Ser o que sou no meu tempo é viver numa espécie de fenda, um vácuo onde ficam os transparentes, os despertencentes. A despeito de minhas descobertas acerca da importância de ser invisível para escapar à máquina do mercado, não consegui viver assim. Quero ser vista, re-conhecida.
O olho do outro é um espelho, um termômetro que me conta se mergulhei ou não no mundo de ficção que é a minha imaginação. E é também o olho do outro que, de fora, confirma a minha feiura, minha beleza. Olhos não miram para dentro.
Mas venho aprendendo a escutar. Escuta sensível. Com isso tenho visto que diante do outro é preciso escavar vestes, pelos, peles até chegar debaixo do avatar que todo mundo usa para sobreviver. No fundo todos se travestem para serem amados e respeitados. Há quem tenha aprendido a pedir. Outros sacam de conquistar. Mas há, infelizmente, quem queira ganhar no grito.
E debaixo desse avatar, o que sobra? Sobra a voz. Não o grito, a voz, essa massa sonora. É com a voz que quero tocar e ser tocada. Com ela o barato é de perto, cara a cara, não há fuga. E onde desfilo todo dia minha figura, a voz é usada para espalhar poesia, essa musa.
NSL
24/05/15
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