domingo, 23 de junho de 2019

Não me olhe como se eu ainda fosse a mulher que me tornou essa ruína, ou se esses versos que escrevo fossem o jorro de uma torneira aberta.
Em algum lugar existe uma pequena fonte d'água, uma mina e é dela que tiro poesia.
Ser eu mesma é muito difícil. Não há placas em neon avisado qual a escolha oferece maior chances de me trazer alegria. E mesmo que ouvesse, há em mim uma essência felina que segue irracionalmente todas as luzes.
Não é como se de repente eu desistisse de viver. Há dentro de mim uma fome feroz pela vida. É ela que pede socorro quando meus monstros me dizem "acabe com tudo, você não serve para existir nessa máquina trituradora de mentes que são os dias de hoje."
Na verdade eu gostaria de flanar sozinha, dançar e ensinar literatura.  Mas tem  isso de se apaixonar e é meio que uma compulsão por interlocutor. Queria ter com quem trocar um olhar de cumplicidade quando eu sinto vontade de derreter ouvindo o poema do Jazz que a Piê fez para a mina (musa?) dela. Alguém com quem ter um tratado de paz. Alguém que não fosse uma ameaça à essa voz narcísica que me consome e que dissesse  "você está errada Norma" sem me fazer sentir a alma sequestrada. Alguém que entrasse, a despeito dessa placa em meu peito "estamos abertos mas a porta é pesada".
Veja como eu escrevo hoje, percebe como as sombras estão silenciosas? Eu me orgulho da família que construí, dos amigos que fiz e principalmente me orgulho profundamente da minha disposição para amar.  Por isso pare de se preocupar, qualquer dia desses eu acalento essa necessidade compulsiva por amor. Afinal, veja como é grande o meu amor por mim, essa imponente ruína.

Um comentário:

  1. Você é imponente e não é uma ruína. Você é como uma árvore sobre uma colina e não como um monumento. E isso não tira sua monumental importância. Apenas a deixa mais bela.

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