domingo, 31 de julho de 2016

frenesi

se hormônio
ou paixão
sei não

sei que sonhei a noite inteira
eu de lingerie vermelha
presa em sua teia
entregue a devassidão

na vigília do dia
nenhuma biologia
serenou o latejar 
das entranhas

que sanha!


sábado, 30 de julho de 2016

hodierno

cada dia menos palavras de desculpas
cada dia menos palavras
cada dia menos
cada dia
um dia

segunda-feira, 25 de julho de 2016

se duvidar

se você duvidar de meu lirismo prosaico 
levo a palavra em praça pública amarrada pelo maxilar
rebento versos em louvor a desordem e se duvidar
escrevo estrofes que não valham nem para cadarços e se duvidar 
desmascaro a falta de sentido de tsunamis, guerras, desemprego 

e a distribuição injusta da riqueza e se duvidar
denuncio os gritos da barbárie escondidos sob 
as paredes cinzas da avenida paulista e se duvidar 
adio os simulacros de alegria só para assistir de camarote 
você caminhar de mãos dadas com a dúvida sem resposta 
comum a todos os improdutivos filhos do medo

terça-feira, 12 de julho de 2016

notas de ressentimento

_minha cara
quero pedir-te uma coisa
não se mate de novo
[como é o seu costume]

_ e o que faço com a cobra 
que morde minha nuca
e sussurra "és a pior de todas"?

_ o silêncio: é preciso ser forte
e cultivar o silêncio
esculpir sentimentos sem palavras

_ desde a visão daqueles homens 
sem casa na calçada 
um talho aberto no corpo da cidade
trago os olhos cristalizados pela dor

_ pois tente admirar 
os pés de pássaros no quintal
o jardim secreto escondido na alma

_ lágrimas correm no meu rosto
tal qual sementes secas caindo
não me  reconheço no espelho

_ caríssima, esqueceste de cuidar
que és sua melhor amiga
e chora diante do prato cheio
alimentando esta fome recorrente

_ amigo, posso me apoiar só por hoje
em vossa fé no mundo?
amanhã me levanto, eu juro
e faço sozinha a colheita

quinta-feira, 7 de julho de 2016

perdi a poesia

vejam só, era um poema
um velho saudoso elogia
uma colegial
sua pela clara

perfume de maçã

Ela lê um compendio de inglês
e molha o bolo no pingado
num café de periferia

ela não o nota
ele é invisível 
como são os velhos
para as escolares

tão nostálgico
e eu só consegui pensar
"velho safado!"

inspirado no poema de  António Manuel Couto Viana (1923 – 2010) in As escadas não têm degraus, nº4 (Cotovia, 1991)

Um palácio de cera- Kishwar Naheed

traduzindo do espanhol de Ximena Londoño


Antes de me casar
minha mãe costumava
ter pesadelos.
Seus gritos de terror
me estremeciam.
Eu a despertava
para perguntar-:
“O que foi?”
Com os olhos em branco,
ela me olhava fixamente.
Não podia recordar seus sonhos.

Uma noite um pesadelo a despertou,
mas ela no proferiu nenhum grito.
Eu perguntei:
“O que foi?”
Me abraçou com força, com temor silencioso.
Abriu os olhos e deu graças aos céus.
“Sonhei que afogavas”, me disse,
“E eu me joguei ao rio para te salvar.”

Essa noite, um relâmpago
matou nosso búfalo e a meu noivo.

*

Então, uma noite, minha mãe adormeceu
e eu permaneci desperta
observando como abria e cerrava os punhos.
Tentando tomar posse de algo.
sem conseguir e tentando de novo.

Eu a acordei,
porém ela se recusou a contar-me o sonho.

Desde esse dia
não pude dormir tranquila.
E me mudei para outra casa.

Agora ambas gritamos
em nossos pesadelos.

E se alguém pergunta
simplemente dizemos
que não podemos recordar nosso sonhos 

terça-feira, 5 de julho de 2016