros
quase intraduzíveis.
Divertidos, ferozes, indignados
quase contentes de viver
defendíamos nossas disposições
políticas de maneira feroz.
para sermos levados a sério.
Demorou décadas para compreender
que não vencíamos nada
o que éramos realmente
pairava naquela intercessão
do encontro.
segunda-feira, 22 de janeiro de 2018
Como você se protege de um estupro? Susan Hawthorne - Tradução de Norma de Souza Lopes
Ela lhe pergunta,
Como você se protege de um estupro?
Ele faz silencio por um longo tempo
Diz,
Evito ir para prisão.
Ela lhe pergunta de novo,
Quer saber o que faço e o que evito fazer?
Ele faz silêncio de novo.
Então acena com a cabeça.
Ela diz,
Não falo com estranhos.
Não saio só à noite.
Ou se faço isso tenho minhas chaves preparadas.
Uso meus sapatos de corrida.
Aparento saber onde vou mesmo quando não sei.
Se saio à noite, escuto.
Escuto os passos atrás de mim.
Julgo seu peso, marcha.
Considero se os passos são de mulher ou de homem.
Tento não correr.
Tento parecer casual.
Ou dou a volta e olho ele nos olhos.
O conselho é contraditório.
Recebo aula e defesa pessoal.
Me torno faixa preta.
E ainda assim não me sinto segura.
Se eu ficar em casa, fecho todas as portas.
Fecho as janelas também.
Eu tenho um olho mágico na porta da frente do meu apartamento.
Quando eu saio com amigos, não bebo demais.
Eu não volto a um copo meio vazio / meio cheio.
Eu não aceito carona para casa.
Pego um táxi em vez disso.
Eu tenho luz de sensor fora da minha casa.
Meu cachorro está do outro lado da porta.
Não aceito que ninguém tire fotografia minha.
Tem obtido sucesso?
Não.
Uma vez, bebi demais.
Uma vez, aceite carona.
Uma vez, falei com um estranho.
E, entre minhas amigas,
uma está casada com um estuprador.
Uma se deu conta que seu companheiro estuprava suas filhas.
Uma foi tocada por completo pelo vizinho quando tinha cinco anos.
Uma foi perseguida na rua.
Uma encontrou pornografia no computador de seu namorado.
Perguntei a elas o que faziam para se proteger de um estupro.
Uma disse:
Não falo com estranhos.
Não saio só à noite.
Coloquei discagem rápida no meu celular.
Uso meus sapatos de corrida.
Aparento saber onde vou mesmo quando não sei.
Uma disse:
Quando saio à noite, tenho cuidado.
Vou por lugares bem iluminados.
Se escuto passos atrás de mim,
tento não correr.
Tento parecer casual.
Tiro o celular.
Chamo meu amigo.
Uma disse:
Tive aulas de defesa pessoal.
Agora dou aulas de defesa pessoal para mulheres.
E ainda não me sinto segura.
Uma disse:
Tenho um cão grande, com um latido forte.
Tenho três fechaduras na minha porta.
Uma disse:
Não participo das redes sociais.
Não quero que ninguém saiba muito sobre mim.
Tiveram sucesso?
Não.
Nenhuma delas.
Daqui ó http://emmagunst.blogspot.com.br/2018/01/susan-hawthorne-como-protegerse-de-una.html
Como você se protege de um estupro?
Ele faz silencio por um longo tempo
Diz,
Evito ir para prisão.
Ela lhe pergunta de novo,
Quer saber o que faço e o que evito fazer?
Ele faz silêncio de novo.
Então acena com a cabeça.
Ela diz,
Não falo com estranhos.
Não saio só à noite.
Ou se faço isso tenho minhas chaves preparadas.
Uso meus sapatos de corrida.
Aparento saber onde vou mesmo quando não sei.
Se saio à noite, escuto.
Escuto os passos atrás de mim.
Julgo seu peso, marcha.
Considero se os passos são de mulher ou de homem.
Tento não correr.
Tento parecer casual.
Ou dou a volta e olho ele nos olhos.
O conselho é contraditório.
Recebo aula e defesa pessoal.
Me torno faixa preta.
E ainda assim não me sinto segura.
Se eu ficar em casa, fecho todas as portas.
Fecho as janelas também.
Eu tenho um olho mágico na porta da frente do meu apartamento.
Quando eu saio com amigos, não bebo demais.
Eu não volto a um copo meio vazio / meio cheio.
Eu não aceito carona para casa.
Pego um táxi em vez disso.
Eu tenho luz de sensor fora da minha casa.
Meu cachorro está do outro lado da porta.
Não aceito que ninguém tire fotografia minha.
Tem obtido sucesso?
Não.
Uma vez, bebi demais.
Uma vez, aceite carona.
Uma vez, falei com um estranho.
E, entre minhas amigas,
uma está casada com um estuprador.
Uma se deu conta que seu companheiro estuprava suas filhas.
Uma foi tocada por completo pelo vizinho quando tinha cinco anos.
Uma foi perseguida na rua.
Uma encontrou pornografia no computador de seu namorado.
Perguntei a elas o que faziam para se proteger de um estupro.
Uma disse:
Não falo com estranhos.
Não saio só à noite.
Coloquei discagem rápida no meu celular.
Uso meus sapatos de corrida.
Aparento saber onde vou mesmo quando não sei.
Quando saio à noite, tenho cuidado.
Vou por lugares bem iluminados.
Se escuto passos atrás de mim,
tento não correr.
Tento parecer casual.
Tiro o celular.
Chamo meu amigo.
Uma disse:
Tive aulas de defesa pessoal.
Agora dou aulas de defesa pessoal para mulheres.
E ainda não me sinto segura.
Uma disse:
Tenho um cão grande, com um latido forte.
Tenho três fechaduras na minha porta.
Uma disse:
Não participo das redes sociais.
Não quero que ninguém saiba muito sobre mim.
Tiveram sucesso?
Não.
Nenhuma delas.
Daqui ó http://emmagunst.blogspot.com.br/2018/01/susan-hawthorne-como-protegerse-de-una.html
sexta-feira, 5 de janeiro de 2018
saudade - Ana Gual - Tradução Norma de Souza Lopes
O vento não faz ruido
porém tu ouves
quando toca as coisas.
Assim, o poema.
daqui ó http://emmagunst.blogspot.com.br/2018/01/anna-gual-2-poemas-2-1.html
porém tu ouves
quando toca as coisas.
Assim, o poema.
daqui ó http://emmagunst.blogspot.com.br/2018/01/anna-gual-2-poemas-2-1.html
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