quinta-feira, 6 de junho de 2019
nouveauté
Alguns filmes, livros e canções afirmam que é melhor amar, mesmo sem ser amada. Não estou tão certa disso.
Uma mulher de quase cinquenta anos está muito consciente de seus erros. Isso não significa que está pronta para corrigi-los.
Não era tão bela que tornasse imperativo o segundo olhar. Era uma beleza leve, lisa, túmida, gostosa de pegar. Cultivava amores impossíveis só para não se dar ao trabalho de negociar suas crenças e valores, como assim exigem as relações amorosas. Mantinha como regra um simulacro de hostilidade para disfarçar o humor vulnerável. Quis lhe contar que não havia nenhum charme em odiar, mas seria inútil, não se toca em leitmotivs.
A primeira vez que morri por ela quis escrever uma carta contando porque queria desistir do horror desse mundo. Sem nenhuma doçura parecia impossível continuar. Não escrevi. Não desisti.
Olhando para o passado percebo nos versos incompreensíveis daqueles dias o rastro da falta mais importante, entreguei minha poesia de graça: "quem dá o que tem a pedir vem," diria mamãe.
Cada palavra carregava minha força, o toque das mãos, o gesto de escrever a alma no papel. E o que ficava para mim?
Quase morta de novo, pela enésima vez, debaixo dessa imensa sombra que o império de thanatos impôs sobre esse país, desejaria um outro exercício, outra sintaxe, dedos longos acionando minhas cordas mais sonoras.
Queria ser capaz de me escrever uma poesia de amor tão condescendente quanto as que lhe dediquei.
Vou precisar outros livros, outros filmes, outras canções .
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Um relato de amor. Como já disse, o Amor é uma fome dentro da gente. O que não come do outro, come de nós mesmos...
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