"até que enfim vai esfriar"
- no canto da cama, sob os lençóis desarrumados e uma vastidão de cobertas, olho com preguiça e emito um suspiro profundo -
'e se eu não for trabalhar hoje?'
- prova a cacharrel mostarda e se move diante do espelho. pelo olhar parece estar satisfeita -
'quer controlar a imagem que irá despejar sobre o mundo'
- debaixo de minhas pálpebras ainda posso ver sua pele, como se ela ganhasse um filtro delicado -
"bobeira é não viver a realidade"
- lança aquele olhar que dá quando o verso que canto a agrada -
'ela tem asas e sabe voltar. quando foi que deixei de ter medo? será isso o fim do amor romântico?'
" sabia que já houve mulheres com quadros histéricos de paralisia da mandíbula só por ter beijado outra mulher?"
'parece bem esses dias, vai voltar mais vezes sem sombras'
- me levanto, faço o café -
"você também sente essa alegria com o primeiro café?"
'e se eu não performasse nunca mais? no domingo, enquanto eu dançava de olhos fechados, fiquei confusa. é difícil me conectar com o agora e, ao mesmo tempo, lembrar que os outros me olham'
"se der tempo, passa no supermercado hoje, precisamos de ovos"
"vamos assistir o eu tu ele ela da chantal akerman na sexta?"
"não sei se gosto desses seus filmes que querem mostrar a realidade toda"
"tem umas cenas que você vai gostar"
"é o alarme das 6:35? tenho que ir, bom trabalho lá hoje"
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