terça-feira, 27 de junho de 2023

menina do dedo verde

aposto que ninguém

precisa suportar, como eu

diaria e ininterruptamente

as teias da imaginação

esta aranha 

tecendo  nós

entre o passado 

e futuro


meus amigos me dizem

"se o sim não é claro, isso é um não"

mas a mais perfeita canção

dos úlimos tempos

conta uma história de um amor

que aconteceu

mesmo parecendo impossível


oito 

são as expressões

do amor incondicional

1- palavras amáveis

2- afetos palpáveis

3- aceitação total

4- compreensão e empatia

5- liberdade e autonomia

6- respeito e admiração

7- sincero perdão

8- apoio inabalável


a despeito desses medos 

plantados no passado

sussurando em minha nuca

contigo eu tentava

domingo, 25 de junho de 2023

fervorosa

Fogueira juninas podem ter diversos formatos, dependendo do santo que representa, da tradição e da criatividade de quem as faz. 

1. Uma fogueira em formato de pirâmide geralmente celebra São Pedro. É construída com troncos e galhos secos em camadas crescentes, formando um cone ou uma pirâmide. A base da fogueira é construída com troncos mais grossos. Em seguida, camadas sucessivas de madeira são adicionadas, com galhos e gravetos menores, formando uma estrutura que vai se estreitando em direção ao topo.

2. A fogueira de São João deve ser construída em formato circular, em uma base concentrica, plana e firme, geralmente no chão ou em uma estrutura de madeira. Pode ter um diâmetro uniforme ou ser mais larga no centro e se estreitar em direção às bordas.

3. A fogueira de Santo Antonio é construída em uma forma cônica, onde a base é menor e vai se alargando à medida que é construída para cima. É semelhante ao formato de pirâmide, mas com lados mais inclinados.

Não obstante o calor dessas tradições, você é a fogueira mais potente. A um, dez, cem ou mil quilômetros ainda  me aquece.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

matinal

- busca atentamente entre os cabides uma blusa que combine com a saia verde -
"até que enfim vai esfriar"
- no canto da cama, sob os lençóis desarrumados e uma vastidão de cobertas, olho com preguiça e emito um suspiro profundo - 
'e se eu não for trabalhar hoje?'
- prova a cacharrel mostarda e se move diante do espelho. pelo olhar parece estar satisfeita -
'quer controlar a imagem que irá despejar sobre o mundo'
- debaixo de minhas pálpebras ainda posso ver sua pele, como se ela ganhasse um filtro delicado -
"bobeira é não viver a realidade"
- lança aquele olhar que dá quando o verso que canto a agrada -
'ela tem asas e sabe voltar. quando foi que deixei de ter medo? será isso o fim do amor romântico?'
" sabia que já houve mulheres com quadros histéricos de paralisia da mandíbula só por ter beijado outra mulher?"
'parece bem esses dias, vai voltar mais vezes sem sombras'
- me levanto, faço o café -
"você também sente essa alegria com o primeiro café?"
'e se eu não performasse nunca mais? no domingo, enquanto eu dançava de olhos fechados, fiquei confusa. é difícil me conectar com o agora e, ao mesmo tempo, lembrar que os outros me olham'
"se der tempo, passa no supermercado hoje, precisamos de ovos"
"vamos assistir o eu tu ele ela da chantal akerman na sexta?"
"não sei se gosto desses seus filmes que querem mostrar a realidade toda"
"tem umas cenas que você vai gostar"
"é o alarme das 6:35? tenho que ir, bom trabalho lá hoje"

terça-feira, 13 de junho de 2023

experimente o risco de descer uma escada

lavar os pés, cada um de uma vez

experimente o borbulho d'água

na língua, ao dizer cachoeira

experimente dizer "é preciso" 

para uma cachoeira

ignore o roxo nas nádegas

experimente se mover em uma motocicleta

a 117 quilômetros por hora

arvores

morros

vacas

nuvens

em disparada

meu peito dói quando digo solidão e não vejo o horizonte

domingo, 4 de junho de 2023

guardiã

às quatro, às sete
os amantes se encontram
dos seus beijos, risos
extraio poemas
que vertem vida
entre meus dedos

compungidos
os amantes me ovacionam
me consagram 
sacerdotiza do amor
incapazem de notar
as paredes do túmulo
em minhas pálpebras

sábado, 3 de junho de 2023

 Mês passado estive em uma atividade místico-imersiva com o Igor Guimarães, regada a músicas mântricas, xamânicas, canções relacionadas do candomblé, á natureza, new age e até uns sambas . No ponto alto do rolê tive uma percepção. Vi o Igor circulando, conectando e orquestrando os fluxos e pensei, é um DJ bruxão.  

Me senti imensa, plena e feliz por estar ali e por ter me aberto para ser tocada daquela maneira. 

Escrevo isso aqui porque venho pensando muito em música. Herdei mais de trezentos CDS de meu irmão, que faleceu ano passado e cada um deles me lembra uma fase do Wotan, Manter estes CD’s e ouví-los de vez enquanto me gera sentimentos muito bons de lembrança e gratidão.

Mas tudo isso, neste grupo, é apenas um preâmbulo para dizer uma coisa bem boiola: amo a discotecagem da Fê. Ela me comove sobremaneira. Isso aqui era para ser um poema falando mas entendi que só a prosa iria alcançar a potência do que eu quero declarar, nos afetos envolvidos no trabalho de DJ que eu quero citar.

Um DJ, e a Fernanda em especial, nos lança uma música, produz um fluxo e nos convoca a ouvir, sentir e dançar. Tem fluxo de rio, de chuva, de tempestade. Ela tem aquele jeito de olhar o público, dobrar a cabeça sobre o fone, dedilhar as teclas como um leme no temporal. O som ganha vida, conversa conosco e a pista de dança que se acende. As batidas, os pulsos elétricos se estendem como feitiço sobre a gente. Faz relâmpagos de notas ecoarem no corpo , e os batimentos cardíacos respondem, ondas sísmicas e alquimia sonora. 

Ela circula, conversa e volta. Se você é de dança, se dá vazão para essas ondas, vai rodopiar hipnotizado. Ou vai parar um segundo olhando pro ar, vai vibrar aquelas palavras, aquelas notas. E tem aquele momento em que ela apresenta músicas novas, que passam a incorporar nosso repertório sonoro. 

Ontem eu estava no samba com a Carol e senti a diferença do fluxo. Todos dois manipulam nossas emoções, mas nós, da Mulherada linda, já estamos conectadas com algumas melodias, com uma frequência que a Fé produz e que agencia nossos afetos. 

Bom, fim da boiolagem Fê, fim da rasgação de seda mulherada. Amo ter vocês para encontrar, para fluir, para compartilhar essa experiência.