Recriada
Terra de sol escaldante
onde o brincar das crianças
é romaria de pedras na cabeça
evocando esperada chuva
O cercado da cadeia
de tão baixo que era
fazia do preso um vizinho
em nada encarcerado
A vizinha negra puri
servia angu com açúcar
o mais delicioso prato
para nossa fome de afeto
Na esquerda o matadouro
onde em todo amanhecer
ecoavam balidos de bode
e um gato lambia o sangue
O trabalho de doméstica
a troca de qualquer paga
principalmente comida
que aliviava as bocas da casa
São José das Piranhas
de açudes que nunca vi
e do Rio Borborema
onde meu pai pescava
Dos matinais passeios
de ambulância a cargo do tio
das escuras estradas de terra
do terror dos cavalos fantasma
E ovo de passarinho
com sangue em sua gema
que ensinava da quaresma
por quê não se come ovo
Do caramujo e das pedras
inocente patológico
do rio de águas turvas
vertentes fartas de peixe
Paraíba onde está
senão na minha memória?
Norma de Souza Lopes
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