domingo, 15 de março de 2020

Esta semana estive com outras poetas apresentando em um Sarau Comemorativo no Centro Cultural Salgado Filho. Me impressionei com a beleza do espaço, as obras de arte e principalmente com a maravilhosa biblioteca que eles tem lá. Estive uns vinte minutos emocionada diante do Diário de Fida Kahlo:















Percorrer essas páginas foi como estar diante da artista, ouvindo seus segredos sussurrados. Reconheço a importância desse exercício pois em tempos difíceis eu também compunha cadernos de processo. Entendo sua importância para costurar os fragmentos da mina alma, para desacelerar a locomotiva dos meus pensamentos.  São muitos, mas com a mudança ficaram para trás. Recuperei dois deles recentemente e é uma alegria percorrer suas páginas:






Estou aqui me perguntando porque parei de fazê-los e acho que tenho dois motivos: A alopatia tem o dom de concentrar minhas energias na racionalização e nesse sentido a escrita é a coisa mais criativa que consigo fazer. Outra e a grande quantidade de libido que eu invisto no meu trabalho de articuladora de leitura. Em tempos regulares eu costumo dedicar mais de quinze horas por dia para que esse trabalho seja um sucesso. Formar leitores é um trabalho duro, não acontece espontaneamente.
E o que acontece com o desejo de movimento, cor, forma, textura que a arte deveria por em marcha? Acho que o que salva é o carnaval, as festas a fantasia, as danceterias, a caracterização para as contações de história, as ilustrações para os murais e painéis da escola...
Talvez tudo isso não tenha o vigor de um diário criativo. São apenas águas escorrendo por uma rachadura. Mas não me queixo. As vibrações da minha intensidade somadas a absurda loucura do mundo que vivemos às vezes me conduzem para maus encontros. Agora mesmo estou às margens de um colapso financeiro e estive sem apoio profissional por algum tempo.
É difícil mas não impossível. Tenho família, amigos e a escrita. De alguma maneira escrever aqui talvez seja o meu "Diário de Frida".

3 comentários:

  1. Amiga, queria ter estado lá para assistir você nesse sarau. Sempre é revigorante ver você em amálgama com sua poesia. É algo poderoso que nos contagia.
    Eu amei os cadernos. Faço coisas assim com meus diários. Eles são mais relatos, mas eu colo coisas, rabisco desenhos tímidos e vou fazendo umas experimentações. Ter um pouco de materialidade neste mundo tão digital é sempre uma dádiva.

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  2. Vamos fazer um dia o encontro dos cadernos de processo. Vai ser foda!

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