Há que se esquecer. Esquecer é a saúde da mente. Mas há o que não se esqueçe, o que permanece como uma pequena guerrilha. Assim é para mim a infância que me lembro. Por mais que eu tenha aprendido a odiar a autocomiseração ela está aqui, guardada, indelével na forma de silêncios é a sombras, iluminadas apenas pelo o resplendor das explosões.
Ás vezes alguma imagem atravessa o meu caminho: uma violência, uma negligência, uma fome. Lembro por exemplo de minha avó, que durante um tempo cuidou de nós para minha mãe trabalhar. Uma voz rascante e ácida e uma vontade férrea de punição. As crianças da vizinhança a chamavam de bruxa. Não me lembro de vê-la sorrir, nem sei se tinha dentes. Imagens como essas me lançam no chão. Não sei onde conseguir raízes para evitar as quedas.
Esses mergulhos na sua memória trazem tantas memórias de minhas próprias quedas. Lembro-me da minha mãe orando para expulsar dela mesma o espírito de autocomiseração. E eu tentava também expulsá-lo de mim mesmo...
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