Conversa difícil aquela, Gwen. Ela disse que essa história de eu ser capaz de rir de mim mesma é baixa-estima. Por trás do deboche há uma falta de consideração por mim mesma. Fiquei confusa.
As piadas pessoais são meu jeito de aceitar minhas falhas e incompetências. A verdade sobre mim. Sempre achei que esta história de estima me colocava num buraco sem fundo.
Gostar de mim como sou é coisa difícil. Passei a vida mascarando raiva, medo culpa e falhas de caráter para que os outros gostassem de mim. Eu não sabia fazer isso por mim mesma. A consciência da fraude me perseguia. Sabia que mentia, mas também sabia que o verdadeiro eu não podia se revelar sem enfrentar a rejeição alheia.
Daí para as piadinhas acerca de mim mesma foi um pulo.
Visualiza, Gwenever: brincando eu podia me dizer de verdade, revelar toda a torpeza da minha alma. A dose cavalar de inveja, egoísmo e covardia que carrego em mim não parecia tão terrível quando dito em tom de troça.
Mas ela afirmou que isso é baixa-estima.
Dorme com um barulho desse, minha querida geconida. Diante do espelho só vejo essa monstrenga que só se assume brincando.Por isso vou te pedir: só por hoje, dá para você me amar, Gwen?
Norma de Souza Lopes
Há um livro da Guimar de Grammont falando sobre "fuga em espelhos" (esse é o título também). Me lembrei porque o texto remete a uma espécie de fuga diante de espelhos. Prazer em ler, Norma. Meu abraço. paz e bem.
ResponderExcluir