há que se fechar os olhos
passar ao largo
pelas pequenas dores cotidianas
uma falta de grana
um filho alto demais
para a carícia na cabeça
as ordens são explícitas
não pare de sorrir
a casa
a horta
o jardim
uma garrafa
e nós a fragata
sábado, 24 de setembro de 2016
sexta-feira, 23 de setembro de 2016
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
ardis inúteis para parar o tempo
me persegue feito um louco
navalha na mão
o tempo
meus flertes com a morte
o aborrecem
mirem os talhos em minha cara
foi o tempo quem fez
a despeito daquela velha história
acerca do barro
para o tempo sou silício,
terra permeável
(não fossem as ampulhetas
seriam improvável pensar em areia
sem imaginar relógios emperrados)
navalha na mão
o tempo
meus flertes com a morte
o aborrecem
mirem os talhos em minha cara
foi o tempo quem fez
a despeito daquela velha história
acerca do barro
para o tempo sou silício,
terra permeável
(não fossem as ampulhetas
seriam improvável pensar em areia
sem imaginar relógios emperrados)
sábado, 17 de setembro de 2016
Treze anos e intensidade suficiente para subir em um caminhão de eventos na maior praça de Nova Lima e fazer a pior execução possível do "trem das onze" dos Demônios da Garoa. Era a única letra completa que eu conhecia mas por Deus, eu queria estar lá em cima! O que se seguiu foi uma vaia tão ruidosa que ecoa em meus ouvidos até hoje.
Situações como esta se repetem em minha vida, dada a minha vaidade e desejo absoluto de ser vista. E devo dizer, a despeito do choro e da tristeza, que elas são os mais úteis golpes ao meu ego inflado.
"As brigas que ganhei
Nenhum troféu
Como lembrança
Pra casa eu levei
As brigas que perdi
Estas sim
Eu nunca esqueci
Eu nunca esqueci"
https://www.youtube.com/watch?v=UxZnFM-8SuU
Situações como esta se repetem em minha vida, dada a minha vaidade e desejo absoluto de ser vista. E devo dizer, a despeito do choro e da tristeza, que elas são os mais úteis golpes ao meu ego inflado.
"As brigas que ganhei
Nenhum troféu
Como lembrança
Pra casa eu levei
As brigas que perdi
Estas sim
Eu nunca esqueci
Eu nunca esqueci"
https://www.youtube.com/watch?v=UxZnFM-8SuU
minhas mãos cheiram à tristeza
não é um algoritmo
é por acaso
um dia você para e pensa
"se ela me amasse
me escreveria poemas de amor?"
por acaso é que pensa
"tenho sede
poderia saciá-la em teu seio"
por acaso é que deseja
deslizar nas curva incertas
de minhas ancas
por acaso é que pensas
na bela dança que poderíamos executar
não te seduzas ao acaso
em mim o caos se mistura com as coisas belas
nuvens, sol, brisa
sou um abismo
para o qual ninguém deveria olhar
é por acaso
um dia você para e pensa
"se ela me amasse
me escreveria poemas de amor?"
por acaso é que pensa
"tenho sede
poderia saciá-la em teu seio"
por acaso é que deseja
deslizar nas curva incertas
de minhas ancas
por acaso é que pensas
na bela dança que poderíamos executar
não te seduzas ao acaso
em mim o caos se mistura com as coisas belas
nuvens, sol, brisa
sou um abismo
para o qual ninguém deveria olhar
quinta-feira, 15 de setembro de 2016
outro dia de mania
repito "vou morrer"
como quem sabe finita a vida
mas ainda não acredita
morrer sem ter tido um gato
estar no quinto andar
e não poder saltar
lá fora
um alfabeto de mentiras
convoca minha atenção
aqui dentro
um incêndio
de palavras eufóricas
assopro as cinzas quentes do amor
e o que tenho é um vapor
frio no lugar da carne
congelo estúpida
instantes de olhar
estou aqui agora
depois serão apenas os livros
os vestidos
e os sapatos
e a falta de coragem para doar
como quem sabe finita a vida
mas ainda não acredita
morrer sem ter tido um gato
estar no quinto andar
e não poder saltar
lá fora
um alfabeto de mentiras
convoca minha atenção
aqui dentro
um incêndio
de palavras eufóricas
assopro as cinzas quentes do amor
e o que tenho é um vapor
frio no lugar da carne
congelo estúpida
instantes de olhar
estou aqui agora
depois serão apenas os livros
os vestidos
e os sapatos
e a falta de coragem para doar
quarta-feira, 14 de setembro de 2016
Às vezes - Lety Elvir Tradução Norma de Souza Lopes
Às vezes
uma- eu- só quer
que alguém- vós - venha
passe sua mão em meu pescoço
pouse sua língua fresca
-ou de fogo-
em minha boca aberta
indecentemente molhada
que erga meus pontos cardeais
-carnais-
Às vezes
uma só quer
beijar tua cintura, tocar tuas nádegas
em qualquer esquina cega.
Sentir-se viva
em meio à tanta neblina.
Às vezes
uma só quer
perder-se na noite de alguém
descongelar o frio entrincheirado em seu peito
levantar a saia
gritar-te muitas verdades.
in http://emmagunst.blogspot.com.br/2016/09/lety-elvir-3-poemas-3.html
uma- eu- só quer
que alguém- vós - venha
passe sua mão em meu pescoço
pouse sua língua fresca
-ou de fogo-
em minha boca aberta
indecentemente molhada
que erga meus pontos cardeais
-carnais-
Às vezes
uma só quer
beijar tua cintura, tocar tuas nádegas
em qualquer esquina cega.
Sentir-se viva
em meio à tanta neblina.
Às vezes
uma só quer
perder-se na noite de alguém
descongelar o frio entrincheirado em seu peito
levantar a saia
gritar-te muitas verdades.
in http://emmagunst.blogspot.com.br/2016/09/lety-elvir-3-poemas-3.html
domingo, 11 de setembro de 2016
Este é pelas doentes mentais Poesia de Sol (Valencia, Espanha) Tradução Norma de Souza Lopes
Este é pelas doentes mentais.
Este é pelas que jamais marcharão em uma manifestação.
Este é pelas que guardam um vidro de pílulas na mesa de cabeceira.
Pelas que disseram não às pílulas.
Pelas que disseram PÍLULAS, POR FAVOR.
Pelas que não puderam se permitir as pílulas
Para aquelas que não podem pagar as pílulas
Porque todavia temos que pagar pela sobrevivência
Mesmo quando a pessoa que está segurando a faca
Dorme em nosso peito.
Este é para aquelas de mãos suadas e ombros tremendo.
Por que elas não podem gritar por seus direitos, porque elas estão com a respiração fora de controle.
Por que elas chamam de um bom dia
Quando podem sustentar a respiração.
Por que eles chamam Renascimento
Quando podem sustentar-se a si mesmas.
Pelas que trocaram segredos da infância
Por tinta amarela,
Porém Freud nunca supos realmente como ajudar.
Este é pelas que não só ouvem vozes
mas tem um coral inteiro na cabeça.
Este é pelas que nos dizem
‘o lugar de uma mulher é
Na revolução’
Quando nem sequer podem sair da cama,
Pelas que tem alterações de humor tamanhas que poriam fogo no mundo
E engoliriam as cinzas amanhã à noite.
Este é pelas que tem amnésia e esquecem quem são
Mesmo quando é do que têm mais orgulho.
Este é pelas que não podem nem ler um livro.
Como vão se formar em uma ideologia inteira.
Este é pelas que não podem lutar para sair das mãos dos homens
Porque as vozes deles disparam flashbacks.
Este é pelas que não podem beber e recusam os convite
Pelas que não podem beber e continuam indo.
Pelas que não deveria beber
Porém que se apresentam bêbada, drogadas, fumadas nas concentrações e assembleias
Porque não conseguem para de consumir.
Este é pelas que levam com tanto orgulho as cicatrizes autoinfligidas como suas bandeiras
Pelas que se envergonham todavia de ambas.
Este é pelas que necessitam de aviso de conteúdo sensível para o mero contato humano.
Este é pelas que leem sobre liberação sexual
Porém só ouvem: fode, fode, fode, assim, fode mais.
Quando elas só querem poder deixar de fuder.
Este é pelas vítimas de abuso sexual que parecem que não são
bastante revolucionárias por não fazer a revolução fudendo.
Pelas que não podem parar de fuder para não ferir a si mesma e não são "boas vítimas".
Este é pelas más feministas,
Pelas tontas,
Pelas que não denunciam
Pelas que permanecem junto a seus maltratadores.
Este é pelas que não se atrevem se a chamar de assédio, abuso
A violação.
Este es pelas que convencem a suas amigas e namoradas que podem estar gordas e serem bonitas
Porém racionam a comida se engordam um grama.
Pelas que se enchem de comida vegana nos cafés
Porém não descansam enquanto não vomitam tudo antes de chegar em casa.
Pela las que não podem deixar de comer
E não parecem ter o direito de amar enquanto não emagrecem.
Este é pelas que querem ser veganas ou vegetarianas
Porém teriam que deixar de odiar a comida para começar
Pelas que querem fazer-se veganas ou vegetarianas
Porém sentem que já é bastante cruz para seus pais ter uma filha doente.
Este é pelas que ouvem que o suicídio, a medicação e a psiquiatria é coisa de fracos
E não podem recordar nada que lhes exija maior força que pedir ajuda.
Pelas que não vão às manifestações, palestras e encontros porque tem terapia
E terapia não é um capricho, é suor
Terapia é sobrevivência.
Este é pelas que não são capazes de armar um barricada que pare o dilúvio universal que choram todo dia.
Pelas que choram em público
Pelas que solução nas reuniões
Pelas que berram nas concentrações.
Este é pelas que sabe todo o abecedário do consentimento
Porém nunca são capazes de articular um "não".
Pelas que ficam paralisadas de medo diante de uma agressão e não podem nunca ajudar a vítima
Sobretudo quando as vítimas são elas mesmas
Pelas que não podem sonhar em fazer sua a noite
Porque não é seu nem o seu corpo.
Este é pelas que não sabem distinguir entre medo inculcado e seus transtornos paranoides.
Este é pelas que não sabem distinguir entre suas paranoias e as micro-agressões
Este é pelas que querem sonhar com o futuro distinto porém estão demasiado ocupadas tendo
alucinações.
Este é pelas que ouvem que a monogamia vai acabar e tem impulsos suicidas apenas por suas amigas falem com outras meninas.
Este é pelas que vem listado seus sintomas em todas as listas de maus tratos
Pelas que temem ser inerentemente tóxicas.
Este é pelas que querem reverter o sistema e tem medo de ruídos fortes.
Este é pelas que participam de reuniões executando repetições obsessivas e compulsões manuais
Por aquelas que nunca participam pelo mesmo motivos.
Este é pelas esquizofrênicas que vem sua enfermidade convertida em uma estética "antissistema"
Este é pelas loucas controladas que ouvem falar desse "louco" controlador
Pelas psicopatas maltratadas cuja enfermidade é tratada como um insulto chamado "abusador".
Pelas sobreviventes que buscam espaços arco-íris e só encontram festas e
conversas sobre sexo.
Pelas sobreviventes que em nada acreditam porque
sua parceira do mesmo sexo as agrediu
Pelas sobreviventes que tem que se ver cara a cara com seus agressores e maltratadores em espaços
"liberados".
Este é pelas que sofrem abusos, inclusive sexuais, nas mãos de irmão, amigos, parceiros e psiquiatras e que amplificam a tragédia de que, por ser louca, ninguém acredita.
Este é pelas que que querem que o poder seja para o povo
Porém não são capazes de estar rodeado por este povo.
Este é pelas que sofrem maus tratos.
Porém ninguém chama por esse nome porque é "só" psicológico
Mesmo quando estes são os golpes que deixam as piores cicatrizes.
Este é pelas que não são maltratadas por seus parceiros e família
Porém ninguém parece entender que um amigo também pode se muito mais que tóxico.
Este é pelas que querem mudar a realidade
Porém não distinguem bem onde ela acaba
E onde começa a enfermidade.
Este é pelas que querem despertar aos alienados
E às vezes se perguntam se não será porque elas nunca conseguem dormir.
Este é pelas que não permitem que as defina seu reflexo em nenhum espelho
Porém há muito não são capazes de se mirar neles.
Este é pelas que não se reconhecem nos espelhos.
Este é pelas que roem as unhas, que arrancam a pele, o cabelo
Pelas que levam as marcas da doença mental gravadas fisicamente no corpo.
Este é pelas que se ferem sem necessidade do fio de uma navalha
Pelas que usam fogo, a boca, os punhos
Pelas que não necessitam mergulhar na física para fazer-se sangrar.
Este é pelas autistas que não encontram nem um só manual de relações saudáveis, de sexo com
consentimento
Que inclua suas formas de comunicação.
Este é pelas que cheiram mal, pelas de cabelo oleoso, pelas de mal hálito por causa dos dentes sem escovar durante dias
Pelas que não podem nem se banhar.
Este é pelas que sabem que tem esterilizado a força das mulheres por ser como elas
E, no entanto a sua luta como doentes mentais é considerada de "segunda".
Este é pelas que lutam através da Internet
Porque não o podem fazer na rua.
Este é pela que nunca poderiam sair à rua.
Este é por nós todas, porque somos tudo: não só válidas como valiosas, tão
importantes, vitais e cruciais como a mais cordata e a mais saudável.
Porque esta também é nossa luta, e duplamente, porque além de sermos mulheres e estarmos doentes
e isso já é o suficiente para mandar-nos calar tanto dentro quanto fora.
Porém viemos carregadas de palavras, e às loucas faz muito bem gritar.
Este é pelas que jamais marcharão em uma manifestação.
Este é pelas que guardam um vidro de pílulas na mesa de cabeceira.
Pelas que disseram não às pílulas.
Pelas que disseram PÍLULAS, POR FAVOR.
Pelas que não puderam se permitir as pílulas
Para aquelas que não podem pagar as pílulas
Porque todavia temos que pagar pela sobrevivência
Mesmo quando a pessoa que está segurando a faca
Dorme em nosso peito.
Este é para aquelas de mãos suadas e ombros tremendo.
Por que elas não podem gritar por seus direitos, porque elas estão com a respiração fora de controle.
Por que elas chamam de um bom dia
Quando podem sustentar a respiração.
Por que eles chamam Renascimento
Quando podem sustentar-se a si mesmas.
Pelas que trocaram segredos da infância
Por tinta amarela,
Porém Freud nunca supos realmente como ajudar.
Este é pelas que não só ouvem vozes
mas tem um coral inteiro na cabeça.
Este é pelas que nos dizem
‘o lugar de uma mulher é
Na revolução’
Quando nem sequer podem sair da cama,
Pelas que tem alterações de humor tamanhas que poriam fogo no mundo
E engoliriam as cinzas amanhã à noite.
Este é pelas que tem amnésia e esquecem quem são
Mesmo quando é do que têm mais orgulho.
Este é pelas que não podem nem ler um livro.
Como vão se formar em uma ideologia inteira.
Este é pelas que não podem lutar para sair das mãos dos homens
Porque as vozes deles disparam flashbacks.
Este é pelas que não podem beber e recusam os convite
Pelas que não podem beber e continuam indo.
Pelas que não deveria beber
Porém que se apresentam bêbada, drogadas, fumadas nas concentrações e assembleias
Porque não conseguem para de consumir.
Este é pelas que levam com tanto orgulho as cicatrizes autoinfligidas como suas bandeiras
Pelas que se envergonham todavia de ambas.
Este é pelas que necessitam de aviso de conteúdo sensível para o mero contato humano.
Este é pelas que leem sobre liberação sexual
Porém só ouvem: fode, fode, fode, assim, fode mais.
Quando elas só querem poder deixar de fuder.
Este é pelas vítimas de abuso sexual que parecem que não são
bastante revolucionárias por não fazer a revolução fudendo.
Pelas que não podem parar de fuder para não ferir a si mesma e não são "boas vítimas".
Este é pelas más feministas,
Pelas tontas,
Pelas que não denunciam
Pelas que permanecem junto a seus maltratadores.
Este é pelas que não se atrevem se a chamar de assédio, abuso
A violação.
Este es pelas que convencem a suas amigas e namoradas que podem estar gordas e serem bonitas
Porém racionam a comida se engordam um grama.
Pelas que se enchem de comida vegana nos cafés
Porém não descansam enquanto não vomitam tudo antes de chegar em casa.
Pela las que não podem deixar de comer
E não parecem ter o direito de amar enquanto não emagrecem.
Este é pelas que querem ser veganas ou vegetarianas
Porém teriam que deixar de odiar a comida para começar
Pelas que querem fazer-se veganas ou vegetarianas
Porém sentem que já é bastante cruz para seus pais ter uma filha doente.
Este é pelas que ouvem que o suicídio, a medicação e a psiquiatria é coisa de fracos
E não podem recordar nada que lhes exija maior força que pedir ajuda.
Pelas que não vão às manifestações, palestras e encontros porque tem terapia
E terapia não é um capricho, é suor
Terapia é sobrevivência.
Este é pelas que não são capazes de armar um barricada que pare o dilúvio universal que choram todo dia.
Pelas que choram em público
Pelas que solução nas reuniões
Pelas que berram nas concentrações.
Este é pelas que sabe todo o abecedário do consentimento
Porém nunca são capazes de articular um "não".
Pelas que ficam paralisadas de medo diante de uma agressão e não podem nunca ajudar a vítima
Sobretudo quando as vítimas são elas mesmas
Pelas que não podem sonhar em fazer sua a noite
Porque não é seu nem o seu corpo.
Este é pelas que não sabem distinguir entre medo inculcado e seus transtornos paranoides.
Este é pelas que não sabem distinguir entre suas paranoias e as micro-agressões
Este é pelas que querem sonhar com o futuro distinto porém estão demasiado ocupadas tendo
alucinações.
Este é pelas que ouvem que a monogamia vai acabar e tem impulsos suicidas apenas por suas amigas falem com outras meninas.
Este é pelas que vem listado seus sintomas em todas as listas de maus tratos
Pelas que temem ser inerentemente tóxicas.
Este é pelas que querem reverter o sistema e tem medo de ruídos fortes.
Este é pelas que participam de reuniões executando repetições obsessivas e compulsões manuais
Por aquelas que nunca participam pelo mesmo motivos.
Este é pelas esquizofrênicas que vem sua enfermidade convertida em uma estética "antissistema"
Este é pelas loucas controladas que ouvem falar desse "louco" controlador
Pelas psicopatas maltratadas cuja enfermidade é tratada como um insulto chamado "abusador".
Pelas sobreviventes que buscam espaços arco-íris e só encontram festas e
conversas sobre sexo.
Pelas sobreviventes que em nada acreditam porque
sua parceira do mesmo sexo as agrediu
Pelas sobreviventes que tem que se ver cara a cara com seus agressores e maltratadores em espaços
"liberados".
Este é pelas que sofrem abusos, inclusive sexuais, nas mãos de irmão, amigos, parceiros e psiquiatras e que amplificam a tragédia de que, por ser louca, ninguém acredita.
Este é pelas que que querem que o poder seja para o povo
Porém não são capazes de estar rodeado por este povo.
Este é pelas que sofrem maus tratos.
Porém ninguém chama por esse nome porque é "só" psicológico
Mesmo quando estes são os golpes que deixam as piores cicatrizes.
Este é pelas que não são maltratadas por seus parceiros e família
Porém ninguém parece entender que um amigo também pode se muito mais que tóxico.
Este é pelas que querem mudar a realidade
Porém não distinguem bem onde ela acaba
E onde começa a enfermidade.
Este é pelas que querem despertar aos alienados
E às vezes se perguntam se não será porque elas nunca conseguem dormir.
Este é pelas que não permitem que as defina seu reflexo em nenhum espelho
Porém há muito não são capazes de se mirar neles.
Este é pelas que não se reconhecem nos espelhos.
Este é pelas que roem as unhas, que arrancam a pele, o cabelo
Pelas que levam as marcas da doença mental gravadas fisicamente no corpo.
Este é pelas que se ferem sem necessidade do fio de uma navalha
Pelas que usam fogo, a boca, os punhos
Pelas que não necessitam mergulhar na física para fazer-se sangrar.
Este é pelas autistas que não encontram nem um só manual de relações saudáveis, de sexo com
consentimento
Que inclua suas formas de comunicação.
Este é pelas que cheiram mal, pelas de cabelo oleoso, pelas de mal hálito por causa dos dentes sem escovar durante dias
Pelas que não podem nem se banhar.
Este é pelas que sabem que tem esterilizado a força das mulheres por ser como elas
E, no entanto a sua luta como doentes mentais é considerada de "segunda".
Este é pelas que lutam através da Internet
Porque não o podem fazer na rua.
Este é pela que nunca poderiam sair à rua.
Este é por nós todas, porque somos tudo: não só válidas como valiosas, tão
importantes, vitais e cruciais como a mais cordata e a mais saudável.
Porque esta também é nossa luta, e duplamente, porque além de sermos mulheres e estarmos doentes
e isso já é o suficiente para mandar-nos calar tanto dentro quanto fora.
Porém viemos carregadas de palavras, e às loucas faz muito bem gritar.
quarta-feira, 7 de setembro de 2016
rol de lavadeira
"mandei caiá meu sobrado
mandei, mandei, mandei
mandei caiá de amarelo
caiei,caiei,caiei "
um pássaro invisível
pousado no ombro
assopra tristes canções à lavadeira
ela canta e reconta o rol
que lhe valerá a janta
pedras esbranquiçadas
das pancadas dos panos
alvos como um menino e um cachorro
quarando a fome à margem do rio
'Rol de lavadeira'
tabela de madeira recortada e entalhada, proveniente de um convento de Lisboa, século XVIII
mandei, mandei, mandei
mandei caiá de amarelo
caiei,caiei,caiei "
um pássaro invisível
pousado no ombro
assopra tristes canções à lavadeira
ela canta e reconta o rol
que lhe valerá a janta
pedras esbranquiçadas
das pancadas dos panos
alvos como um menino e um cachorro
quarando a fome à margem do rio
'Rol de lavadeira'
tabela de madeira recortada e entalhada, proveniente de um convento de Lisboa, século XVIII
algumas circunstância cheiram a agora
o sol
o pó
o caos
um cosmo
a luz de setembro dando a volta pelos poros da casa esta manhã
o pó
o caos
um cosmo
a luz de setembro dando a volta pelos poros da casa esta manhã
você vai procurar horas por pontos de fuga
uma dor lancinante no ombro
palavras negociando uma falta
"desejo não é falta" ele disse
potente, músculos fortes
pernas grandes
pés enormes
pés enormes
e nenhuma estrada
O quê espero do amor
ainda não tem nome
coração esta carne
imaginária que em nós
poetas, insiste em funcionar
como interruptor
sábado, 3 de setembro de 2016
desertora
oh, hatherly
a despeito do meu nome, norma
sou títere falante
estou contigo
the language of being is wordless
o vento arranca-me as roupas
mas não espalha as sombras
deixadas pelas balas que arrancam olhos
fábrica de guerra
simulacro de paz
veja como choro, ana
queria dormir mas não posso
o amor
e a vida
pulsa intenso entre minhas costelas
de onde você está, ana
já pode ver
se sou eu que vou ficar
para enterrar os corpos?
sou alérgica a pólvora na pele dos mortos
se fosse rápido
eu queria ir primeiro
a despeito do meu nome, norma
sou títere falante
estou contigo
the language of being is wordless
o vento arranca-me as roupas
mas não espalha as sombras
deixadas pelas balas que arrancam olhos
fábrica de guerra
simulacro de paz
veja como choro, ana
queria dormir mas não posso
o amor
e a vida
pulsa intenso entre minhas costelas
de onde você está, ana
já pode ver
se sou eu que vou ficar
para enterrar os corpos?
sou alérgica a pólvora na pele dos mortos
se fosse rápido
eu queria ir primeiro
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