quarta-feira, 19 de junho de 2019

Procuro desesperadamente uma resina que preencha essa fenda aberta em meu peito, algo que cole as imagens narcísica que nem mesmo sei quando  estilhacei, se é que fui  eu mesma que quebrei.
Olhando para fora todos parecem tão convictos de si - vejam como acredito em mim - parecem dizer.
Não encontro forças para sustentar aquele antigo pacto no qual decidimos inventar uma história, acreditar nela e vivê-la  todos os dias até que se tornasse verdade.
Era para ser divertido, Olhar nos espelhos prateados do quarto ou da sala de jantar e me admirar do quão bela me tornei. Ou olhar no espelho negro do celular e constatar que eu realmente sou muito inteligente e que minhas palavras são sábias, que meu trabalho  é fantástico e que eu  realmente domino a imagem que venho produzindo.
Não acho uma liga, nada parece ter força de resina para preencher meus buracos e tenho sido injusta com meus amigos e familiares, esperando que eles possam fazer isso por mim.
Gostaria de poder  culpar esses tempos  que parecem não mais suportar que se façamos juntos coisas íntimas como sentar-se diante  de qualquer altar e rezar silenciosamente. Ou, também em silêncio, permanecer por três minutos diante de um morro úmido de neblina.
Mas preciso ser honesta o suficiente para admitir que tudo morre antes dentro de nós. Um mundo doente só acha eco em almas enfraquecidas como a minha está agora.
Você se lembra quando, mesmo diante de toda violência e escassez, achávamos alegria  em tomar banho de chuva, caminhar entre os vales erodidos pela enxurrada. Ou quando você pegava em minha mão e attavessávamos a rua para ver a lua?
É triste sentir que dentro de mim nesse momento há uma recusa em irradiar. Calou-se aquela voz potente que dizia a todo tempo -vai melhorar.
Acho melhor tentar dormir. Somada aos efeitos de uma noite mal dormida, essa tristeza pode ser algo perigoso.

Um comentário:

  1. Sua prosa tece versos de poesia. E toda a sinceridade não diminui a beleza fabulosa. Afinal, acho que essa sensação de ruína interna tem sido algo bem recorrente em nossos tempos tão irregulares.

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