domingo, 29 de julho de 2012

Livros de Bruno Brum

Estou aqui às voltas com meus novos objetos de desejo, as três obras de Bruno Brum - Mínima idéia (2004), Cada(2007) e Mastodontes na sala de espera (2011). Fiquei tão empolgada com a leitura que vou me dar ao luxo de comentar a partir de uma primeira leitura relâmpago ( os livros me foram entregues ontem de tarde e, por causa de meu tom afoito, sem dedicatórias ou autográfos, o que espero resolver no futuro.

Me deliciei com os deslizamentos que Bruno foi capaz de executar de um livro para o outro. Em "Mínima idéia" encontrei um livro recheado de recursos concretistas, experiências tipográficas, e poemas com os quais é possível se divertir muito. Não vou me alongar porque ainda quero fazer explorações mais profundas mas trago um exemplo delicioso para deixar meus amigos com vontade.

se você prestar atenção
vai perceber que 
eu não presto

Em "Cada" pude perceber um afastamento da viagens tipográficas e uma aproximação do que, tendo dificuldade de nomear, estou chamando de nonsense ou lirismo fantástico ( preciso estudar mais para saber dizer o que é isso na poesia de Bruno- ou não-  poeta nenhum anda querendo que digamos isto ou aqui sobre eles, ora bolas!) . Outro sentimento comum nas poesia de "Cada" foi um jogo ford-da com as referências intelectuais. Quando pensamos que lá encontraremos a influência esbarramos com um sonoro AQUI NÃO!

Angu da influência

rabelais não leu mishima kafka não leu drummond 

ovídio não leu flaubert heródoto não leu huidobro

hölderlin não leu augusto dos anjos hesíodo 

não leu dante victor hugo não leu kerouac 

safo não leu camões rimbaud não leu borges

e não não leu torquato baudelaire não leu freud 

mallarmé não leu joyce homero não leu bashô 

pessoa não leu rosa sólon não leu petrônio 

shakespeare não leu maiakovski oswald não leu leminski  

confúcio não leu peirce

odorico não leu haroldo apuleio não leu lautrèamont 

cruz e souza não leu burroughs gregório não leu pound 

a vida é assim mesmo


Percebi também em "Cada" um cuidado acadêmico. Bruno faz citaçoes de fontes no final do livro, coisa que eu ainda não tinha visto em livro de poesia. Vou ler de novo e depois acabo melhorando esse esboço de resenha.

Em "Mastodontes na sala de espera" tive gratas surpresas. Bruno aprofunda nas finalizações nonsense dos poemas. O poeta consegue fazer algo que venho desejando muito nas minhas poesias: desliza a visão  do eu-lirico para dentro e para fora e lança um olhar de luneta sobre figuras como pessoas do cotidiano, cachorros, laranjas, cawboys, frango, trânsito etc. Foi muito bom.
Algo que gostei muito foram as soluções para aquelas constatações/blagues poéticas que nos perseguem todos os  dias mas não são convincentes o suficientes para sustentarem sozinhas um poemas com mais de uma estrofe. Bruno  resolve maravilhosamente isso com seu "Noventa e nove blefes".  Objetos que merecem ser lidos aos goles. 

Senti em "Mastodontes"  o eu-lirico mais solto, mais livre para ser até autoreferente como no poema/biografia "Bruno Brum em ritmo de aventura" (cinco páginas)

Cito aqui um trecho de  "Postais" no qual senti o estado da questão em "Mastodontes"   

1

Olhos por perto.
Há coisas escondidas
atrás de outras coisas.
Logo adiante, mais delas.
Depois (dentro) delas, ainda outras.

2

Os passantes ainda não
se decidiram se vão, se ficam,
se atravessam a rua, se fazem
uma pausa para o café,
se atendem o celular.

(...)

Mais não digo porque garanto que, debruçando mais alguns dias (coisa  que certamente irei fazer) vou achar muito mais. Acredito que vocês entenderam né? Vale a pena ler.
Como ainda estou como Gollum e seu precioso não poderei emprestá-los. Consegui os três exemplares por R$ 45,00 nas mãos do próprio poeta. Com excessão de "Cada" que parece estar esgotado, os outros estão com promoção imperdível. Quem quiser comprar pode me pedir que  vejo com Bruno  um jeito de entregar.

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