quinta-feira, 3 de outubro de 2013

buracos




















em fileira caminham 
com seu buracos
uns tapam-nos
outros conversam
alguns choram neles

lá vem ela
a terceira da fila
não gosta
mas é íntima 
do seu buraco no plexo
cultivado por quatro décadas 

nela 
o furo tem o tamanho exato
do amor que lhe negou
o pai que partiu
a mãe e a avó 
e uma meia dúzia de amantes

um dia deu com o pai 
de bicicleta no portão
pensou consigo
"voltou a argamassa
que fecha essa brecha"

mas como, se ele trazia 
uma imensa frincha no peito?
tanto ela chorou  
que a dor que latejava no furo
passou a doer nos olhos

ninguém quer saber
mas lá vai ela
engrossando a fileira dos vazados
caminhando e conversando 
com seu seu buraco
enfeitado de flores

N.S.L
03/10/13

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